Em um mercado de trabalho concorrido e em alta transformação, recrutadores estão de olho em profissionais com habilidades e características únicas que adquiriram por meio de experiências pessoais. Depois das soft skills, surgem as “mad skills”, habilidades “incríveis” ou “fora de série”, em português, que envolvem hobbies ou interesses pessoais e que fazem um profissional ser diferente e especial.
“Essas iniciativas são frutos de escolhas individuais e movidas pela paixão e interesse próprios. Por isso, pela ótica de um recrutador, elas podem dizer muito sobre a personalidade e os potenciais de um candidato”, diz Amanda Adami, gerente da Robert Half, empresa global de recrutamento.
Segundo a edição mais recente do Índice de Confiança da consultoria, que ouviu profissionais de RH, empregados e desempregados, 66% dos recrutadores valorizam essas habilidades ao analisar um candidato. E 17% reforçaram considerá-las importantes quando relacionadas ao setor ou atuação do candidato. A tendência ganhou relevância na Europa e já está sendo importada por empresas no Brasil.
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Isso significa que por trás de atividades relacionadas ao lazer, é possível identificar capacidades transferíveis para o dia a dia das funções de um profissional. “Alguém que faça teatro, por exemplo, pode ter facilidade para conduzir reuniões e apresentações. Um corredor de rua talvez apresente persistência e foco acima da média. Um fotógrafo amador tende a buscar soluções com mais criatividade e sensibilidade.”
Diferencial no processo seletivo
Suas experiências de vida e interesses pessoais podem dizer muito sobre sua personalidade e preparação para lidar com os desafios da rotina.
Em um mercado de trabalho competitivo, as mad skills podem servir como um diferencial no seu currículo, LinkedIn e até na entrevista de emprego.
Segundo os recrutadores, quando bem aproveitadas, atividades extraprofissionais podem trazer estas vantagens para um candidato:
- indicam equilíbrio entre trabalho e vida pessoal (64%)
- revelam um profissional com habilidades complementares (57%)
- mostram interesse em autodesenvolvimento fora do ambiente profissional (56%)
- humanizam o candidato, tornando-o mais interessante (51%)
- fornecem evidências de habilidades de liderança (43%)
Hard, soft e, agora, mad skills
De acordo com um relatório do Fórum Econômico Mundial com o apoio da Fundação Dom Cabral, 23% das ocupações devem se modificar até 2027.
Executivos acreditam que quase metade (49%) das competências da força de trabalho hoje não serão relevantes daqui a dois anos, segundo pesquisa recente da edX, plataforma de educação on-line fundada pelas universidades Harvard e MIT.
“As hard skills exigem retreinamento constante para se manter atualizado com a versão mais recente de soluções e ferramentas. O que faz a diferença nas habilidades dos funcionários são as soft skills”, diz Mike Howells, presidente de habilidades da força de trabalho da Pearson, citando como exemplos resolução de problemas e aprendizado pessoal, que mostram a vontade dos indivíduos de continuar crescendo e aprendendo ao longo da carreira.
Assim como as soft skills, as “mad skills” surgem, portanto, como uma possibilidade de se destacar em um mercado acirrado.
As soft skills mais valorizadas atualmente são:
- trabalho em equipe e colaboração (69%)
- resiliência e adaptabilidade (66%)
- pensamento crítico e capacidade de resolução de problemas (56%)
- comunicação clara e objetiva (53%)
- inteligência emocional (49%)
Mas atenção: elas não substituem as suas habilidades técnicas e é preciso continuar aprimorando os conhecimentos dentro da sua área. “Combinadas com sólidas bases técnicas e soft skills bem desenvolvidas, elas realçam autenticidade, paixão, dedicação e podem ser o fator que faz brilhar os olhos de empresas e recrutadores “, diz Adami.
Na visão dos profissionais
Segundo a pesquisa da Robert Half, esportes, viagens, gastronomia, artes e voluntariado representam as ações mais praticadas.
