Quando começamos a empreender, é natural que busquemos informações e conhecimentos nas redes, na internet ou em quem admiramos. Nosso mundo está mudando em uma velocidade exponencial. O que funcionava há poucos anos já não funciona mais. Isso é especialmente importante na comunicação.
No passado, ser distante, inacessível, misterioso e falar difícil eram atributos que te conferiam autoridade aos olhos das “pessoas comuns”. Não mais. Com a ascensão do TikTok, o comportamento da geração z e dos millenials mudou em menos de dois anos. Não queremos ver pessoas que tentam se colocar acima dos outros. Isso não cola mais. Queremos ver pessoas reais, empresas reais, com problemas, dificuldades, conquistas e vulnerabilidades.
Você duvida disso? Então faça um teste: poste algum conteúdo distante, frio, no qual você está aparentemente acima dos outros, com aquele jeito meio prepotente do TikTok, e veja o que acontece. Ou ninguém vai ver seu conteúdo, ou você será bombardeado com críticas e até ofensas.
Para ter sucesso em seu negócio, você precisa fazer com que os outros o vejam como alguém capaz de entregar algo que não seria conseguido sem você.
Eu tenho vários negócios e isso é importante em todos eles. Na minha loja de roupas, a cliente precisa saber que eu entendo mais de roupa do que ela. Seja tecido, modelagem, caimento, combinações de peças e estilo. Ela precisa saber que eu criei o produto de uma forma específica porque é melhor assim. Na minha edtech, a IMATIZE, em que ensino as pessoas a usarem o digital para acelerar seus resultados e ter sucesso empreendendo, eu preciso mostrar que sei mais que elas sobre empreender no digital. Se não for assim, por que elas escolheriam aprender comigo em vez de fazerem tudo sozinhas? Quando faço uma palestra, o público precisa sentir que eu domino o assunto para querer me ouvir. Isso acontece com você e com o seu negócio também.
O problema é a forma como você fará as pessoas terem a percepção que você quer. A crença popular é que a autoridade é fria, não erra, sabe tudo, veste terno e tem um semblante sério. Porém, a autoridade, nos dias de hoje, pode ser uma pessoa comum, com problemas comuns, ideias legais e uma comunicação interessante.
Uma menina de 20 anos pode postar direto do celular, como se estivesse falando com uma amiga, um vídeo contando algo que fez no seu negócio e que funcionou. Esse vídeo pode conquistar admiradores e fãs do seu trabalho, que não só querem comprar, mas que a verão como alguém que sabe o que faz.
Vou dar outro exemplo: no fim de junho vou abrir as matrículas para a segunda turma do meu treinamento de empreendedorismo digital.
O caminho tradicional para fazer muitas pessoas quererem aprender com você é criar uma jornada de elevação de consciência. Ou seja, despertar a pessoa para o problema e mostrar que você tem a solução e se portar como autoridade do jeito mais “old school”. Também é preciso investir dinheiro em publicidade que toque em uma dor ou em um desejo da pessoa e apresentem seu curso como a melhor solução. Essa não é a forma ideal.
Já tendo feito mais de 20 lançamentos, eu e meu marido quebramos a cabeça para encontrarmos uma maneira diferente, que fosse mais eu. Eu sou próxima, não sou esnobe. Gosto de andar descalça, compartilho problemas, passo noites em claro estudando para buscar mais conhecimento, me viro nos trinta para ser uma boa mãe e boa profissional ao mesmo tempo, adoro falar sobre filosofia e meus seguidores, desde sempre, me veem como uma amiga, e eu gosto disso.
Eu já fui séria, distante, e argumentei da forma como falaram que era necessário. Foi dolorido fazer isso, porque não era eu. Então chegamos em uma solução: criar uma série nas redes sociais na qual as pessoas acompanhariam minha vida (o nome da série é “30 dias na vida de uma empreendedora digital”), e em cada episódio eu compartilho algum tópico específico, de forma dinâmica, com cenas do meu dia a dia, mostrando na prática como é a minha vida liderando três empresas, cuidando de dois filhos, dois cachorros, um casamento e mais alguns projetos.
O objetivo é que fazer a pessoa do outro lado da tela sentir-se como se estivesse comigo durante o dia. Quem me conhece ou convive comigo diz “eu não imaginava que você fosse assim, você é mais legal pessoalmente do que na internet”. E por melhor que seja o elogio, me incomoda não conseguir passar meu eu verdadeiro nas redes.
