Os seres humanos são os assassinos mais implacáveis e inconscientes da Terra, e nossa violência opera muito além dos limites de qualquer outra espécie viva. Essa agressão letal é extensa, pois não apenas matamos outras espécies, como também matamos a nossa. A razão por trás disso é que temos circuitos neurais de raiva e agressividade codificados biologicamente, e a violência – como todo comportamento humano – é controlada pelo cérebro.
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Assim, à medida que os esforços se intensificam para construir capacidade humana semelhante à da inteligência artificial, é preciso entender que, quando circuitos neurais de violência são replicados em máquinas, estamos permitindo a replicação e transferindo os gatilhos da violência.
Agora, independentemente do homem ou da máquina, o fator mais importante na violência talvez não seja o político, mas o biológico. Então, já que temos circuitos neurais de raiva e violência, precisamos mesmo fornecer essas características para a inteligência artificial? Como a empatia e a agressividade têm os mesmos circuitos no cérebro humano e replicam as mesmas qualidades nas máquinas inteligentes, os sistemas autônomos em rápida evolução estão criando bandeiras vermelhas para o futuro da humanidade.
No entanto, há outro caminho, no qual um polvo pode servir de modelo para o desenvolvimento de um funcionamento confiável da inteligência artificial.
Ascensão dos sistemas autônomos
Os sistemas autônomos que podem pensar e agir por conta própria estão em ascensão e os riscos resultantes de aplicações poderiam muito bem destruir a humanidade.
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A tecnologia autônoma emergente parece ser transformadora, disruptiva e detém o potencial para habilitar inteiramente novas capacidades de inteligência e resolução de problemas para ecossistemas humanos no ciberespaço, geoespaço e espaço (CGS). Mas a própria ideia de um sistema autônomo inteligente, que tem o ser humano como modelo de circuitos neurais e onde hardware e software trabalham juntos para coletar informações, encontrar uma solução baseada nos dados coletados e executar uma ação (até mesmo para matar um homem) para atingir uma meta está se tornando assustadora.
É importante entender que os sistemas autônomos são mais do que máquinas independentes. São recursos capazes de se adaptar a condições mutáveis, com conhecimento e que não possuem restrições inerentes ao código. Recebem objetivos amplos para aumentar o desempenho, a segurança, reduzir custos. Porém, as ações e os resultados que eles precisam para alcançar esses objetivos amplos (baseados nos circuitos neurais humanos) faz com que sejam altamente imprevisíveis e propensos à violência. Não seria irracional que máquinas se voltassem para a competição, violência e até mesmo para a eliminação de outras espécies – incluindo a própria espécie humana.
A questão é: enquanto sistemas autônomos estão se tornando importantes para a visão científica e tecnológica de uma nação, devemos criar uma inteligência com circuitos neurais similares ao humano, permitir que eles pensem sozinhos e confiar neles cegamente?
Sistemas autônomos em evolução
Em todos os países, uma ampla gama de sistemas autônomos cada vez mais sofisticados para aplicações práticas está a caminho. Eles exibem altos graus de autonomia e podem executar tarefas independentemente dos operadores e controle humanos. Sem intervenção direta e orientação externa, hoje esses recursos em evolução podem interagir com o homem e a máquinas. São capazes de conduzir diálogos com clientes em centrais de atendimento online; direcionar mãos robóticas para pegar e manipular objetos incessantemente e com precisão; comprar e vender ações em grandes quantidades em milissegundos; prever mercados; fazer drones voarem e armas atirarem; dirigir carros e evitar uma colisão; classificar o comportamento humano e aplicar multas; promover ataques cibernéticos e prevenir ataques cibernéticos; limpar casas, cortar grama, retirar ervas daninhas; fornecer vigilância e segurança; fazer empréstimos; e até lançar missões espaciais.
O armamento da inteligência artificial já começou, e o poder do autogoverno já está em vias de ser transferido para máquinas autônomas inteligentes em alguns casos. Isso dá a esses sistemas a capacidade de agir independentemente de qualquer controle humano direto e explorar condições não ensaiadas para as quais eles não são treinados a fazer – ou seja, ir a lugares onde nunca foram antes.
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Ao reconhecer essa realidade, o Risk Group abriu uma discussão sobre sistemas autônomos no Risk Roundup com o Dr. Hans Mumm, um especialista nessa tecnologia, futurista e principal investigador da Victory Systems, com sede nos Estados Unidos.
Desafios e riscos complexos
Que desafios a civilização humana enfrentará ao expandir a aplicação de sistemas autônomos? Quais serão os riscos? Embora seja importante compreender e avaliar o desenvolvimento das capacidades, alcance e impacto da tecnologia, é mais importante estar atento aos complexos desafios e perigos que ela trará para o futuro da civilização humana.
À medida que testemunhamos o crescente número de aplicações de sistemas autônomos, precisamos começar a avaliar as ameaças associadas ao entender primeiro e acima de tudo: por que estamos dando às tecnologias autônomas um molde humano como circuito/cérebro neural? Se não fomos capazes de tornar a raça humana responsável, por que queremos criar outra espécie inteligente com circuitos neurais semelhantes aos nossos, e por que esperamos que eles sejam responsáveis?
É lamentável que o rápido progresso e desenvolvimento de sistemas autônomos nos tragam o lado mais obscuro para nossa própria sobrevivência e segurança. Mas não é tarde demais. Podemos reverter e corrigir o curso.
Próximo passo
Embora o princípio da autonomia implique na liberdade da ação e na tomada de decisões, à medida que nos movemos em direção ao desenvolvimento de sistemas autônomos (com a abordagem atual), a condenação da civilização humana é quase certa. Portanto, é urgente que cada um de nós compreenda e avalie por que estamos replicando a ciência da violência do homem em máquinas autônomas inteligentes.
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Talvez haja outro caminho. Vamos considerar a definição e concepção de redes neurais para refletir não o cérebro humano vertebrado centralizado (como é o foco hoje), mas o polvo cefalópode. A espécie evoluiu com sistemas nervosos muito maiores e maior complexidade cognitiva, e talvez seja o mais próximo de uma espécie alienígena inteligente, que usa e implementa um sistema distribuído descentralizado.
Isso talvez seja o argumento central, à medida que nos movemos em direção ao desenvolvimento de uma economia descentralizada. Essa abordagem dos sistemas autônomos dirigidos pela inteligência artificial faz mais sentido para o futuro da civilização humana e sua segurança?
Estamos no momento de explorar o desenvolvimento de sistemas autônomos com a mente de um polvo em vez de um ser humano.