Em um ano marcado por demissões em massa, incertezas econômicas e insegurança de investidores, as carreiras de muitos muitos pagaram o preço após anos fazendo dinheiro fácil. Entretanto, algumas trajetórias profissionais foram prejudicadas por motivos pessoais.
Uma figura política norte-americana, filho de brasileiros, George Santos finalmente conseguiu um emprego que há muito cobiçava e foi destituído do cargo em uma votação histórica menos de 10 meses depois.
Outros tiveram desempenhos desastrosos ou ações questionáveis, como os presidentes de algumas das melhores universidades dos EUA.
Essas e outras figuras poderosas compõem a lista anual da Forbes dos maiores desastres de carreira do ano – indivíduos que estão no topo ou em ascensão nas suas respectivas áreas, e cujas quedas de reputação destacam algumas das principais questões da atualidade.
Faltam alguns nomes familiares na lista, que já apareceram em edições passadas, como Sam Bankman-Fried, fundador da FTX, e Elon Musk, que teve um 2023 marcado por fracassos de liderança.
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Alguns dos nomes abaixo mancharam suas próprias reputações, enquanto outros não tiveram bons resultados por razões externas, como fraco desempenho empresarial, falta de confiança na própria liderança ou denúncias ainda não comprovadas.
Eles podem provar ser resilientes e encontrar sucesso em outro lugar, ou até mesmo recuperar a posição que ocupavam. Afinal, no fracasso há lições para o sucesso.
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Getty Images Conselho de administração da OpenAI
Primeiro, o conselho da OpenAI demitiu repentinamente o CEO Sam Altman por uma suposta falha em ser sincero nas suas declarações ao grupo, apenas um ano após o lançamento do ChatGPT. Isso provocou um êxodo de funcionários e um impasse com a Microsoft, o maior acionista da startup de IA, que anunciou que contrataria Altman.
Em poucos dias, Altman recuperou seu trono. Os perdedores: o conselho sem fins lucrativos de seis pessoas da OpenAI, que foi encarregado da difícil tarefa de garantir que sua tecnologia “beneficie toda a humanidade” enquanto Altman construía um negócio com investimento de US$ 13 bilhões da Microsoft. O facto de ele e o presidente, Greg Brockman, terem sido surpreendidos pela destituição do conselho foi a prova de uma falha de comunicação. Outro importante elemento do caos é que o cientista-chefe Ilya Sutskever ter destituído Altman e depois ter se arrependido publicamente.
Enquanto Tasha McCauley, da RAND Corporation, e Helen Toner, da Universidade de Georgetown, estão fora do conselho, o CEO do Quora, Adam D’Angelo, continua no grupo. Com o antigo secretário do Tesouro Larry Summers e o empresário Bret Taylor, esse “conselho inicial” de três homens está agora encarregado de construir um board diversificado que possa liderar a corrida pela inteligência artificial sem deixar as coisas darem errado.
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Getty Images Changpeng Zhao, fundador e ex-CEO da Binance
Changpeng Zhao levou a Binance de uma startup de US$ 15 milhões a uma exchange de criptomoedas gigante, responsável por US$ 5,3 trilhões em transações no ano passado, e deu a ele um patrimônio de US$ 65 bilhões. Ao longo do caminho, o engenheiro também construiu um imã para os lavadores de dinheiro, atraídos pelo fácil acesso e pela fraca supervisão do processo, segundo os reguladores. Isso acabou gerando acusações criminais, com Zhao se declarando culpado de violar as leis antilavagem de dinheiro dos EUA e a Binance concordando em pagar uma multa de US$ 4,3 bilhões para resolver as acusações com o Departamento de Justiça dos EUA.
Zhao também foi condenado a pagar US$ 150 milhões, com outros US$ 2,7 bilhões da Binance, para arquivar as acusações contra ele. Agora, o fundador da empresa deve retornar ao tribunal em fevereiro para receber a sentença por seus crimes. Embora ele tenha concordado em não apelar de qualquer sentença que lhe dê 18 meses ou menos de prisão, os promotores podem pedir um tempo maior de reclusão. Com uma plataforma que ainda processa bilhões de dólares em negociações cripto todos os dias, porém, Zhao continua sendo uma figura poderosa em um setor no qual as fortunas podem crescer e cair com uma velocidade meteórica.
