Deh Bastos é uma daquelas profissionais que está em todos os lugares. Fez uma carreira em publicidade, criou uma plataforma antirracista, entrou para o Conselhão da presidência e tem um grupo de networking de mulheres pretas em posições de liderança. Em agosto, deixou a agência Publicis para ir para a MAP, onde é sócia e diretora executiva de criação, e ajuda a cuidar da carreira de artistas como Anitta, Regina Casé e Silva. “Quando entendi que poderia fazer pontes entre o lugar de onde vim e o mercado ou pessoas que vivem outras realidades, foi um turning point na minha carreira.”
Esse “de onde vim” tem a ver com ser uma mulher preta, ter crescido na periferia de São Paulo e ter vivido uma realidade diferente de boa parte das pessoas que ocupam cadeiras como a sua. Mas, ao mesmo tempo, abre portas para dialogar com a diversidade que o mercado busca hoje. “Vi minha carreira acelerar 10 anos nos últimos 4 porque o mercado percebeu que a diversidade é importante.”
Bastos ainda é fundadora da plataforma Criando Crianças Pretas, que difunde informação antirracista para cuidadores e sociedade, e desde março deste ano passou a fazer parte do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável do governo federal, o tal Conselhão, que reúne nomes importantes do mercado para opinar sobre políticas públicas.
Aqui, ela conta um pouco mais sobre o que é importante em sua área de atuação e o que faz diferença na carreira hoje.
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O C-Suite desta semana também traz movimentações nos setores de tecnologia, finanças e varejo. Bruno Rocha é o novo country head da empresa de serviços de TI e consultoria TCS, Tatiana Silva foi promovida a CFO do Banco Mercedes-Benz, e Flávia Buarque, CEO da Península Participações, é a nova membro do conselho de administração do Carrefour.
Forbes: Quais habilidades foram mais importantes para desenvolver no começo da sua carreira que tiveram papel fundamental para sua ascensão?
Deh Bastos: Sem dúvida nenhuma, saber aonde eu queria chegar. Não necessariamente qual o cargo que eu queria ter, mas o que eu queria fazer. Era muito importante saber em que núcleo profissional eu queria estar, que tipo de trabalho eu queria produzir para o mundo. Isso eu sempre soube. E construir uma estratégia periférica para isso. Eu percebi, muito cedo, que eu não iria alcançar o núcleo. Fiz infinitas entrevistas de estágios e por motivos óbvios, nunca consegui um. Parei pra pensar quais eram as “empresas” que forneciam para as agências e cheguei nas produtoras. Ali eu consegui espaço.
Ou seja, se eu queria algo para dali 10 anos, o que que eu poderia fazer naquele momento que iria colaborar para essa essa chegada? Então eu fui fazendo pelas bordas, pela periferia, até chegar no núcleo. Eu sempre quis trabalhar com publicidade, com criação. Então eu fui fazendo produção audiovisual, de produção passei a fazer roteiro, de roteiro passei para redação e de redação passei a fazer conteúdo. Daí cheguei à criação, que é onde eu queria estar. Foi uma estratégia que ajudou muito.
F: O que é importante na área de comunicação hoje?
DB: Acho que é não ter a certeza absoluta das coisas. A gente vive tempos muito polarizados, de informações muito rasas, muito superficiais. Ao mesmo tempo que a internet traz democratização da informação, trouxe acesso muito fácil à informação. E a gente perdeu aquela busca de algo mais profundo, ficou tudo muito raso. As pessoas acham que sabem tudo, mas é de uma forma muito superficial. Então, se você quer trabalhar na área da comunicação, não cultive certezas absolutas.
F: Qual é a importância da escuta nesse cenário?
DB: Enorme. É importante você ouvir tudo, ouvir todo mundo. E não ter muita certeza do que vai vir, nem achar que sabe o que o outro quer ouvir quando se trata de comunicação. Isso é o que chamo de fazer o básico. A escuta faz parte do básico bem feito. E isso é importante hoje porque as pessoas se perdem na complexidade do mundo e esquecem do basicão.
F: Falando em fazer o básico, o que você busca ao contratar um profissional?
DB: De novo, a gente vive um um tempo de excesso, né? É tanta coisa, tanta gente, tanta informação que as pessoas não sabem o que fazer, não sabem o que entregar. Então eu espero gente comprometida com o básico. Se o profissional está comprometido em fazer bem esse básico, é capaz de qualquer outro tipo de entrega. Aí pode partir para entregas mais criativas, entregas propositivas… O óbvio é o mais difícil. O básico é o mais difícil.
