Corria o ano de 1939. Às vésperas da Segunda Guerra Mundial, Londres estava na iminência de um bombardeio aéreo. Às pressas, o Ministério da Informação do Reino Unido mandou imprimir 2,5 milhões de cópias de um pôster para elevar a moral da população britânica. O cartaz teve uma pequena distribuição. Foi redescoberto no início dos anos 2000. Virou uma febre mundial.
Quase 80 anos depois, ele serviria perfeitamente para o momento que o Brasil está atravessando. Apesar de eu ainda não ter alcançado meio século de vida e ter passado muitos anos fora do país, não me recordo de ter visto a nossa “Terra Brasilis” em um momento tão conturbado, para dizer o mínimo.
Parece que vivemos, já nestes poucos meses de 2016, a mais perfeita das Perfect Storm — expressão em inglês utilizada para descrever um evento em que uma rara combinação de circunstâncias agrava a situação de forma drástica. A sensação é de que está tudo dando errado e, ao mesmo tempo, para o Brasil.
Já vivemos graves crises políticas e econômicas antes, mas nunca tão grandes na escala e na simultaneidade como agora, agravadas ainda mais por uma enorme crise ética — nunca antes na história deste país — em que todas as instituições parecem colapsar ao sopro de sedução da corrupção. Como se não fosse suficiente, uma nação inteira e seus recém-nascidos sucumbem, impotentes, diante de uma gravíssima epidemia que enviou ondas de choque de pavor e má repercussão pelo mundo afora.
Ok… Podemos ficar o resto do dia, do mês, do ano falando das coisas ruins que andam acontecendo no Brasil. Apontar possíveis culpados não seria uma tarefa das mais difíceis também, mas não é para isso que estamos aqui. A ideia é lembrar a mim mesmo, a vocês, que muito gentilmente nos leem, que temos que nos manter calmos e seguir em frente… “Keep calm and carry on”, remember?
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Receber bombas — algumas com gases venenosos — na cabeça enquanto dorme ou caminha não deve ser uma das coisas mais agradáveis na vida, não é? Ainda assim aquelas pessoas seguiram em frente e tocaram suas vidas, da melhor maneira que poderiam.
Não adianta ficar o dia inteiro reclamando, fazendo posts nas redes sociais para uma plateia de três parentes, 25 desconhecidos e dez desafetos dizendo que está tudo horrível, que esse ou aquele partido é o responsável por tudo que aí está e que a melhor saída é o aeroporto internacional mais próximo.
O Brasil segue funcionando, pessoas continuam produzindo e consumindo, ainda que em menor escala, e as oportunidades estão por todos os lados. Só para se ter uma ideia do que estou falando, recebi nas últimas semanas três e-mails de investidores conhecidos, de outros países, dizendo que estavam muito interessados em oportunidades de investimento em empresas brasileiras. É óbvio que sabemos que a equação real fraco mais crise econômica mais incertezas significam uma alta probabilidade de uma boa compra para os investidores externos. Mas vale lembrar que não existe — principalmente nesse grupo de pessoas — nenhum traço de filantropia ou assistencialismo. A conversa ali tem uma e única finalidade: geração de capital e lucro.
Vamos todos deixar o desânimo de lado, arregaçar as mangas e fazer nossa parte, que é continuar empreendendo, arriscando, buscando alternativas e criando oportunidades. O Brasil precisa, muito, que façamos isso. E para ajudar naquelas manhãs em que você acorda com vontade de não sair da cama e encarar o dragão que espera do lado de fora de casa, aqui vai uma frase do grande líder britânico durante a Segunda Guerra, o primeiro-ministro Winston Churchill: “Atitude é uma pequena coisa que faz uma enorme diferença”.
*Antonio Camarotti é Publisher/CEO de FORBES Brasil
Texto publicado na edição 39 de FORBES Brasil, de fevereiro/março de 2016