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Getty Images George Santos, ex-deputado dos Estados Unidos
A eleição de George Santos, filho de brasileiros, para o Congresso norte-americano em novembro passado foi histórica. Mas seu lugar nos livros está agora garantido por razões muito diferentes. Alvo de 23 acusações federais nos EUA, foi expulso à força do cargo em 1º de dezembro deste ano, tornando-se o primeiro congressista a ser deposto sem condenação criminal. Suas mentiras são inúmeras – desde seu histórico de educação e sua trajetória profissional até suas propriedades imobiliárias, religião ou que sua mãe estava no World Trade Center nos atentados do 11 de setembro. Santos admitiu algumas mentiras, mas negou ter feito qualquer irregularidade. Até o momento, Santos está envolvido em negociações para confessar seus atos.
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Getty Images Greg Becker, ex-presidente e CEO do SVB Financial Group
Becker assumiu o cargo de CEO no SVB (Silicon Valley Bank) em 2011 e aproveitou a onda de crescimento das startups de tecnologia para prosperar. Em 2015, ele disse ao Comitê Bancário do Senado dos EUA que bancos médios como o seu não apresentavam o mesmo risco sistêmico que os grandes bancos e deveriam, portanto, deveriam ficar isentos do que considerava serem regulamentações onerosas. Ele estava errado.
O SVB – dependente de clientes focados em startups e tecnologia, que enfrentavam uma crescente cautela dos investidores à medida que o Federal Reserve aumentava as taxas de juros – comprou títulos do governo numa época de taxas baixas. Isso resultou em quedas acentuadas no valor dos títulos. Em março, enfrentou uma histórica retirada de dinheiro antes de ser fechado pelos reguladores norte-americanos. Embora Becker tenha sido culpado por multiplicidade de fatores e pessoas pelo colapso do banco após a sua demissão em abril, ele disse em uma audiência do Comitê Bancário do Senado dos EUA que estava “verdadeiramente arrependido” pela situação, que desencadeou a pior crise bancária em 15 anos.
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Getty Images Rosalind Brewer, ex-CEO da Walgreens Boots Alliance
Sempre foi uma questão de quando e não se Roz Brewer seria CEO. Antes de assumir o cargo de comando da Walgreens Boots Alliance em março de 2021, a então diretora de operações do Starbucks era considerada uma potencial sucessora na rede de cafés. Ela também já ocupou a posição de CEO no Sam’s Club, do Walmart, e foi uma presença constante em listas de mulheres mais poderosas do mudo.
No entanto, menos de três anos depois de assumir o cargo, o Walgreens estava procurando um novo CEO depois que Brewer e o conselho “concordaram mutuamente” que ela sairia no início de setembro. Essa decisão veio depois de um corte na meta de lucros da empresa no meio do ano e das dificuldades com a escassez de funcionários na companhia, o que reduziu o horário de funcionamento das farmácias e gerou uma queda no preço das ações. No início de dezembro, a Walgreens era a ação com pior desempenho no Dow Jones Industrial Average do ano de 2023. A ação da empresa caiu cerca de 48% durante o mandato de Brewer, em comparação com 5% da rival CVS no mesmo período.
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Getty Images Charlie Javice, fundadora da Frank
A Forbes incluiu Javice na lista Forbes Under 30 USA de 2019. A startup de ajuda financeira a universitários que ela fundou seria adquirida pelo JPMorgan Chase por US$ 175 milhões em 2021. Mas em 2023, a Forbes nomeou Javice como uma das escolhas das quais mais se arrependeu depois que o banco apresentou uma ação judicial contra ela, alegando que a empreendedora havia criado uma grande lista de clientes falsos.
A SEC (CVM americana) acusou-a de fraude em abril por conta da venda da startup ao JPMorgan. Javice luta contra as denúncias, processando o JP Morgan pelas alegações, e declarou-se inocente. Em novembro, o juiz do caso marcou a data do julgamento para 2024 e disse que os promotores devem exigir que o JPMorgan Chase apresente mais provas contra Javice.