F: O que você faz para continuar relevante?
DB: É difícil falar isso sem parecer prepotente, né? Eu não sei se eu sou relevante. Eu sei que eu estou muito atenta para diálogos. Eu acho que tudo é fluido. Não tenho nenhum problema em falar das minhas vulnerabilidades, de dizer que estou com medo, de dizer que eu não tenho certeza, que estou aprendendo e de provocar as pessoas para pensar fora do senso comum.
Outra coisa é que tento sempre olhar para uma maneira simples de fazer. Eu tento tirar a complexidade das coisas e das relações para produzir de uma forma mais simples e objetiva. Faço um constante esforço para manter a simplicidade e acho que isso contribui para ser relevante hoje.
F: Qual foi o impacto de ser uma mulher preta na sua trajetória profissional?
DB: Primeiro, pela dificuldade de acesso. Tudo foi muito mais difícil: a educação, as oportunidades. Então tudo demorou muito mais. A gente só pode sonhar com o que vê, mesmo que muito longe Eu sou uma mulher, mãe, preta, gorda e que nasceu na quebrada.. Eu sou o terror das estatísticas e eu sou boa no que eu faço, sou criativa, eu sou boa me relacionando com as pessoas, sou focada nos resultados e de onde eu vim tem gente muito, mas muito melhor que eu nisso… Mas essas pessoas precisam ver alguém que chegou do outro lado, pra continuar caminhando.
E eu não consigo deixar de ser uma mulher preta para ser uma executiva. Então essas coisas atravessam o meu trabalho, atravessam o que eu crio, atravessam o que a minha caneta assina, né?
F: Hoje tem algumas empresas no mercado disputando os melhores profissionais pretos. Isso influenciou sua carreira?
DB: A visibilidade veio com muito mais esforço, chegou muito depois do que para para muita gente que estava acima de mim nessa pirâmide social. Ao mesmo tempo, nos últimos cinco anos virou uma necessidade do mercado. Aí eu pude acelerar e aproveitar esse tempo. Em três, quatro anos, vivi dez.
E, ao mesmo tempo, eu preciso fazer isso ponderando sobre o lugar onde estou, onde atuo, o mercado, os resultados, as pessoas com quem eu me relaciono. É um grande equilíbrio de pratinhos para que essas vozes sejam ouvidas. Essas vozes das mulheres, das pessoas pretas. Há conversas importantes acontecendo e, ao mesmo tempo, tem muita coisa para eu aprender também.
F: Qual foi o turning point da sua carreira?
DB: Parece clichê, mas é muito real. O turning point foi quando eu descobri que podia ser ponte em vez de ser um muro. Quando eu descobri que, do lugar de onde venho para o lugar aonde quero ir, existe um abismo muito grande. E foi aí que comecei a circular nos espaços onde eu queria estar. E, olhando para trás, descobri que tem muita gente como eu que também queria estar nesse espaço. Percebi que podia pisar nesse chão e possibilitar que essas pessoas, que estavam do outro lado dessa ponte, conversassem comigo, pudessem ver possibilidades de lidar com as outras pessoas como eu, que vieram de onde eu vim. Quando eu descobri que eu podia ser a intermediária nessas conversas, traduzir assuntos complexos de uma forma simples, quando eu podia usar de verdade a comunicação para transformar as relações. Foi aí. Tenho uma grande amiga que diz que, entre salvar o mundo e ganhar dinheiro, a gente tem que ficar com as duas coisas. Sendo ponte, a gente pode salvar o mundo, a gente pode ganhar dinheiro, a gente pode fazer as coisas que a gente acredita.
Por quais empresas passou
MAP Brasil, Publicis, Theia, Grupo MKT+, Agência Mostra, Globo, Elevenmind, Supera Marketing Estratégico, Cinerama Brasilis, CDLRio – Clube de Diretores Lojistas do Rio de Janeiro, Liq.
Formação
“Fiz metade da faculdade de turismo e depois me formei em comunicação social – publicidade e propaganda pela UNESA no Rio de Janeiro.”
Primeiro emprego
“Extra oficial? Vendia pão na garupa da bicicleta de uma amiga quando eu tinha sete anos. Oficial? Fui estagiária do CIEE como assistente de vendas do metrô de SP.”
