Desde o início da carreira, Erica Abreu tem como filosofia que seus resultados falem por si só. “Sempre fui a minoria nos espaços e busquei crescer e entregar para que as pessoas conseguissem me ver”, afirma Abreu, diretora de serviços da NTT Data, multinacional japonesa de TI. Em 2018, entrou na empresa com um time de seis pessoas. Hoje, está à frente de mais de 300.
A executiva liderou um crescimento de 20,7% na receita de serviços da filial brasileira da companhia, que faz parte do grupo japonês de telecomunicações NTT, e as vendas subiram 74% em 2023. “Agarro com muita força as oportunidades que recebo”, diz. A área sob sua gestão tem um NSS (Net Satisfaction Score), que mede a satisfação do cliente, entre 90 e 95%, e foi considerada líder no Quadrante Mágico da consultoria Gartner, importante referência para o setor.
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De Osasco ao Canadá
Estratégica e observadora, soube identificar o que seria importante para atingir seus objetivos lá na frente. “Observo os caminhos que gostaria de percorrer, o que me ajuda a dar passos mais direcionados”, diz. E isso não vale só para o trabalho. “Sou a caçula da família. Consegui ver tudo que meus irmãos erraram para tentar fazer diferente.”
Na rua onde a família morava, em Osasco, ela foi a primeira a ter um computador. Incentivada pela mãe, trabalhou em um negócio dos irmãos para pagar o curso técnico de processamento de dados. “Dona de casa e semianalfabeta, com toda a sua sabedoria, ela sabia que o estudo seria um diferencial.”
Com a mesma lógica, Abreu pausou a carreira no Brasil para aprender inglês no Canadá. “Pedi demissão de um emprego dos sonhos para trabalhar de segunda a segunda em uma lanchonete e limpando banheiros e escritórios”, conta. Dois anos depois, já de volta ao país, o idioma realmente fez diferença e garantiu um emprego na gigante de tecnologia HP, onde ficou por 16 anos. “Foi essencial para a minha ascensão. Naquela época, a maioria das pessoas não falava inglês.”
Por mais mulheres em TI
Do service desk – a central de atendimento –, passou por diferentes cargos e áreas e chegou à gerência executiva. “Foi uma grande escola”, diz. Nesse período, também teve seus três filhos. “Na volta da licença-maternidade, queria ver como seria a Erica no mercado.”
Depois de alguns processos seletivos, a executiva entrou na NTT ainda amamentando. “Foi a única empresa que não questionou o fato de eu ter três filhos”, lembra. Era a única mulher na operação, e começou a perceber a necessidade de trazer outras. “Foi um dos pontos importantes para melhorar o serviço e trazer mais inovação”, diz ela, citando estudos que provam que a diversidade tem impacto financeiro no negócio. Hoje, a NTT tem programas voltados para as mulheres, como o IT for Girls, com o objetivo de fomentar a presença feminina nesse mercado.
Mãe de três e mulher preta no mundo corporativo, Abreu entendeu de fato o negócio e foi se posicionando mais conforme ganhava maturidade – pessoal e profissional. Ela acaba de publicar o livro TPM (Tech para Mulheres), com as histórias de nove profissionais de destaque no setor, ainda dominado pelos homens. Para cada 100 homens promovidos à gerência, por exemplo, apenas 87 mulheres e 82 mulheres negras obtêm a mesma promoção, de acordo com a organização global Women in Tech Network. “As mulheres muitas vezes ficam na mesma posição mesmo tendo condição de dar o próximo passo.”
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Na sua jornada, consistência resume o “segredo” do sucesso. “As pessoas querem resultados imediatos, mas eu vivo muito bem o processo”, diz. Com o tempo, também percebeu a necessidade de reorganizar as prioridades, colocando sua saúde no topo. “Começo o dia cuidando de mim. Entendi que isso também ajuda a melhorar minhas entregas.”
Abreu não acredita num equilíbrio exato entre vida e trabalho, que inevitavelmente acabam se misturando – como quando tocou bateria na festa de final de ano da empresa, com uma plateia de mais de mil pessoas. “Quando você tem projetos que demandam mais, você foca mais no trabalho, mas depois você volta, só não pode ficar lá para sempre.”
Representatividade
A executiva defende que a representatividade importa, e muito, mas apesar de ser cobrada por um ativismo mais vocal, levanta essas bandeiras ao seu modo: “Mostrando que nós temos competência para agarrar as oportunidades e entregar um trabalho tão bom quanto qualquer um.”
Se antes sentia que não podia decepcionar e precisava provar sua capacidade, hoje entende a força da sua presença e imagem em uma posição de liderança. “Não preciso dizer muito, é só olhar para mim.”
A trajetória de Erica Abreu, diretora de serviços da NTT Data
Primeiro cargo de liderança
“Foi na HP como líder de service desk.”
Quem me ajudou
“A minha família me ajudou muito e é meu porto seguro. Também tive mentores nessa jornada, tenho alguns nomes que me ajudaram bastante. Por isso eu faço algumas mentorias hoje, porque eu entendo que o papel do mentor é muito importante.”
Turning point
“Foi quando eu cheguei na NTT, mesmo antes de exercer a posição de diretora. Trouxe bastante conhecimento da HP, uma empresa de serviço que está aqui há muitos anos. E também trouxe essa veia de empreendedorismo que a minha família tem e que a NTT permite. É maravilhoso trazer ideias, inovações e empreender dentro de um negócio que já está estruturado.”
O que ainda quero fazer
“Eu tenho alguns objetivos simples, eu gostaria de ver meus filhos crescendo bem, caminhando e prosperando. E na carreira, quero continuar contribuindo, sendo engajada, tendo energia porque a gente precisa disso e de saúde para fazer as coisas. Eu adoro o que eu faço e assim fica mais fácil.”
Causas que abraço
“Meu modo de abraçar as causas não é gritando, é mostrando resultados. Quero mais mulheres e mais diversidade na área de TI porque a gente precisa de olhares distintos. Temos um longo caminho a percorrer, mas é possível.”
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