O Brasil é o país que mais transfere jogadores de futebol no mundo. Entre janeiro de 2015 e abril de 2016 foram 2.323, mais que o dobro do segundo colocado, a Argentina.
Este é um mercado gigante que nos primeiros 11 meses de 2016 mudou a vida de 14.446 jogadores (2.104 destes eram menores de idade) gerando receitas de mais de R$ 16 bilhões.
Com o objetivo de aumentar a transparência e o controle deste mercado todos os anos, a FIFA aprovou a criação de um novo sistema para coordenar o mercado internacional de transferências de jogadores. O FIFA TMS (Sistema do Mercado de Transferências, em tradução do inglês).
As razões para a iniciativa são muitas: controlar as transferências de menores de idade, reduzir a influência dos agentes e investidores no mercado do futebol, estabelecer regras que regulem quando e como as transferências são feitas, etc.
Quem ganha a vida explorando as transferências de jogadores não gostou nada da novidade.
Quando um jogador qualquer é comprado por um grande clube europeu, logo pensamos que o clube e o atleta se deram muito bem. Mas a verdade está muito longe disso porque a maioria dos jogadores não são propriedades dos clubes nem são vendidos por eles. Uma complexa rede de investidores controla grande parte dos passes e quem os vende são agentes profissionais.
Investidores e agentes não gostaram nada das novas regras.
Fundos de investimento compram partes do passe do jogador esperando faturar na sua venda para a Europa. Como a maioria dos clubes estão falidos, aceitam a intromissão sem muita resistência. É mais ou menos como aquele trabalhador que adianta parte de seu 13o salário no meio do ano para pagar algumas contas atrasadas.
O investimento é de alto risco pois poucos jogadores dão lucro. Mas quando uma venda daquelas acontece, ela paga por todas os outros que só deram prejuízo.
De acordo com as regras da FIFA TMS, há muitas limitações para quem e como se pode investir. Com o tempo isso fará que os clubes passem a ter mais controle sobre os jogadores e sofram menos influência de quem não tem nada a ver com o futebol.
A outra categoria afetada são os agentes.
Há agentes representado o clube que vende, agentes representando o clube que compra, agentes representando o atleta, agentes representando os agentes e por aí vai. Todos levam uma fatia do lucro na transação final. Adivinha quem acaba ganhando menos nessa história? O pobre do atleta.
Em 2016, uma em cada três vendas contaram com a intermediação de agentes. No total (só na janela de negociações do verão europeu) eles faturaram quase R$900 milhões.
Estes números só não são piores porque a FIFA TMS foi criada há nove anos. Surpreendentemente, ela não é uma iniciativa da nova administração, liderada por Gianni Infantino. Esta medida foi votada e aprovada em 2007 durante o 57o Congresso da FIFA comandado por Joseph Blatter. Sim, Blatter.
A FIFA TMS cresceu e ganhou muita influência. Ela que é uma das poucas áreas que escapou ilesa às acusações, prisões e escândalos que a organização encarou nos últimos dois anos, é uma referência dos padrões de governança e transparência.
Se a nova administração de Infantino fizer com que outras áreas da FIFA operem como a FIFA TMS, teremos uma organização exemplar comandando o futebol.
A FIFA TMS é um caso de sucesso dos menos comentados pela imprensa internacional. Infelizmente criticar ainda gera mais vendas e cliques do que reconhecer o que funciona.
Mas mesmo em silêncio o trabalho continua sendo bem feito para proteger os atletas. Que sejam copiados para o bem do futebol.