
Você provavelmente já acordou um dia com uma sensação esquisita, sem conseguir entender direito o que está acontecendo. Ou já se pegou tendo um “mix” de sensações que, somadas, levam você a se sentir desconfortável ou angustiado.
A verdade é que nem sempre é fácil decifrar o que experienciamos, até porque quase sempre o que brota em nós, quando vivemos uma experiência, é de fato uma mistura complicada. Darei um exemplo que vocês certamente já passaram: o amor nunca é puro, digamos assim. Outros sentimentos mesclam-se a ele, como desgosto, raiva e até ódio. “Eu amo meu parceiro ou parceira, mas também detesto uma coisa que ele faz, tenho raiva quando ele faz determinada coisa ou odeio quando ele se comporta de tal maneira”.
Essa complexidade toda torna mais difícil entender, decodificar e até dar um nome ao que estamos sentindo e, por vezes, é trabalhoso explicar a outra pessoa o que se passa dentro de nós.
O modo como sentimos e vivemos uma experiência é muito pessoal. Quantas vezes você já não se pegou comentando um fato para alguém que estava com você na mesma hora e lugar e, para você, a experiência tinha sido péssima e para o outro, até que havia sido agradável? Tudo o que você guardou daquele dia foi uma sensação de desprazer e, a outra pessoa, de que tinha sido um dia gostoso.
O modo como manifestamos as nossas emoções também tem a ver com a cultura de cada lugar. Dependendo de onde moramos, sequer podemos expressá-las e isso pode gerar grande sofrimento.
Escrever um diário que reúna todas as sensações vividas durante o dia pode nos ajudar grandemente a identificar e a entender como e quando reagimos positiva ou negativamente a determinadas situações e que fatos nos levam a ter reações explosivas ou triviais.
O emocionário pode ser, assim, uma importante ferramenta de auxílio à saúde mental, na medida em que ele possibilita colocar por escrito as emoções que nos atravessaram no dia. Criar o hábito de escrevê-las e descrevê-las pode nos ajudar a identificar de onde elas vêm e de que forma elas nos impactam. Será que os seus dias estão mais recheados de momentos de alegria ou de medo, de tristeza ou de raiva?
Procure destrinchar no papel cada um desses sentimentos. Se você se pega com medo, de onde esse medo pode estar surgindo? Pare para pensar sobre isso. Esse medo está impedindo você de fazer alguma coisa? Se sim, o quê?
Ao reservar um tempinho no seu dia para escrever esse diário das suas emoções, você criará um espaço para estar mais próximo de si mesmo e para enxergar o seu cotidiano a partir dos sentimentos que ele traz a você. Quem sabe, isso vá ajudá-lo também a aprender mais sobre as suas reações. Isso é o que eu chamo de autocuidado.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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