Na primeira parte da reportagem, Paul Ekman, psicólogo pioneiro da ciência da expressão emocional e da detecção de mentiras, classifica inverdades em diferentes contextos, do aceitável ao inaceitável.
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É possível ainda identificar sinais não-verbais que informam a “reação instintiva” às mentiras. As reações viscerais são julgamentos primitivos, não analíticos, mas muitas vezes surpreendentemente precisos, baseados em sugestões do ambiente.
Os políticos que buscam confiança e apoio se revelam por meio de sinais comportamentais sutis, e tais pistas são transmitidas pelos veículos de comunicação. “Poucos de nós conhecemos um presidente, então, confiamos no que a mídia nos mostra sobre confiar ou não no Chefe de Estado”, diz Ekman. Comportamentos importantes e declarações feitas pelos líderes são entregues por uma imprensa livre, “que procura expor a desinformação”, desenterrar qualquer verdade que esteja oculta.
A própria natureza da imprensa de veicular o que é de interesse público é também estar em desacordo com as lideranças políticas. Quando os representantes são honestos, recebem menos atenção da imprensa. Quando dizem mentiras, a imprensa vai atrás da história.
“Informações corretas não são histórias”, diz Ekman. “Desinformação: esse é o ponto de partida para a mídia, que age como forma de proteção contra a falta de informação.” Geralmente a imprensa consegue a história quando recebe um político para “responder a uma pergunta que ele não queria ter sido perguntado sobre”, diz Ekman.
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Um político, voluntariamente ou involuntariamente, é “desvendado” por meio de respostas não ensaiadas às perguntas da mídia. “A maioria dos políticos é bem treinada e preparada, e isso diminui as chances de se conseguir o que chamo de ‘vazamento não-verbal’, incluindo microexpressões”, diz Ekman.
O vazamento involuntário e não-verbal é uma expressão facial que escapa e revela a real emoção sentida no momento. Esta, por sua vez, conflita diretamente com a impressão que se tenta passar.
O vazamento involuntário é universal e acontece com todo e qualquer indivíduo. É resultado de falhas na supressão consciente ou na repressão inconsciente. Quando ocorre como uma microexpressão (expressões faciais fugazes que revelam emoções que tentamos ocultar), leva 1/25 de segundo. As microexpressões vazadas são mais fáceis de isolar e identificar com um pouco de treinamento e ao observar o rosto de alguém em um vídeo em pausa.
Para os olhos destreinados, as microexpressões em tempo real podem passar uma sensação de desconforto e desconfiança no vazamento individual, mesmo que a pessoa não saiba dizer por quê. O vazamento emocional involuntário nem sempre é breve. Às vezes, pode durar por períodos mais longos, nos quais dois grupos de músculos faciais riscam o rosto e produzem uma assimetria perceptível. Um exemplo da assimetria no vazamento emocional é alguém sorrindo com a boca quando seus olhos parecem estar prestes a chorar.
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“Quanto mais preparada a pessoa estiver, menos escape de expressão ocorrerá. Logo, para surpreender, é preciso pegar alguém de surpresa ou fazer uma pergunta para a qual essa pessoa não ensaiou uma resposta”, diz Ekman. “Acredito que o caminho para um líder político construir confiança é ter frequentes coletivas de imprensa nas quais não haja resistência sobre quem é chamado para fazer perguntas, por exemplo.”
Quando a mídia coloca o político na posição de entregar uma resposta não-ensaiada, ele apresenta seu rosto para o exame público e detecção de “insinceridade”.