Gosto de filmes que continuam ecoando na minha cabeça depois que saio do cinema. Acredito que o papel da arte seja mexer com algo no público, provocar reflexões ou mudanças culturais, e creio que dos concorrentes ao Oscar de melhor filme deste ano, “Pantera Negra” seja o que chega mais perto disso. Em vinte anos, as pessoas ainda vão se lembrar de T’Challa e seus companheiros de Wakanda. Acho pouco provável que o mesmo aconteça com “Roma”, “A Favorita” ou “Green Book”, mais cotados deste ano. Vai ser como o caso de “E.T.”, que em 1982 foi preterido por “Gandhi”.
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Todos esses que citei acima são bons filmes. Não estou questionando isso. Mas uma premiação que tem buscado se renovar, após sucessivas críticas por falta de representatividade e cuja audiência dá sinais de cansaço, poderia fazer bom proveito da chance de premiar o longa da Marvel. Em 2018, a audiência nos Estados Unidos foi 20% menor que a do ano anterior: 26,5 milhões de pessoas. Em geral, nunca fica abaixo de 30 milhões de espectadores.
Listo a seguir minhas razões pelas quais “Pantera Negra” deveria ser vencedor de melhor filme, apesar de saber que as chances de isso acontecer são remotas.
1. O óbvio: é um bom filme
Talvez algum dos outros indicados seja melhor, não nego. Mas o Oscar é mais um concurso de popularidade do que um reconhecimento de excelência. Em geral, vence quem tem a melhor campanha de marketing. “Cisne Negro” e “Inception”, por exemplo, eram muito melhores que “Guerra ao Terror”, vencedor de 2009.
2. Representatividade
Que outro filme recente trouxe um elenco negro numa situação de tanta força? O poder dos guerreiros de Wakanda inspirou as novas gerações, virou símbolo para gente que pouco se vê no cinema de maneira tão positiva. Mais do que discurso politicamente correto, para a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas (que organiza o prêmio) tem caráter pragmático: quatro anos depois, o movimento #OscarsSoWhite ainda ronda o evento. É uma chance de o prêmio se mostrar em sintonia com os tempos atuais.
3. A lucratividade dos filmes de heróis
Sou dos que mais reclamam do que costumo chamar de era da morte da criatividade. Os anos 2010 foram marcados por novas versões de filmes antigos (os tais remakes e reboots) e por blockbusters de super-heróis – mesmo eu, que eu sou leitor de Marvel e DC desde pequeno, reconheço que tem herói demais. Mas dá dinheiro, né, fazer o quê? As bilheterias amealhadas nos últimos dez anos deixaram muita gente na indústria rico. Só “Pantera Negra” fez US$ 1,3 bilhão (custou US$ 200 milhões). Claro, não existe relação entre sucesso comercial e ganhar o Oscar. O último a fazê-lo foi o terceiro filme da série “O Senhor dos Aneis”. Em algum momento, Hollywood vai ter que reconhecer tanto dinheiro que os filmes desse subgênero trouxeram, então melhor que seja com o Pantera, que merece.