No início do mês, Elon Musk finalmente passou o bastão do Twitter a uma nova CEO, Linda Yaccarino, para grande alívio da equipe da empresa e de 57,5% dos usuários da rede social que votaram pela renúncia de Musk em uma enquete feita por ele mesmo.
Durante seu turbulento reinado como CEO do Twitter, o executivo-chefe da Tesla cortou 75% dos funcionários da rede social, implementou mudanças abruptas nas políticas e agia com troll com usuários da plataforma. Musk parece exibir várias das características regularmente associadas aos psicopatas: charme superficial, comportamento que entra em conflito com as normas sociais e falta de empatia e remorso.
Mas isso não é novidade. A ligação entre a liderança no mundo corporativo e a psicopatia não-violenta é amplamente reconhecida. Esse tipo de líder é predominante na cultura pop, como o personagem Logan, chefe da família Roy na aclamada série da HBO “Sucession”.
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Psicopatas podem ser atraídos para cargos de liderança porque esse posto lhes dá controle sobre as pessoas. Esses chamados “psicopatas de sucesso” exibem características amplamente associadas à liderança eficaz, como ser assertivo, criativo e charmoso.
Então você precisa ter tendências psicopatas para ser um CEO de sucesso? Não, de acordo com uma nova pesquisa da Universidade de Economia e Negócios de Viena (WU Viena).
Tendências maquiavélicas
Avaliações aprofundadas de seis CEOs que estiveram envolvidos em alguns dos maiores escândalos de negócios das últimas décadas mostram que nenhum desses líderes preencheu os critérios diagnósticos para psicopatia. O estudo usou a ferramenta de avaliação psicológica Psychopathy Checklist-Revised (PLC-R) para avaliar os traços de personalidade do CEO e ver como eles se alinhavam. “As pontuações dos CEOs estão todas acima da média da população – mas abaixo do limiar de diagnóstico para a psicopatia”, diz Günther K. Stahl, da WU Viena.
A pesquisa, que estudou os CEOs Richard Fuld, que liderou o banco Lehman Brothers, Thomas Middelhoff, da antiga holding alemã Arcandor, e Jeffrey Skilling, da empresa de energia americana Enron, fechada em 2007, descobriu, no entanto, que todos eles tinham tendências maquiavélicas pronunciadas, como a tendência de manipular, trapacear e mentir.
Dois CEOs apresentaram traços narcisistas, desde sentimentos de grandiosidade e desejo de serem constantemente elogiados e admirados, até uma incapacidade de lidar com críticas.
Autoconfiança e narcisismo – a chave para ser um bom CEO?
Na verdade, indivíduos com personalidade altamente narcisista avançam para postos de alta liderança mais rapidamente do que os que não têm esses traços de personalidade, mostram estudos. Indivíduos narcisistas têm grau elevado de autoconfiança e são extremamente egocêntricos, com pensamentos e padrões de comportamento arrogantes.
Elon Musk, apesar de suas falhas no Twitter, teve um tremendo sucesso comercial como CEO e fundador da SpaceX e líder da Tesla. Isso se deve, pelo menos em parte, à sua confiança e alto nível de autoestima.
A cultura das empresas está corrompendo os executivos?
Quaisquer tendências comportamentais “ruins” dos CEOs foram limitadas à esfera profissional, descobriram os pesquisadores da WU Vienna. “Isso exclui o diagnóstico de transtorno de personalidade e levanta a questão de qual papel a empresa desempenha em trazer à tona traços sombrios de personalidade nem seus executivos”, diz o professor Stahl.
As descobertas sugerem que sistemas de governança corporativa falhos e uma “infraestrutura ética” fraca também contribuíram para os escândalos. Stahl enxerga a corrupção como um problema sistêmico que envolve gestores, empresas, legislação e regulamentação.
Então, uma falha no “sistema” das empresas pode ser a verdadeira culpada por esses “psicopatas do C-Level”?
Uma análise mais profunda das infraestruturas éticas das seis empresas antes e no início dos mandatos desses CEOs mostrou que havia várias coisas que poderiam ter contribuído para essas tendências comportamentais:
- Governança interna ineficaz;
- Sistemas de incentivos falhos;
- Falta de regras de conduta;
- Culturas corporativas disfuncionais;
- Uma forte pressão para aceitar o que a liderança determina.
Isso sugere uma correlação entre a personalidade de um CEO e a infraestrutura ética de sua empresa. Embora uma empresa possa ajudar a trazer à tona tendências machistas e psicopatas, também pode haver um efeito inverso: líderes com essa mentalidade podem enfraquecer a infraestrutura ética da empresa, tornando-a mais vulnerável à má conduta. “A falta de infraestrutura ética pode encorajar os CEOs a deixar que essas tendências influenciem seu comportamento”, diz Stahl.
*Matt Symonds é colaborador da Forbes USA. Ele é cofundador de escolas de negócios e plataformas universitárias, além de autor e também já foi editor do ranking das melhores universidades do mundo QS World.
(traduzido por Fernanda de Almeida)