Entre os profissionais desempregados, 85% acreditam que esses hobbies vão ajudar na sua recolocação com:
- ampliação de rede de contatos profissionais (52%)
- demonstração de habilidades transferíveis para o ambiente profissional (42%)
- exploração de novas áreas de atuação profissional (35%)
- demonstração de comprometimento e dedicação fora do trabalho (29%)
- desenvolvimento de competências específicas que são escassas no mercado (26%)
Para os que estão empregados, as principais contribuições são:
- aumento da criatividade e pensamento inovador (66%)
- desenvolvimento da capacidade de lidar com desafios e adversidades (58%)
- aprimoramento das habilidades de comunicação (49%)
- favorecimento do aprendizado contínuo e curiosidade intelectual (48%)
- melhora das competências de trabalho em equipe (40%)
Veja como levar essas habilidades para a entrevista de emprego
Os recrutadores passam apenas alguns segundos olhando o seu currículo – ou deixam essa parte com a inteligência artificial – antes de decidirem se querem te entrevistar.
Para capturar a atenção deles, você precisa colocar sua personalidade no currículo e no LinkedIn, mas sem se estender. “Um CV excelente deve ter no máximo duas páginas. Portanto, foque naquilo que realmente faz sentido para as suas ambições profissionais. E aproveite a etapa de entrevistas para reforçar habilidades diferenciadas”, orienta Amanda Adami, gerente da Robert Half.
Seja você mesmo
A maioria das pessoas entra na sala de entrevista e imediatamente muda sua personalidade. A voz fica mais grave para parecer séria, a linguagem corporal fica rígida e pouco natural. Pensamos que temos que esconder nossa personalidade e agir como um robô corporativo para conseguir um emprego. Mas é totalmente o contrário. É claro que é preciso ter bom senso no que dizer e como se portar, mas ser engessado vai te deixar desconfortável durante a conversa e pode te custar a vaga. Além disso, os entrevistadores provavelmente já falaram ou ainda vão falar com muitos outros candidatos, o que significa que, para se destacar, você precisa se conectar com o entrevistador, mostrar sua personalidade e deixar que a quantidade certa de emoção e entusiasmo transpareça na sua voz, postura e até mesmo no seu look.
Compartilhe hobbies e interesses relevantes
Falar dos seus interesses e hobbies é uma oportunidade de mostrar sua personalidade e se conectar com o recrutador. “Quais são seus hobbies?”, inclusive, é uma das perguntas mais comuns em entrevistas de emprego.
Se possível, pense em como os seus interesses podem se relacionar à empresa ou à posição que você está buscando.
Alguns temas sobre os quais você pode falar são:
- Voluntariado
- Trabalho comunitário
- Podcasts e livros favoritos
- Esportes
- Fatos interessantes
Os interesses específicos que você inclui no seu currículo ou aborda durante a entrevista vão depender de quais aspectos da sua personalidade você quer destacar, bem como da empresa e da posição que está tentando conseguir.
Qual o limite das questões pessoais?
É preciso ter cuidado ao falar sobre questões e interesses pessoais, pois é muito fácil se distrair e cruzar os limites que o momento do recrutamento impõe. Muitas pessoas sentem a necessidade de trazer informações sobre tudo o que acham que o entrevistador precisa saber sobre elas, seu histórico e vida pessoal.
Mas é melhor deixar alguns temas de lado. Ao responder “quais os seus hobbies?”, evite abordar assuntos relacionados à religião, política, fofoca, vida amorosa (ou a falta dela), bebidas e festas. Seja cauteloso ao trazer assuntos familiares. Esses temas podem não ser atrativos para o seu possível novo chefe.
Também esteja atento em relação a perguntas invasivas dos recrutadores. Eles não podem te questionar sobre sua religião, estado civil, orientação sexual, situação familiar ou se você tem filhos. Se algum desses tópicos surgir, você está no seu direito de responder que preferiria não discutir esses aspectos da sua vida pessoal.
O seu objetivo ao falar sobre a sua vida pessoal durante uma entrevista é encontrar o equilíbrio certo. Você quer ser genuíno, mas sem exagerar, e, se tudo correr bem, as pessoas com as quais você está conversando vão conseguir ter uma boa compreensão da sua personalidade, o que pode te ajudar a conseguir o emprego.