Estresse, ansiedade, drogas, assassinato e suicídio de adolescentes. Esses assuntos são os destaque todos os dias nos noticiários, transformam-se em vídeos virais no YouTube e são temas de filmes e novelas. Mas, para Fiona Jensen, de Cotuit, Massachusetts, essa era uma realidade muito próxima.
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Ela, certamente, não precisou ler o último estudo sobre o impacto do estresse em adolescentes: sua filha e as amigas estavam vivendo isso. Em dezembro de 2008, Fiona e a filha de 16 anos tinham acabado de voltar do funeral de uma jovem do ensino médio que havia sido assassinada durante um incidente envolvendo drogas. Dos amigos da filha que foram para a casa de Fiona depois da cerimônia, um deles era viciado em oxicodona (um fármaco opióide analgésico), o outro estava tão ansioso que passava mal todas as manhãs antes de ir para a escola e um terceiro tomava remédios para depressão. Ao descrever sua própria filha na época, Fiona afirmou que ela era “uma bomba relógio de raiva e tristeza.” “Eu me questionava sobre o que estava acontecendo com esses adolescentes”, afirma. “Eles estavam constantemente em crises de humor, vivendo com uma carga de adrenalina muito alta o tempo todo.”
Cerca de 65 alunos participaram da primeira turma do programa de mindfulness nas escolas. Hoje, já são mais de 15 milAs observações de Fiona foram embasadas por estatísticas de uma pesquisa de 2009 conduzida pela Associação Norte-Americana de Psicologia, que concluiu que 28% dos adolescentes e 14% dos pré-adolescentes se preocupavam muito – e muito mais do que seus pais tinham consciência. Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças listaram o suicídio como a terceira maior causa de morte dos jovens entre 10 e 24 anos. Isso significa cerca de 4.600 jovens mortos anualmente nos Estados Unidos. Fiona viu isso crescer em sua própria comunidade. Seis meses depois de seu primeiro funeral, outros dois vieram na sequência: ambos resultado de suicídios de adolescentes.
“Na época, eu cheguei à conclusão de que precisava fazer alguma coisa”, afirma Fiona. “Eu sentia que parte do problema acontecia porque esses adolescentes não tinham habilidades para parar.”
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Ela sabia que qualquer tipo de solução tinha de fazer parte do cronograma de atividades escolares, já que um programa de redução de estresse realizado no final do dia provavelmente não atrairia muitos adolescentes. Tudo isso sem saber nada sobre abordagens escolares, criação de programas educacionais ou captação de recursos – Fiona é, na prática, uma terapeuta ocupacional. Em janeiro de 2010, ela organizou o primeiro programa piloto para ensinar técnicas mindfulness de respiração, meditação e outros métodos de redução de estresse. Sessenta e cinco estudantes participaram do programa. Em junho daquele mesmo ano, o programa, batizado de Calmer Choice, recebeu o status de “sem fins lucrativos”. No ano escolar seguinte, o programa alcançou 800 crianças. Doze meses depois, já eram 1.500 alunos.
Oito anos depois, em 2017, o programa Calmer Choice já recebeu mais de 15.000 estudantes. E ele não se limitou aos adolescentes – crianças do jardim de infância ao colegial podem participar. “Crianças nos disseram que usam as práticas mindfulness para dormir”, conta Fiona. “Elas praticam antes de um jogo de futebol ou uma partida de luta livre. Em vez de socarem a parede quando estão frustrados, eles sentam e praticam suas respirações mindfulness.”
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Fiona afirma que o mindfulness ensina as crianças sobre resiliência e deve ser algo aprendido de dentro para fora. Para fazer isso, o programa explora o quanto o estresse afeta o cérebro e como o mindfulness pode ajudar qualquer um a recuperar o controle.
O Calmer Choice fechou uma parceria com a Universidade Tufts, em Boston, para estudar e medir o efeito do mindfulness nos jovens que participaram e os estudos continuam com a Yale, MIT e Harvard.
A iniciativa acabou se tornando um trabalho em tempo integral para Fiona, que deixou seu antigo emprego há três anos. Mas ela não tem a intenção de voltar. “Eu acredito que na escola em que você aprende matemática, ciência e história, também deveria aprender mindfulness”, diz. “Imagine que, ao concluir o ensino médio, você tenha o mindfulness no seu arsenal de conhecimento. Posteriormente, quando chegar à faculdade e se sentir mal – seja porque brigou com alguém querido, foi mal em uma prova ou simplesmente porque a vida o está sobrecarregando – você vai pensar, esperar um minuto e se questionar o que foi aquela matéria que aprendeu na escola.”