O resultado dessa série está sendo algo como eu nunca vi antes. Recebo cerca de 200 mensagens por dia de pessoas elogiando, fiz mais de 600 vendas na minha loja de roupas em cinco dias e as pessoas não só estão falando que eu sou mais legal do que elas imaginavam, como também dizem “agora eu entendi a sua profundidade” ou “mal posso esperar para me tornar sua aluna”.
Leia mais:
- O empreendedor tem de ser multiplataforma
- A geração Z deve focar no autoconhecimento
- Torne sua empresa uma líder na inovação em seis passos
Algumas dicas para você poder aplicar a mesma lógica que usamos ao criar a série, na sua comunicação como empreendedor.
- As pessoas não querem ouvir você falando o que faz, elas querem ver
Você prefere ouvir alguém te contando um filme ou assistir ao filme? Mostrar sempre será mais forte do que falar. Mostre a sua rotina, como você resolveu algum problema na prática, montando alguma venda do seu negócio, estudando aquilo que ensina, como organiza sua agenda como empreendedor, os momentos desafiadores e também as conquistas. Ao invés de falar sobre algo, mostre aquilo enquanto acontece. - Seja vulnerável na medida certa
Quando falo para utilizar a vulnerabilidade como um poder, não estou falando para você gravar um momento de stress e soltar isso nas redes, mas sim para contextualizar esse momento e trazer algum ensinamento sobre ele. Não estou falando para filmar uma briga com seu cônjuge, mas mostrar algum atrito e trazer alguma lição. Não é para exceder os seus limites ou se expor mais do que você deveria ou gostaria, mas sim entender que ser uma figura de plástico na internet não vai funcionar, nem para audiência, e nem para você. - Autoridade se constrói, não se compra
Não adianta usar a melhor roupa, postar a melhor foto ou o conteúdo mais bem produzido, se você não consegue agregar na vida das pessoas que são o seu público. O trabalho contínuo de servir a sua audiência de forma concisa e objetiva, porém próxima e vulnerável, é o que vai fazer com que elas te coloquem em um lugar de autoridade e respeito. - Qual é a sua identidade ou a identidade do seu negócio?
Quando você for criar uma estratégia de comunicação, o ponto inicial deve ser a identidade, seja sua ou da sua marca. Quais são os valores, princípios, gostos, atributos e qualidades que você ou seu negócio têm? Comece por aí. - Não faça o que eles estão fazendo
Ouse ser criativo, disruptivo, inovador. Ouse pensar em um estilo de conteúdo que traduz quem você é, por mais que ninguém esteja fazendo algo assim. É dessa forma que você vai se destacar e se tornar referência. Não olhe para os lados, olhe para a frente. Saiba seu objetivo, quem você é e pense em um formato diferente e único para chegar lá com base nas suas referências. Isso também serve para a comunicação da sua empresa. - Mantenha o foco em um nicho
É infinitamente mais fácil pensar em algo criativo quando você sabe com quem você está falando. Seja no seu negócio ou na sua marca pessoal, tenha um nicho específico. Eu, por exemplo, falo de empreendedorismo, e, por mais que eu seja plural, faça e ame muitas outras coisas, eu sempre encontro uma forma de relacionar elas com o meu nicho. Eu só sabia que essa série seria inovadora porque entendo do tipo de conteúdo que os empreendedores costumam ver e qual é a realidade deles no dia a dia.
Você não precisa mudar quem você é, ou como sonhou que a sua empresa poderia ser, para ser visto como autoridade ou referência. Seus resultados virão através de uma boa estratégia, não de uma cara fechada e aparente perfeição. Empreender é inovar, arriscar, quebrar barreiras, desafiar o improvável e persistir. Isso é uma força inestimável, e você já a tem – então ouse usá-la a seu favor e ser mais você.
Isabela Matte tem 24 anos, é empreendedora, mãe, mentora e influenciadora digital. Criou seu primeiro negócio aos 12 anos, foi reconhecida em 2018, através do ranking Forbes Under 30, como uma das jovens mais influentes do país, e, além de liderar três empresas, já ajudou mais de 6 mil alunas a empreender. Dentre suas iniciativas, é fundadora e CEO da Isabela Matte e Isabela Matte Academy.
Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.