Donald Trump criticou o Federal Reserve várias vezes durante sua campanha eleitoral. Esperamos que ele faça uma verdadeira reformulação nesse órgão cada vez mais destrutivo. O recente comparecimento da presidente do Fed, Janet Yellen, perante o Comitê Econômico Conjunto ressalta a necessidade de uma ampla remodelagem para nossa prosperidade futura.
Yellen deixou claro, de maneira aberta e descarada, que nosso banco central ainda segue a teoria desacreditada de que a prosperidade causa inflação. “A economia está operando relativamente perto do pleno emprego neste momento”, o que justifica as taxas de juros mais altas. A ideia é que uma elevação do custo do dinheiro asseguraria que a economia não ficasse forte demais. Do contrário, os empregadores aumentariam os salários agressivamente, e isso poderia impulsionar a inflação.
Trump precisa, entre outras medidas, pressionar o Fed para que deixe os mercados decidirem as taxas de juros. E demitir Janet YellenYellen confunde as alterações dos preços que surgem em resposta à oferta e à procura no mercado com os movimentos dos preços que resultam de mudanças do valor do dólar. São as mudanças do dólar que causam estragos. Quando o Fed e o Departamento do Tesouro começaram a enfraquecer a moeda americana no início dos anos 2000, os preços das commodities deram um salto. O preço do barril de petróleo, por exemplo, subiu de cerca de US$ 25 para mais de US$ 100. Essa alta estonteante não foi decorrência da falta de petróleo, e sim da perda de valor do dólar. Já o preço das TVs de tela grande despencou de US$ 10 mil para algumas centenas de dólares hoje. Isso é resultado da produtividade, não da deflação.
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A redução das taxas de juros pelo Federal Reserve tem sido um desastre para poupadores, fundos do mercado monetário, fundos de pensão, seguradoras (especialmente as que oferecem seguro de vida) e empresas de menor porte. Em um mundo sensato, o preço do dinheiro seria definido pelos credores e tomadores de empréstimos.
O que Trump deveria fazer? Pressionar o Fed para que deixe os mercados decidirem as taxas de juros. Fazer essa instituição reduzir seu portfólio inchado: quando um título vencer, deixar o principal fluir de volta para o sistema financeiro, em vez de reinvesti-lo. Instituir mudanças técnicas positivas, como fazer o banco central tomar mais empréstimos dos fundos do mercado monetário, com a Fannie Mae e a Freddie Mac financiando seu portfólio, e menos empréstimos dos bancos.
Trump também deveria demitir Janet Yellen. Ela disse ao Congresso que concluirá seu mandato, que termina em fevereiro de 2018, dando a entender que Trump não pode tirá-la. Ela deveria fazer seu dever de casa.
Nosso banco central brigou com o Departamento do Tesouro duas vezes no fi m dos anos 1940 e começo dos anos 1950, e nas duas ocasiões o presidente do Fed foi limado. A despeito das fantasias e pretensões, o Federal Reserve não é um poder independente consagrado na Constituição.
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Mesmo que nosso próximo presidente decida não destituir Yellen, ele pode fazer mudanças muito positivas nomeando David Malpass (caso este não vá para o Tesouro) e Judy Shelton para preencher duas vagas no Conselho do Federal Reserve. Os dois realmente entendem de política monetária.
Colégio politicamente correto
O Colégio Eleitoral está sendo alvo de críticas contundentes. Hillary Clinton recebeu mais votos populares do que Donald Trump e, mesmo assim, perdeu a presidência porque Trump conquistou decisivamente a maioria dos votos do Colégio. O mesmo aconteceu em 2000, quando George W. Bush foi para a Casa Branca, apesar de o oponente Al Gore tê-lo superado no voto popular. Isso é debochar da democracia, condenam os críticos, que estão preconizando a votação popular direta.
Na verdade, o Colégio Eleitoral é uma instituição singular dos Estados Unidos que vem servindo bem ao país.
• Por causa dele, um candidato que queira vencer é obrigado a fazer campanhas nacionais. Do contrário, não consegue obter maioria no Colégio Eleitoral.
Os Estados Unidos são uma nação notavelmente heterogênea, com uma gama incrível de afi liações e interesses diversos. Em Iowa, os republicanos costumam focar muito nas questões sociais, enquanto em New Hampshire predominam as preocupações econômicas. Já reparou nas diferenças culturais entre, digamos, o Texas e o East Village de Nova York?
