“Vocês podem ver que estou me divertindo”, disse Safra Catz, CEO da Oracle, no palco do Oracle CloudWorld 2024, evento global da empresa em Las Vegas, no início de setembro. A executiva de 62 anos, que costuma evitar os holofotes, parecia confortável ao falar para mais de 25 mil espectadores sobre as novidades e o momento da empresa, que acabara de divulgar os resultados do primeiro trimestre fiscal de 2025.
A receita de US$ 13,3 bilhões superou estimativas dos analistas, e provocou a disparada das ações da Oracle. No dia seguinte, os papéis subiram até 14% e atingiram o recorde de US$ 160,50, levando o fundador, Larry Ellison, ao terceiro lugar no ranking de bilionários da Forbes.
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O visionário, que aos 80 anos continua atuando no dia a dia da companhia, como líder de tecnologia e presidente do conselho, não é o único a se beneficiar do sucesso da gigante de software ao longo dos anos. CEO da Oracle há uma década e uma das executivas mais bem pagas dos Estados Unidos, Safra Catz atingiu o status de bilionária em 2019 e é membro do seleto grupo de mulheres self-made. Hoje, seu patrimônio é estimado em US$ 2,2 bilhões.
Catz chegou à Oracle em 1999 como vice-presidente sênior e logo subiu para presidente e CFO, antes de assumir como CEO – dividindo o título com o executivo Mark Hurd até sua morte, em 2019. Nascida em Israel, ela se mudou com a família para os Estados Unidos aos seis 6 anos de idade, onde obteve diplomas de bacharel em negócios pela Wharton School e na faculdade de direito da Universidade da Pensilvânia.
Sua expertise financeira adquirida em mais de 10 anos em Wall Street ajudou a otimizar processos e liderar uma estratégia ousada que levou a Oracle a mais de 130 aquisições. Catz é a figura central que mantém a engrenagem funcionando, dizem analistas e clientes. Além de CEO da Oracle, é membro do conselho da Oracle Education Foundation há 24 anos.
Sob sua gestão, e em uma parceria complementar com o carismático Larry Ellison, a Oracle se coloca hoje como uma das principais fornecedoras de nuvem para inteligência artificial, com parcerias com as gigantes Microsoft, Google e Amazon Web Services. Safra Catz não apenas ajudou a transformar a Oracle em uma potência, mas deixou sua marca em uma indústria muitas vezes dominada pelo ego e (quase sempre) pelos homens.
A seguir, trechos da entrevista exclusiva com a CEO da Oracle, que conta como os avanços da inteligência artificial estão guiando as estratégicas da empresa e do setor.
Forbes: Como a Oracle tem adaptado sua estratégia para se manter à frente das rápidas mudanças no setor de tecnologia?
Safra Catz: Nossa estratégia tem se mantido muito consistente ao longo dos anos: foco no sucesso do cliente. Isso está no centro de tudo o que fazemos. Depois de mais de 40 anos operando em praticamente todos os setores, entendemos a pressão que os executivos enfrentam para tomar as melhores decisões, encontrar novas oportunidades e expandir seus negócios. Nosso trabalho é fornecer a tecnologia de que eles precisam para alcançar esses objetivos.
É por isso que mudamos toda a nossa linha de produtos na última década para a era da nuvem. Também é por isso que projetamos nossa nuvem de forma diferente de outros gigantes da tecnologia, para oferecer a escolha e a flexibilidade de que eles precisam. Esse tipo de transformação nunca termina. Com a IA, estamos no início de mais um ciclo de inovação.
Como a IA mudou a forma como as empresas atuam nesse mercado?
Nós incorporamos IA em tudo – desde a infraestrutura de nuvem até as aplicações, e a demanda continua crescendo. Na América Latina, empresas como Globo, TIM Brasil, Vivo e WideLabs estão experimentando os benefícios da Oracle Cloud e da IA em primeira mão. Nossa parceria com a NVIDIA, combinada com as vantagens de preço-desempenho e escalabilidade da Oracle Cloud Infrastructure, nos torna uma escolha fácil para inovadores em IA que buscam treinar e implementar grandes modelos de linguagem. Nossos clientes podem implantar IA e mais de 150 serviços em nuvem onde quer que precisem. Na América Latina, temos cinco regiões de nuvem, incluindo duas no Brasil, duas no Chile e uma na Colômbia. Mas nosso compromisso em oferecer escolhas aos clientes não se limita aos nossos próprios data centers. A Oracle está liderando em um novo capítulo de inovação multicloud. Após a resposta dos clientes às nossas parcerias com a Microsoft e o Google, anunciamos a parceria com a AWS ([Amazon Web Services)] durante o Oracle CloudWorld 2024.
Qual é o setor de maior relevância para a empresa?
A Oracle impulsiona mudanças em todos os setores. Nossas soluções para indústrias atendem mais de 100 mil clientes em 175 países, incluindo algumas das marcas mais conhecidas do mundo. Um setor que é particularmente atraente para nós é o de saúde.
É um dos maiores e mais importantes do mundo – e um dos mais complexos. A Oracle está trabalhando com provedores de saúde em todo o mundo para ajudá-los a utilizar a nuvem e a IA, a fim de reduzir a carga administrativa que pesa sobre os profissionais de saúde.
O que descobrimos é que nossa tecnologia, alimentada por IA, pode eliminar horas de tarefas administrativas intensivas, permitindo que esses provedores de saúde passem mais tempo com os pacientes e menos tempo em frente às telas.
Como equilibrar a necessidade de inovação com estabilidade e segurança nos produtos e serviços?
Para nós, a segurança está no centro da inovação. O sistema operacional da Oracle Cloud Infrastructure e nosso banco de dados são autônomos. Não é mais necessário trabalho humano para gerenciar o banco de dados.
Isso é importante porque, ao remover o trabalho humano, eliminamos a possibilidade de erro humano ou má conduta. Quase todas as violações de segurança em nuvem são resultado de um desses dois fatores. Eliminar o erro humano é a única maneira de garantir que seus dados na nuvem estejam protegidos.
Matéria publicada na edição 123 da revista, em setembro de 2024, disponível nos aplicativos na App Store e na Play Store e também no site da Forbes.