Quem passeia por um shopping center no Brasil quase sempre se depara com alguma das 724 unidades dos diferentes negócios de Jae Ho Lee, que estão presentes em 600 dos 628 shoppings do país. Sul-coreano criado no Brasil, o empreendedor em série faturou R$ 785 milhões em 2022 e prevê um faturamento de R$ 900 milhões este ano, com 10 empresas distintas – de redes de restaurantes como Montana Grill e Grilleto à marca de acessórios Morana.
O empresário chegou ao Brasil com a família aos oito anos, em 1972, e virou referência em franquias. Hoje, está à frente do Grupo Ornatus, fundado em 1992 e que controla as marcas Morana, Balonê, de bijuterias, e Love Brands, dona da Imaginarium e Puket. Ele também é sócio e conselheiro do Grupo Halipar, holding que comanda as franquias Griletto, Montana Grill, Jin Jin e Croasonho. “Muitos negócios de sucesso adotam a franquia como uma estratégia de expansão, mas no meu caso foi exatamente o contrário”, afirma.
Lee conheceu o franchise na década de 1980, na USP (Universidade de São Paulo), e apostou que o modelo teria sucesso em um país com dimensões continentais como o Brasil. “Depois fui pensar em um negócio para montar e ser franqueado”, completa.
Ele também se tornou recentemente proprietário do restaurante japonês Little Tokyo, que abriu em 2022 em Pinheiros, da plataforma BnbGuests, que facilita a administração e gestão de casas de luxo listadas no Airbnb e da fábrica de embalagens AGISET.
Em entrevista à Forbes, ele fala sobre sua jornada e deixa as principais lições de empreendedorismo e liderança que aprendeu ao longo dessa trajetória.
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Dicas de carreira de Jae Ho Lee
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Getty Images Disciplina
“Por ser oriental e ter crescido no Brasil, essa mistura das duas culturas me trouxe a questão da disciplina e foco do oriental. Isso é muito forte para mim, apesar de ter vindo para cá ainda criança. E também acabei desenvolvendo competências do lado latino, brasileiro, de ter jogo de cintura e boa comunicação, que me ajudaram muito.”
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Getty Images Investir em educação
“Meus pais investiram muito na minha educação. Fiz Colégio Bandeirantes, administração de empresas na USP, MBA na área de marketing. Essa preparação faz toda a diferença porque a minha formação de marketing trouxe uma visão de mercado, que acaba dirigindo as diretrizes como investidor.”
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Getty Images Observar e aproveitar oportunidades
“Pelas características do nosso país, temos muitos empreendedores. Criei empreendimentos em série e aprendi a ver a necessidade e oportunidade onde algum player não oferecia um serviço ou produto com uma certa qualidade. E também nos gaps do mercado com as mudanças de comportamento dos consumidores demandando novos produtos.”
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Getty Images DNA de imigrante
“O fato de ser imigrante traz um DNA diferente. Uma família ou pessoa que larga seu país, seus amigos para assumir desafios em outros lugares, com uma nova cultura, uma nova língua, tem um DNA diferente. Não é nem questão de nacionalidade, mas o fato de ser imigrante. A gente levanta, vai e faz acontecer. Porque nós não temos família aqui, não tem muita acomodação, então a gente tem muito foco de realizar nossos sonhos e fazer dar certo num país estrangeiro.”
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Getty Images Analisar o mercado
“Muitos negócios de sucesso adotam a franquia como uma estratégia de expansão, mas no meu caso foi exatamente o contrário. Conheci o franchise na USP na década de 1980 e apostei que era um sistema que fazia muito sentido no nosso país. Depois, fui montar um modelo de negócio para ser franqueado. Resolvi trabalhar com fast food, inspirado pelo McDonald’s que era uma referência na década de 1990.”
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Getty Images De olho em escalar
“Quando falamos de franquia falamos de escala. O modelo de negócio precisa ser bem sucedido em mercados diferentes, de São Paulo e Minas Gerais a Pernambuco, com a diversidade que o Brasil impõe. O produto não pode ter rejeição, então acabei optando por comida chinesa e italiana, já que já havia grandes players de pizza e hambúrguer no mercado. A ideia era buscar um produto com aceitação grande e democrático, com possibilidade de escalar e de olho na tendência dos consumidores de buscar preço e agilidade no atendimento. Com o tempo, deixamos de lado a italiana e investimos na japonesa, que começou a ter uma aceitação mais global.”
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Importância das alianças
“Há 7 anos fizemos uma fusão da JinJin, de culinária asiática, com o sócio da Griletto, que comprou a rede Montana Grill, e depois fizemos aquisição da rede do sul Croasonho. A gente não constrói nada sozinho, hoje são 380 lojas dentro do Grupo Halipar e a gente está sempre fazendo uma aliança estratégica. O franqueado é um parceiro estratégico ‘vertical’, ele traz conhecimento de mercado e a gente da marca. Nós desenvolvemos a estratégia e o franqueado fica com ações mais operacionais. Na holding fizemos uma estratégia mais ‘horizontal’, com uma fusão que buscava escala.”