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Getty Images Chris Licht, ex-presidente e CEO da CNN
No ano passado, Licht passou de produtor executivo do programa “Late Show With Stephen Colbert” ao cargo de CEO da CNN, sem nunca ter comandado nada tão complexo como uma emissora de TV a cabo global. Entretanto, foi escolhido a dedo pelo chefão da Warner Bros. David Zaslav para a posição. Embora tenha prometido reestruturar a CNN como uma plataforma para telespectadores cansados da polarização das notícias, ele rapidamente enfrentou queda na audiência, um escândalos e críticas generalizadas por fazer um programa cheio de informações falsas com a participação do ex-presidente dos EUA Donald Trump.
Então, em um épico – e inexplicável – desastre de relações públicas, a revista The Atlantic publicou um perfil devastador do executivo. A história continuou nos noticiários e fez com que ele perdesse a confiança da redação da CNN. Dias depois, ele foi demitido após apenas 15 meses no comando.
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Getty Images Marc Tessier-Lavigne, ex-presidente da Universidade de Stanford
Não é todo dia que o trabalho de um estudante de jornalismo ajuda a derrubar um presidente da Ivy League – grupo composto por algumas das mais conceituadas instituições de ensino dos EUA. Mas depois que uma reportagem no jornal estudantil Stanford Daily levou a uma revisão independente da pesquisa científica do então presidente de Stanford, a universidade disse em julho que ele iria renunciar, anulando várias pesquisas feitas por ele durante décadas.
A revisão independente disse que a alegação mais grave de fraude “parece estar errada” e que Tessier-Lavigne “não se envolveu pessoalmente em má conduta de pesquisa” nos artigos analisados. Mas a investigação encontrou falhas significativas em alguns estudos feitos por membros do seu laboratório. A saída de Tessier-Lavigne não foi a única em que as reportagens estudantis desempenharam um papel neste ano: a Northwestern University demitiu o técnico de futebol Pat Fitzgerald depois que seu jornal estudantil noticiou alegações de trotes humilhantes aos alunos.
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Getty Images Liz Magill, ex-presidente da Universidade da Pensilvânia
Liz Magill, ex-presidente da Universidade da Pensilvânia, não foi a única reitora de universidade dos EUA que arruinou seu depoimento perante o Congresso norte-americano no início deste mês. A presidente de Harvard, Claudine Gay, e a presidente do MIT, Sally Kornbluth, também se enrolaram ao explicar como estavam lidando com uma onda de antissemitismo nos ambientes das universidades. Elas também foram forçadas a se desculpar mais tarde por darem respostas abrangentes quando questionados se puniriam os alunos que pediam pelo genocídio dos judeus. Mesmo assim, apenas Magill perdeu o emprego. Claudine Gay, que também luta contra acusações de plágio, está enfrentando pressão para renunciar. Antes mesmo de Magill chegar a Washington, importantes ex-alunos da universidade reclamaram de seus esforços contra o antissemitismo no campus. Seu testemunho foi apenas a gota d’água. No final, até o governador da Pensilvânia disse que ela precisava deixar seu cargo.
Conselho de administração da OpenAI
Primeiro, o conselho da OpenAI demitiu repentinamente o CEO Sam Altman por uma suposta falha em ser sincero nas suas declarações ao grupo, apenas um ano após o lançamento do ChatGPT. Isso provocou um êxodo de funcionários e um impasse com a Microsoft, o maior acionista da startup de IA, que anunciou que contrataria Altman.
Em poucos dias, Altman recuperou seu trono. Os perdedores: o conselho sem fins lucrativos de seis pessoas da OpenAI, que foi encarregado da difícil tarefa de garantir que sua tecnologia “beneficie toda a humanidade” enquanto Altman construía um negócio com investimento de US$ 13 bilhões da Microsoft. O facto de ele e o presidente, Greg Brockman, terem sido surpreendidos pela destituição do conselho foi a prova de uma falha de comunicação. Outro importante elemento do caos é que o cientista-chefe Ilya Sutskever ter destituído Altman e depois ter se arrependido publicamente.
Enquanto Tasha McCauley, da RAND Corporation, e Helen Toner, da Universidade de Georgetown, estão fora do conselho, o CEO do Quora, Adam D’Angelo, continua no grupo. Com o antigo secretário do Tesouro Larry Summers e o empresário Bret Taylor, esse “conselho inicial” de três homens está agora encarregado de construir um board diversificado que possa liderar a corrida pela inteligência artificial sem deixar as coisas darem errado.
* Jena McGregor e Diane Brady são editora-sênior e editora-chefe assistentente, respectivamente, da Forbes USA.