Mesmo quem nunca assistiu ao gameshow televisivo The Apprentice, lançado nos Estados Unidos em 2004 e que ganhou versões em mais de 20 países, já deve ter ouvido uma frase que se tornou célebre na voz do seu primeiro apresentador, Donald J. Trump: “You’re fired!” – ou, aqui pelas terras de Cabral, o temido “Você está demitido!”.
“Money money money money, MONEY” era o que cantava a letra da música do grupo de R&B The O’Jays na abertura do programa enquanto Trump aparecia em cenas que enalteciam sua posição de magnata do ramo imobiliário: o Boeing e o helicóptero particulares, as limusines, as torres com fachadas douradas… tudo estampando seu sobrenome em enormes letras maiúsculas.
Foi a primeira de um total de 14 temporadas em que ele ficaria em evidência na televisão americana e que o catapultaram ao patamar de celebridade. O sucesso do programa e o status de popstar se confirmam quando vemos o que ele ganhou como apresentador nesse período. Segundo os números (nesta edição de FORBES Brasil você verá que nem sempre podemos contabilizar como corretos os números apresentados pelo Team Trump), ele ganhou US$ 50 mil por episódio da primeira temporada, ou algo em torno de US$ 700 mil. Na segunda temporada, seu salário já saltaria para incríveis US$ 1 milhão por episódio. Ao todo, Trump afirma ter recebido US$ 213.606.757 (aproximadamente R$ 770 milhões ao câmbio de US$ 1 = R$ 3,60) por essas 14 temporadas. Nada mal para um aprendiz de apresentador.
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Agora ele será aprendiz de algo bem maior e mais importante: de homem mais poderoso do mundo, ou apenas POTUS (President of the United States) para os americanos, que são craques em acrônimos.
Muito da superexposição e consequente busca incessante por audiência e aprovação que aquele aprendiz de apresentador viveu em 14 temporadas na televisão estarão ligadas diretamente ao que pode acontecer nos próximos quatro anos do aprendiz de POTUS.
Ao mesmo tempo que acho – e torço e rezo – que o mandato de Trump não seja tão desastroso como a ala democrata da imprensa americana pinta e como alguns
“Nostradamus” brasileiros de plantão verbalizam (cá entre nós, que autoridade temos nós, brasileiros, que elegemos Lula e Dilma durante 13 anos, para falar do Donald?), eu tenho certeza de que muitas de suas decisões serão balizadas pelo grito que ecoará das ruas. O Trump celebridade não saberá lidar com a baixa audiência e as críticas de um governo impopular. Ele tem o mindset de uma celebridade televisiva. Basta ver os primeiros dias após sua eleição. Seus comunicados são quase todos feitos via sua conta pessoal no Twitter, as desavenças com desafetos são escancaradas em redes sociais e promovidas pelo próprio, suas aparições fogem a qualquer ritual do cargo.
Uma coisa é o personagem que manteve uma retórica estridente durante a campanha eleitoral porque viu que ela estava funcionando, por mais absurda que fosse. Outra é o commander in chief, empossado, sentado no oval office vendo sua popularidade despencar a cada mancada administrativa. Isso soará para ele como um alto e sonoro “You’re fired!”. Tomara que o Donald Trump POTUS seja tão exitoso na Casa Branca quanto foi no estúdio de TV montado dentro da Trump Tower. Os Estados Unidos precisam disso, o mundo inteiro precisa disso.
P.S. Parabéns ao criador do The Apprentice, Mark Burnett! Fora o maior case de todos com Trump, um ex-apresentador da franquia também foi eleito para
um importante cargo público, sem nenhuma experiência prévia na administração pública. O prefeito eleito de São Paulo, João Doria, apresentou a versão brasileira de O Aprendiz por duas temporadas. E, pelo visto, o case está motivando mais gente com passagem pelo programa. O publicitário e ex-apresentador Roberto Justus acaba de anunciar que não descarta concorrer à Presidência do Brasil em 2018.
*Antonio Camarotti é Publisher/CEO de FORBES Brasil
Texto publicado na edição 47 de FORBES Brasil, de novembro de 2016