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Os dois partidos principais dos Estados Unidos sempre foram coalizões desconfortáveis de pessoas e grupos díspares que se mantêm unidos por causas e princípios comuns. Na década de 1850, o núcleo unificador do recém-criado Partido Republicano era impedir o alastramento da escravidão. Um de seus grandes públicos era composto por furiosos inimigos da imigração; outro era formado por imigrantes alemães.
A necessidade de vencer em âmbito nacional geralmente faz os candidatos atenuarem suas posições mais extremadas. Perto do fim de sua campanha, por exemplo, Trump evitou declarações polêmicas no sentido de expulsar quem está vivendo ilegalmente no país.
Sem o Colégio Eleitoral, haveria uma proliferação de partidos de base pequena. Eles teriam todos os motivos para inflamar temas desagregadores, em vez de abrandá-los.
Uma votação popular direta precisaria prever um segundo turno para que a divisão do eleitorado não levasse à Casa Branca um partido que recebesse, digamos, 15% dos votos. Num segundo turno, os candidatos negociariam apoio com os partidos menores. Grupos periféricos ganhariam uma influência inédita.
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Quando surgem candidatos sérios de um terceiro partido, seus assuntos são logo apropriados por um dos partidos maiores ou pelos dois. A impressionante campanha de Ross Perot em 1992 fez democratas e republicanos darem ênfase ao déficit orçamentário depois da eleição. No fim dos anos 1990, já tínhamos um superávit.
• Ironicamente, um sistema de voto popular seria mais antidemocrático do que o Colégio Eleitoral. Com efeito, ele marginalizaria os eleitores de fora dos grandes centros populacionais. O colégio obriga os candidatos a conhecerem as questões que preocupam o eleitorado dos estados indecisos, sejam grandes, sejam pequenos. Como este ciclo eleitoral demonstrou enfaticamente, milhões de americanos sentiam que suas preocupações e angústias estavam sendo ignoradas pelas “elites” de Washington. O Colégio Eleitoral assegurou que as vozes deles fossem ouvidas com clareza em estados como a Pensilvânia.
• Um sistema de voto popular centralizaria mais o poder em Washington. Precisaríamos ter leis e procedimentos eleitorais uniformes no país inteiro com relação à habilitação para votar, ao horário de votação, à votação antecipada, às cédulas de ausentes e à apuração e divulgação dos votos. Seria necessário muito mais policiamento nas cerca de 175 mil zonas eleitorais do país para garantir a lisura das eleições. Isso, por sua vez, atrairia abusos eleitorais em todo o país por parte de Washington. Você confiaria no que se tornaria inevitavelmente um órgão politizado (veja o Departamento de Justiça de Obama e a Receita Federal), sediado na capital, para supervisionar uma eleição presidencial? Num sistema desse tipo, Hillary Clinton teria obtido uma vitória esmagadora.
• O Colégio Eleitoral determina o vencedor rapidamente. Tivemos várias eleições em que a margem do voto popular foi pequena. O colégio, porém, apresentou-nos sem demora o vencedor, exceto em 2000, quando, pela segunda vez na história dos Estados Unidos, o voto popular e o do colégio ficaram extremamente próximos.
Em eleições apertadas, o esquema de voto popular traria a certeza de processos judiciais intermináveis e prejudicaria a legitimidade do vencedor final.
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Adotar um sistema novo exigiria uma emenda constitucional. Mas calma! Vivemos numa época em que nuances constitucionais são cada vez mais ignoradas, particularmente pelo governo que está de saída. Existe uma organização chamada National Popular Vote que está tentando driblar nosso documento fundador. Ela vem incentivando os estados a aprovar leis que exijam que os membros do Colégio Eleitoral votem não no candidato que vença em seu estado específico, e sim no candidato que obtenha o maior número de votos populares no país como um todo.
Onze estados aprovaram tal legislação. O dispositivo entraria em vigor quando os estados que aprovassem essa lei fossem detentores de 270 votos no colégio. Vamos parar com esse tipo de manobra dissimulada e fazer um debate franco e aberto. Se o povo deste país quer uma nova maneira de escolher nosso presidente, que seja pela via correta: por emenda constitucional.
*Steve Forbes é editor-chefe de FORBES