Abraham Lincoln dizia que, para conduzir povos, três virtudes eram capitais – paciência, tolerância e indulgência. De maneira cristã, acredito que humildade e compreensão completam o polígono que deve nortear a liderança de povos e nações.
Trago esses conceitos para um Brasil cujas divisões internas, geradas por temas irrelevantes, fazem-nos esquecer de olhar para aquilo que realmente é vital e urgente: erradicar a pobreza neste país. Temos passado, gerações após gerações, a chegar perto de uma riqueza gerada e distribuída que caracteriza uma nação justa. E sempre, no limiar da grande passagem para os US$ 20 mil de renda per capita que nos levará ao nível de país desenvolvido, engasgamos, vomitamos e retrocedemos.
Se estudarmos os resultados da pesquisa do IBGE recém-publicada, ficaremos pasmos diante da profundidade em que, desde 1980, o país submergiu – e da consequente perda de posição relativa entre as nações em desenvolvimento. Nossa produtividade por trabalhador naquele ano era cinco vezes a da Coreia e mais de 20 vezes maior em relação à da China.
Hoje a situação se inverteu, e nossa produtividade em relação a esses mesmos países é inversa à de 1980. E nossa indústria, ao menos nos últimos 15 anos, parou de crescer.
Mais aterrador ainda é o panorama social. Pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, como bem escreve Ana Carla Abrão, ficamos sabendo que há 55 milhões de brasileiros abaixo da linha da pobreza, dos quais 43% são crianças de 0 a 14 anos. Além da precária situação de renda, essas pessoas vivem sem água potável e sem sistema de esgotos, sem transporte e sem assistência médica, e convivem com níveis educacionais abaixo da média da América Latina e com as taxas mais altas de homicídios e feminicídios do universo. Tudo isso é – ou deveria ser – motivo de uma vergonha mortal. Esse não pode ser nosso país real, dono de um dos maiores e mais generosos territórios do planeta e de um PIB de R$ 6,8 trilhões.
A agenda Brasil sem Pobreza clama por medidas práticas e urgentes: reverter o papel concentrador de renda do Estado, desde a educação e a saúde até a Previdência Social, destravar a burocracia que hoje impede o crescimento e a geração de empregos, dinamizar a infraestrutura física e promover a integração nacional e, acima de tudo, resgatar o respeito pela pessoa humana.
Esse não pode ser nosso país real, dono de um dos maiores territórios do planeta e de um PIB de R$ 6,8 trilhõesComeçamos uma nova administração federal e 27 novas estaduais. Bom momento para uma reflexão saudável sobre a união de propósitos e de ações para erradicarmos a pobreza neste grandioso país. E, se fui buscar uma citação de Lincoln para iniciar este artigo, foi para demonstrar como um político ainda considerado provinciano pôde se transformar, pelo exercício da liderança esclarecida, no maior presidente da história americana. Ele enfrentou uma guerra (de Secessão) de incrível violência, e, vencedor, estendeu a mão aos vencidos para com eles construir, pelo diálogo e pelo respeito, as bases de uma nação líder mundial.
A situação brasileira nos mostra que o consenso está perto, dando o sinal para a implementação da agenda Brasil sem Pobreza.
Classes produtoras, trabalhadores, militares, servidores civis, mulheres e homens de bem de todas as classes sociais estão e estarão à frente desse e de outros movimentos cidadãos se o mundo político acordar ao chamamento de pobres e ricos, para apoiar com suor e trabalho a missão de não mais apenas reconstruir o que estava demolido, mas a de construir para sempre as bases de um novo Brasil.
Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.