David Bowie detectou e revelou tendências em muitas ocasiões. Trouxe elementos do teatro e da literatura (George Orwell, em especial) para suas canções e shows; avisou, na década de 1970, que Berlim Ocidental era onde a modernidade estava sendo gestada – e lá gravou sua extraordinária trilogia composta pelos álbuns “Low” (1977), “Heroes” (1977) e “Lodger” (1979).
Mostrou-se um ator talentoso em filmes como “Furyo, em Nome da Honra” (1983) e “A Última Tentação de Cristo” (1988). Surpreendeu até no campo das finanças ao lançar em 1997 os Bowie Bonds, títulos de dívida que tinham por lastro os direitos autorais de sua obra (na ocasião a operação rendeu-lhe US$ 55 milhões, o equivalente a US$ 80 milhões em valores atuais). Mas há uma face do brilhante artista inglês que não vem recebendo o devido destaque desde que seu falecimento foi anunciado, nesta segunda-feira: Bowie, o desbravador da internet.
Corria o ano de 1998, e ele resolveu criar algo inusitado: seu próprio provedor de serviços, o BowieNet. A proposta era atuar como uma rede social voltada a seus fãs, assim como o MySpace, por exemplo, era uma rede social para interessados em música. E também funcionava como um portal de acesso à Web. O BowieNet operou com sucesso até 2006, quando o artista resolveu tirá-la do ar.
Mas o namoro de Bowie com a tecnologia da comunicação não ficou só aí. Talvez ainda mais impressionante seja que antes disso, em 1996, ele disponibilizou para download uma canção que acabara de lançar chamada “Telling Lies”. Em uma época na qual a velocidade de conexão à rede era muito pequena – e mesmo o simples acesso à internet era raro para indivíduos e até para empresas –, nada menos que 300.000 pessoas baixaram “Telling Lies”. Nessa mesma toada, o álbum “Hours…”, de 1999, foi o primeiro de um grande artista a ser colocado para download antes mesmo do seu lançamento físico.
David Bowie viu o futuro em muitos campos de atividade humana. A internet, lembremos, foi também um deles.