Até que ponto o ex-CEO da Starbucks, Howard Schultz, pode realmente chegar em uma disputa como candidato independente à presidência dos Estados Unidos agora que ele revelou ao mundo suas intenções?
O topo da primeira página da edição de ontem (27) do “The Drudge Report” anunciava:“Schultz vai participar da corrida presidencial como candidato independente… Explosões de ambos os lados”. E, embaixo, em letras menores e mais discretas: “Hillary decide não sair em 2020”.
Desde 1848 os norte-americanos não elegem um candidato que não seja democrata ou republicano. E, nos últimos 170 anos, nenhum terceiro concorrente chegou nem mesmo remotamente perto disso. Desde 1920, apenas três candidatos independentes – Robert La Follette (1924), Strom Thurmond (1948) e George Wallace (1968) – receberam votos nos pleitos realizados.
Mas será que Schultz conseguirá um estado ou um colégio eleitoral? Ele deve realmente participar da corrida presidencial? Essas são boas questões para serem colocadas em pauta. Ou ele está fazendo isso no contexto de uma nova disputa Trump-Hillary, o horror que não deve ser subestimado?
Howard Schultz é de origem humilde, cresceu em moradias públicas no Brooklyn. E teve visão e bom senso empresarial para perceber que grãos de café com preço exorbitante poderiam valer seu peso em ouro. Seu patrimônio líquido é estimado em cerca de US$ 3 bilhões.
Sim, Schultz enfrenta algumas perguntas óbvias do mercado. Por exemplo: o que o vício norte-americano na Starbucks significa para o bem-estar físico e econômico do país?
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Elizabeth Warren – a senadora democrata por Massachusetts de 69 anos que já anunciou sua intenção de se candidatar – deveria transformar a eleição de 2020 em um referendo sobre riqueza pessoal e ganância corporativa? Qual é a defesa da Starbucks? Caso você não tenha notado, as bebidas de café da marca oferecem excelentes margens de lucro.
E, se você gosta de esportes, pode até se esforçar para superar o tratamento vergonhoso dispensado por Schultz aos jogadores de basquete de Seattle. O empresário vendeu o NBA Seattle Sonics para compradores de fora da cidade, fingindo ser um proprietário inocente quando a franquia mudou-se para Oklahoma City.
Então, como essa candidatura independente se encaixa no cenário de 2020?
Vamos começar a análise pelo clube dos meninos bilionários – Schultz, Trump e o ex-prefeito de Nova York Michael Bloomberg. Este último parece determinado a correr em um campo democrata já congestionado. É um encaixe estranho, na melhor das hipóteses.
Os ativistas democratas irão adorar a busca incansável de Bloomberg pelo controle de armas e sua atitude pró-estatal de babá para com os apreciadores de refrigerante, sal e fumo. Mas Bloomberg também foi um prefeito apoiador das escolas, da lei e da ordem, afeito a práticas duras. O que não vai funcionar com o pessoal da “MSNBC”.
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E mais uma coisa sobre Michael Bloomberg: ele é um candidato rápido nas campanhas, financeiramente super cafeinadas. Em suas três corridas para prefeito de Nova York, Bloomberg gastou mais de US$ 265 milhões de sua própria fortuna.
Schultz, um contribuinte de longa data dos candidatos democratas, não precisa inundar as ondas de rádio em um primeiro momento – ele já tem atenção suficiente. Dan Pfeiffer, defensor de Obama, por exemplo, tuitou sua opinião sobre a corrente independente: “ideia meio mal cozida”.
Por enquanto, estou disposto a ouvir Schultz, já que o que ele disse no programa “60 Minutes” pode refletir um público cansado de campanhas: “Estamos vivendo um momento muito frágil. Não trata-se apenas do fato de que este presidente não está qualificado para ocupar o cargo, mas de que ambas as partes não fazem o que é necessário em nome do povo norte-americano e estão engajadas, todos os dias, em uma política de vingança”.
Schultz acredita que a maior ameaça doméstica para os Estados Unidos é “essa dívida de US$ 21 trilhões que paira sobre o céu da América e as futuras gerações. A única maneira de sairmos disso é aumentarmos a economia, na minha opinião, em 4% ou mais. E, só então, irmos atrás de direitos”.
Se mantiver essas palavras e conseguir algum tipo de tração até o outono de 2020 – algo em torno de 10% -, eu daria a ele um lugar nos debates presidenciais, ao lado dos candidatos democratas e republicanos. Em 2016, um recorde de 259 milhões de norte-americanos assistiram aos três duelos televisivos entre Trump e Hillary. Imagine o quão melhor seria um confronto com o empresário disruptor em cena.