As evidências que apoiam o uso de drogas psicodélicas para tratar depressões persistentes continuam a aumentar. Um estudo descobriu que a psilocibina, ingrediente psicoativo encontrado em cogumelos alucinógenos, traz uma nova forma de tratamento da doença, pois permite que crenças enraizadas no paciente se tornem mutáveis.
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A depressão é uma doença complexa, mas, ao longo do tempo, é possível reduzir muitas das suas estruturas subjacentes. Uma delas é a memória. A outra é a crença. Das duas, a crença é menos dinâmica, tendendo a se fixar ao longo do tempo com poucas possibilidades de mudança. Como a depressão de uma pessoa depende de suas crenças, a incapacidade de mudar sua percepção torna o transtorno mais difícil de tratar.
O objetivo dos pesquisadores era saber se a psilocibina, uma droga com um crescente número de estudos, poderia ser útil para mudar as posições da crença em pacientes com depressão resistente ao tratamento. Para testar a ideia, eles organizaram um pequeno estudo com sete voluntários que sofrem com a doença para tomar duas doses orais de psilocibina, de 10 mg e 25 mg, com uma semana de intervalo. Durante a pesquisa, eles receberam suporte psicológico de uma equipe capacitada.
Antes de tomarem a primeira dose da droga, os pacientes tiveram que participar de uma avaliação respondendo a uma série de questões relacionadas a crenças. As perguntas abordaram de tudo, de preferências de viagens de férias a difíceis questões políticas e sociais. As mesmas perguntas foram feitas novamente duas vezes, sete e 12 meses depois do tratamento, e as respostas comparadas.
O que se observou foi que o tratamento com o psicoativo foi associado a mudanças significativas nas respostas. Para a série de questões relacionadas à natureza, os pesquisadores relataram que os voluntários demonstraram um comportamento mais “conectado ao meio ambiente”. Já nas questões políticas e sociais, eles notaram uma mudança em direção a uma mentalidade mais libertária, até mesmo aqueles que, originalmente, responderam com posicionamento autoritário. Um grupo de sete participantes de controle, que não receberam a droga, não demonstraram mudança ao longo do mesmo período.
“Houve um efeito significativo em ambas as medidas que se manteve por cerca de um ano”, contou Taylor Lyons, pesquisador PhD e primeiro autor do estudo.
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Se essas mudanças de crença são algo positivo é algo que ainda não dá para dizer, mas esse não era o intuito do estudo. Na verdade, o fato de os pensamentos terem mudado é notável e sugere que, talvez, a psilocibina seja capaz de trazer resultados em pessoas resistentes aos tratamentos convencionais, uma vez que permite que elas se desliguem de certas crenças que ancoraram sua depressão.
“Crenças e atitudes, geralmente, são mantidas por um longo tempo e não mudam durante a vida. As pessoas não costumam mudar de um lado para o outro, elas tendem a ser consistentes. Os participantes só tomaram a substância duas vezes, e essa mudança ocorreu rapidamente”, explica Lyons.
Esse foi um estudo reduzido e os resultados ainda não são conclusivos, embora sejam muito intrigantes. No momento, não é possível isolar todos os fatores que podem ter contribuído para a mudança das crenças, mas o fato de elas terem mudado (e terem permanecido alteradas) depois do medicamento, sugere que o efeito não é coincidência. Os estudiosos podem muito bem ter encontrado uma dinâmica que ajuda a explicar por que os psicodélicos estão avançando em casos de depressão que tratamentos tradicionais, incluindo terapia e medicamentos antidepressivos padrões, não conseguiram influenciar.
É necessário pesquisar muito mais, mas as descobertas iniciais sugerem que essas drogas podem oferecer uma oportunidade de abordar transtornos de saúde mental de um novo ângulo. “Algo está acontecendo, agora precisamos descobrir o que é”, diz o pesquisador.
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