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Getty Images Entender quem é o público
“Cada empreendedor precisa entender quem é o seu público. Nós temos diversas redes, mais democráticas, que não estão presentes em shoppings. Chiquinho Sorvetes, por exemplo, é uma rede forte, mas que não tem uma presença tão grande em shoppings. Nós focamos na classe B, em um público de shopping, mais qualificado, que busca moda e alimentação. Hoje estamos em cerca de 600 shoppings centers no Brasil. Mas isso não quer dizer que essa seja a única estratégia. Já estamos em cidades menores, temos Morana em Santana do Livramento, Paracatu, cidades com 50 mil habitantes.”
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Getty Images Explorar o mercado nacional
“O Brasil tem quase 5.500 municípios, a gente consegue explorar bem. Isso é um ponto contra a internacionalização da nossa marca. Conheci alguns grupos no Panamá e na Guatemala que têm 200 lojas em 20 países, mas nós temos 20 países aqui no Brasil, então dá pra ter 200, 300 lojas no mesmo país. O mercado inteiro é muito grande, dá para expandir e crescer muito antes de buscar internacionalização. Mas as marcas brasileiras também precisam ter uma cabeça um pouco mais global para explorar outros mercados além do Brasil, com as várias oportunidades que temos na América Latina.”
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Getty Images Formar uma boa equipe
“No fim do dia, atrás de todo franqueado, todo parceiro estratégico, tem as pessoas. Atrás de cada CNPJ tem o CPF, então o alinhamento dos valores é fundamental. E para você ter um bom time, com cultura e valores convergentes, leva no mínimo de 5 a 10 anos. Nossa equipe tem colaboradores que estão comigo há 15, 20, 30 anos. Eu sempre cito os três pilares do professor Falconi [consultor de gestão brasileiro] do que alicerça o sucesso. Tem que ter conhecimento técnico em relação às especificidades do seu setor, conhecimento de gestão e o terceiro pilar, que não é exato e não se compra com dinheiro, é a liderança: buscar resultados através do seu time, que os resultados aconteçam através dos colaboradores e franqueados.”
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Líder precisa de humildade
“Estou com 59 anos, meu irmão mais velho é meu sócio e eu sempre brinco que nós fomos grandes jogadores, mas tivemos nosso tempo. Mas você pode participar do jogo de diversas maneiras, não é só correndo os 90 minutos dentro de campo. Nós podemos assumir a posição de técnico ou podemos até ser dirigentes do clube. O objetivo é reconhecer nossas limitações nos desafios atuais. Agora no mundo digital eu sou imigrante novamente, então nesse contexto nada mais inteligente do que contar com colaboradores que sejam nativos digitais e mais preparados do que eu. Nossas competências não crescem na velocidade que cresce a necessidade de adaptação que o mundo imprime. Tudo que a gente recebe de informação todos os dias cresce de uma maneira exponencial e nossa capacidade de acompanhar é em progressão aritmética, então acaba aparecendo essa boca do jacaré, a gente se frustra e coloca nosso negócio em risco. O primeiro passo é olhar para dentro, entender suas competências e seus limites e ter humildade de deixar uma equipe melhor que você.”
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Getty Images Treinar como Bernardinho
“Não tem atalho ou segredo para o sucesso. É olhar muito para onde o mundo está indo e ter muita disciplina e foco. O Bernardinho, técnico de vôlei, é uma grande referência para mim porque ele sempre focou muito no treino. Ele sempre falava ‘sangrar no treino para não chorar no jogo’. Tem muitos projetos que não dão certo, e faz parte, mas se você treinou bastante, o bom resultado vai ser uma consequência.”
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Getty Images Preparação para o mundo volátil
“O mundo muda muito, não tem como prever. A complexidade significa que não tem receita pronta, não tem resultado esperado. O foco é na preparação e em entender de autoconhecimento e da sua vocação, porque nem sempre o que funcionou para mim vai funcionar para você. Não importa o que você faça, você tem que fazer muito bem feito para realmente ter uma diferença competitiva. Hoje, tudo que você faz tem alguém fazendo mais barato ou melhor que você. Então para você ser o melhor, você tem que estar apaixonado por aquilo para poder fazer isso diversas vezes e se tornar o melhor.”
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Getty Images Foco na capacidade de execução
“Não adianta ter grandes ideias. É preciso focar na preparação para poder realmente enxergar as oportunidades e executar um eventual projeto. As pessoas falham muito na execução porque ideia você tem de monte, mas precisa de capacidade de execução com qualidade e assertividade.”
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Curtir a jornada
“Empreendedor nunca tem aquele pico que a gente chega e coloca a bandeira. A gente curte a jornada, não para nunca, acho que está muito no nosso DNA de insatisfação. Estou sempre olhando onde eu sou mal servido, onde eu não sou servido e vejo uma oportunidade de empreender e tirar as dores das pessoas. Não é nem dinheiro, não é meta batida, é com a jornada que a gente se diverte e é o que nos tira todos os dias da cama.”
Disciplina
“Por ser oriental e ter crescido no Brasil, essa mistura das duas culturas me trouxe a questão da disciplina e foco do oriental. Isso é muito forte para mim, apesar de ter vindo para cá ainda criança. E também acabei desenvolvendo competências do lado latino, brasileiro, de ter jogo de cintura e boa comunicação, que me ajudaram muito.”