Faturamento de R$ 10 bilhões em 2023, antecipando em dois anos a meta dos 11 dígitos; crescimento de 150% desde o IPO, em 2020; e inclusão, em 2024, na Carteira do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da B3. Esses são alguns dos dados que provam por que a decisão de Ramon Peres Martinez Garcia Alcaraz de não se aposentar em 2021, aos 55 anos, foi acertada. O executivo está na lista Forbes Melhores CEOs de 2024.
Paulistano do bairro do Ipiranga, ele cofundou em 2001 a Fadel Transportes, que acabaria vendendo para o grupo de logística JSL em 2021. A intenção era dar seu grito de independência e aposentar-se, cruzar o mundo de motocicleta e participar da Porsche Cup (no fim de semana anterior a esta entrevista, ele chegou em quinto lugar em uma prova na Argentina – e falou sobre o feito com entusiasmo juvenil).
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“Mas, na época da venda, acontecia a reorganização do grupo e era criada a Simpar, com o Fernando Simões [filho de Julio, fundador da JSL] assumindo como presidente da nova holding. Ele me convidou para o cargo de CEO da JSL”, lembra. “No primeiro momento, eu resisti. Mas o desafio me cativou. Quando o propósito é bom, não tem jeito.” O desafio era levar o grupo do patamar de R$ 3 bilhões para os 11 dígitos citados no início da reportagem. E os pilares do propósito eram: “cliente satisfeito, gente motivada e resultados”.
Ramon conta que entrou para o ramo de transportes e logística “meio por acaso”, há 40 anos. Ainda na faculdade, conheceu uma empresa “que não era pequena”, mas onde ninguém tinha diploma na área administrativa – eram quase todos motoristas. “Vi ali uma oportunidade e virei meus estudos para esse lado.” Ainda na casa dos 20 anos, desenvolveu um software de gestão de frotas e abriu uma empresa de consultoria. “Eu dava curso para pessoas que tinham de carreira o que eu tinha de idade.”
Outro ponto alto, lembra ele, foi a aproximação com a Brahma/Ambev, uma verdadeira “escola de gestão”. Na virada do milênio, ele ofereceu uma solução de transporte e logística para a cervejaria no Nordeste, onde a companhia tinha dois centros de distribuição, em Natal e João Pessoa. “Montei a Fadel com meu sogro e resolvi fazer daquilo a minha vida.” Em duas décadas, os poucos caminhões usados do início das operações se transformaram em mais de mil – e, na ocasião da venda, a Fadel já era o maior operador logístico da Ambev (“hoje está três vezes maior”).
E qual é o estilo de gestão do CEO da JSL? “Tudo se baseia em como você faz a gestão dos seus líderes. Eu acredito em propósito. Dá mais trabalho, muitos não entendem no primeiro momento… Mas, quando seu time compra a ideia, eles não fazem mais por você, não fazem mais por medo ou qualquer outro motivo de vida curta. A pessoa faz por ela mesma.” Esse espírito, diz ele, flui da liderança para todos os outros escalões. “Me dá muito prazer conversar com o chão de fábrica e ouvir da boca deles a mesma coisa que teria saído da minha boca.”
Reportagem publicada na edição 123 da Forbes, lançada em setembro de 2024.