Fabiana Alves, CEO do banco holandês Rabobank para o Brasil e a América do Sul, é apaixonada pelo agronegócio desde menina, quando frequentava o haras do avô. Engenheira-agrônoma formada pela universidade de Viçosa, ela tem uma longa trajetória no mercado financeiro e no setor de alimentos. Alves está na lista Forbes Melhores CEOs de 2024.
Há 16 anos no banco holandês, 10 deles como diretora, Alves diz que a posição lhe permite unir a experiência profissional e o apreço pelo agro. E garante algo além da mera remuneração: a capacidade de trabalhar com um propósito maior. “A visão do banco é de longo prazo, e sempre focada em uma agenda de sustentabilidade”, diz ela.
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O Rabobank é uma instituição centenária. Não tem ações em bolsa, mas funciona como uma cooperativa focada no agronegócio, com atuação mundial. Segundo a executiva, essas características garantem uma tolerância adicional com os sobressaltos da atividade. “Costumamos dizer no agronegócio que temos um sócio que não conversa conosco, e chama-se São Pedro”, diz ela. “Mais recentemente, notamos um aumento dos problemas climáticos, o que piora o risco.”
A forma de atuar do Rabobank busca mitigar o risco. O banco tem como clientes as maiores empresas do agronegócio. A maior parte das linhas de financiamento é lastreada por recebíveis, muitos oriundos de contratos de exportação. “Isso garante um hedge natural”, diz a executiva. “Além disso, essas empresas em geral possuem lotes de terra, que é um colateral forte.” O banco seguiu a expansão da fronteira agrícola no Cerrado. Agora, diz Alves, a próxima fronteira é a transição energética, com o financiamento da descarbonização e da geração de energias “verdes”.
O banco encerrou 2023 com uma carteira de empréstimos para clientes brasileiros de cerca de US$ 11 bilhões, incluindo os financiamentos registrados no Brasil e no exterior. A cifra sobe para US$ 16 bilhões quando inclui os clientes de países da América do Sul. Por aqui, o Rabobank tem cerca de 600 colaboradores, e mais 200 nos demais países da região.
Alves afirma que sua carreira não foi planejada. No entanto, a trajetória no agronegócio facilitou um pouco as coisas. “Eu conhecia as dores e as necessidades dos nossos clientes, e esse conhecimento me ajudou na carreira.” À frente da instituição, ela busca exercer um estilo de liderança colaborativa. “Busco estar rodeada de gente melhor do que eu; quero ser a pior pessoa do meu time.” Isso ajuda, afirma ela, a reter as pessoas por mais tempo do que a média do sistema financeiro. “Um profissional de mercado fica em média quatro anos na mesma empresa, mas no nosso caso são sete anos”, diz. “Além do alinhamento de propósitos para financiar um agronegócio sustentável, o sucesso do banco depende de manter um ambiente de respeito, igualdade e diversidade.”
Reportagem publicada na edição 123 da Forbes, lançada em setembro de 2024.