Primeiro cargo de liderança
Supervisora na Contax em 2005.
Tempo de carreira
20 anos
Veja, abaixo, outras movimentações C-Level que ocorreram nos últimos 15 dias.
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A TCS (Tata Consultancy Services), empresa global de serviços de TI, consultoria e soluções de negócios, anunciou o atual CFO, Bruno Rocha, que tem mais de 12 anos de empresa, como novo country head. Rocha desenvolveu sua carreira na ABB e na Brasil Telecom/Oi.
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Tatiana Silva é a nova CFO do banco Mercedes-Benz. A executiva, há 20 anos na instituição, era diretora de operações, e assume no lugar de Diego Novellino, que retorna à Argentina, seu país natal, onde assume o cargo regional de suporte à matriz da DTFS (Daimler Truck Financial Services).
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Flávia Buarque, CEO da Península Participações, é a mais nova membro do Conselho Administrativo do Grupo Carrefour Brasil. O board agora é composto por quase 40% de mulheres – cinco entre os 13 membros do colegiado.
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A General Mills, multinacional de alimentos dona das marcas Yoki, Kitano e Häagen-Dazs, anuncia a chegada de Tania Heck Trotta para liderar as áreas de operações, logística e atendimento ao cliente. Em mais de 21 anos de experiência no ramo, a executiva passou por empresas como Zoetis, Johnson&Johnson, Ferrero e Mars.
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Anúncio publicitário -
O publicitário Pedro Eustachio retornou à Africa Creative, assumindo o cargo de VP de mídia da agência. Eustachio começou sua carreira na Euro, foi para a Africa pela primeira vez em 2010, para o atendimento da Vale, e atuou também no Facebook.
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A brasileira Ana Julia Ghirello é a nova gerente geral de mercados em expansão e vice-presidente de parcerias globais da Storytel, empresa sueca de streaming de áudio. A executiva passou por grandes empresas como OLX, Telecine e HBO Max LatAm, somando mais de 15 anos de experiência em serviços por assinatura e marketplaces digitais.
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Fernanda Brunetta foi promovida a diretora sênior de aberturas e integrações da rede hoteleira Wyndham na América Latina. Com mais de 20 anos de carreira, a executiva está há mais de oito anos na companhia, e também já passou pelo Grupo Rio Quente.
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A Sodexo On-site anuncia Danielle Totti como vice-presidente de estratégia, marketing, comercial e performance no Brasil. Com mais de 20 anos de experiência em planejamento estratégico e desenvolvimento de negócios, a executiva atuou por quase 12 anos na Votorantim Cimentos.
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O executivo Flávio Monteiro, com mais de 20 anos de experiência no ramo hoteleiro, é o novo diretor-geral do Transamerica Resort Comandatuba. A última passagem do Flávio foi na Aviva, onde trabalhou por seis anos como diretor de operações. Foi responsável pela gestão dos resorts Rio Quente (GO), Costa do Sauípe (BA) e do parque Hot Park (GO). Ele iniciou sua carreira como recepcionista do Hotel Crowne Plaza, em São Paulo, e teve passagens por outras grandes empresas do setor.
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A Tetra Pak anuncia novas lideranças nas áreas industrial, de recursos humanos e relações governamentais. Salvador Marino, que desde 2015 dirige a fábrica da Tetra Pak em Monte Mor, em São Paulo, passa a ser também diretor da fábrica de Ponta Grossa, no Paraná. Roberta Silvestre assume a diretoria de recursos humanos e Brenda Rühle chega à Tetra Pak para a como líder de relações governamentais para Brasil e Cone Sul.
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A empresa de logística Maersk nomeou Antonio Dominguez como o novo presidente para a América Latina e Caribe. Dominguez é panamenho e é o primeiro latino-americano a ocupar o cargo. Ele tem mais de 28 anos de experiência no setor marítimo e de logística, onde ocupou cargos na América do Norte, Ásia, Europa e, mais amplamente, na América Latina e no Caribe. Antes de sua nomeação, ele liderou a equipe da América Central, Andina e Caribe.
A TCS (Tata Consultancy Services), empresa global de serviços de TI, consultoria e soluções de negócios, anunciou o atual CFO, Bruno Rocha, que tem mais de 12 anos de empresa, como novo country head. Rocha desenvolveu sua carreira na ABB e na Brasil Telecom/Oi.