Se houvesse um prêmio de incompetência cômica na política, a Grã-Bretanha ganharia de lavada. A ilha estragou por completo o Brexit desde o referendo de junho de 2016. Hoje, a economia do país está praticamente paralisada, e a maneira pela qual o divórcio da União Europeia se desenrolará permanece um mistério. O governo conservador que está no poder foi tão inepto que o inconcebível aconteceu: o maligno líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn – marxista, antiamericano e antissemita –, pode se tornar o próximo primeiro-ministro. (Sete membros trabalhistas do Parlamento saíram recentemente do partido devido às visões perversas de Corbyn.) O país tinha a oportunidade de se transformar em uma potência econômica mundial, combinando o melhor da Suíça, de Hong Kong e de Singapura. O enorme sucesso que isso teria gerado faria países da UE sonharem em entrar para o Reino Unido. Em vez disso, o regime conservador optou pela deriva, pela confusão e pela política do agrado, de mais gastos “compassivos” e mais regulamentação. Barack Obama se sentiria em casa.
• Insurgentes ineficazes. Depois do referendo e da renúncia do primeiro-ministro em exercício, David Cameron, que havia arquitetado a votação na crença de que o Brexit nunca seria aprovado, os conservadores colocaram no comando do país alguém que se opunha ao Brexit; os principais apoiadores do Brexit tinham se envolvido em brigas internas e foram incapazes de se unir em torno de um candidato. Tem sido uma desordem inconveniente desde então. Como se a incompetência fosse pouca, Theresa May convocou uma eleição antecipada, pensando que seu partido teria uma vitória esmagadora. Em vez disso, ele perdeu por maioria absoluta.
• Um governo de picaretas medrosos. Reduzir drasticamente o imposto de renda ou até mesmo promulgar um imposto fixo, a exemplo de vários países da Europa Central e do Leste Europeu? Continuar a limar a burocracia inchada, como Cameron vinha fazendo com sucesso desde que assumiu o cargo, em 2010? Reduzir os encargos para as empresas, especialmente as startups? Deus o livre! Essas medidas sensatas gerariam críticas no sentido de estarem ajudando os ricos, de serem favoráveis aos negócios e contra o meio ambiente. Theresa May e sua equipe covarde não tiveram disposição para a ousadia pró-crescimento de Margaret Thatcher, que, desde sua saída de Downing Street, há quase três décadas, praticamente deixou de existir em seu partido.
Desnecessário dizer que a Grã-Bretanha não podia nem imaginar tornar-se uma potência econômica por meio da abolição unilateral de praticamente todas as tarifas e barreiras comerciais, como fez Hong Kong depois da Segunda Guerra Mundial, o que foi decisivo em sua transformação de um pedaço de terra pobre, superlotado e sem recursos naturais em uma das economias mais ricas do mundo. Sem mencionar que se ela tornou a capital financeira indiscutível da Europa – ou mesmo do mundo – ao tornar a libra tão valiosa quanto o ouro, medida tomada por Isaac Newton em 1717, quando chefiava a Casa Real da Moeda. A libra de ouro lançou as bases da germinação, pela Grã-Bretanha, da Revolução Industrial e de sua conquista do maior império da história.
UM FILME ESCLARECEDOR SOBRE O DINHEIRO
No início deste ano, a PBS lançou oficialmente o documentário “In Money We Trust?”, baseado em um livro que escrevi em conjunto com Elizabeth Ames, “Money: How the Destruction of the Dollar Threatens the Global Economy – and What We Can Do About It”. Produzido sob os auspícios da Maryland Public Television, o filme aborda a questão “O que é dinheiro?” de uma maneira totalmente nova e empolgante.
Essa narrativa fascinante explica como a invenção do dinheiro confiável, há 2.500 anos, deu início ao comércio e à cooperação entre estranhos, o que impulsionou as conquistas humanas desde o surgimento da filosofia, em Atenas, até a revolução da alta tecnologia, passando pelo Renascimento. O programa também explora o que acontece quando a confiança no dinheiro é prejudicada, exemplificando de maneira impressionante com a hiperinflação da Alemanha no início da década de 1920, que criou as condições para a ascensão de Adolf Hitler, e com o caos da Venezuela de hoje.
A especialistas de destaque são feitas perguntas cruciais, como “Devemos fazer reformas ou continuar com o atual sistema monetário?” e “O que devemos fazer a seguir?”. Entre os entrevistados estão Alan Greenspan e Paul Volcker, ambos ex-presidentes do Federal Reserve; Amity Shlaes, que escreveu “The Forgotten Man”, livro bastante aclamado sobre a Grande Depressão; e Adam Fergusson, autor de “When Money Dies”, a história definitiva da hiperinflação alemã após a Segunda Guerra.
Com duração de uma hora, o programa é particularmente pertinente por ser exibido no décimo aniversário da crise financeira de 2008-2009. O desgaste da confiança no dinheiro nos tempos causou maior turbulência social e menor crescimento econômico, além de abrir caminho para o advento das criptomoedas.
Em dezembro passado, a Mutual of America, fornecedora líder de produtos de aposentadoria e principal patrocinadora do programa, organizou um evento em sua sede em Nova York para uma exibição especial de “In Money We Trust?” O CEO da empresa, John Greed, expressou bem: “Em vista da atual volatilidade nos mercados financeiros e do potencial impacto dela nas contas de poupança dos norte-americanos, este documentário é oportuno e apresenta uma perspectiva histórica de como a confiança no dinheiro é importante para uma sociedade próspera”.
As reações a esse documentário esclarecedor têm sido bastante positivas. Durante uma apresentação em um evento de outro patrocinador importante, o Washington Examiner, inúmeros espectadores observaram que ele deveria ser exibido em escolas e faculdades.
Como estive muito envolvido nesse projeto, esse feedback positivo aumentou ainda mais minha gratidão àqueles cujo apoio o viabilizou: BNSF Railway, Foundation for Individual Liberty, Jeff Yass, Joe Ricketts, Baron Capital Foundation, Sean Fieler, Hillwood Development Co., United Refining Co. – na pessoa de seu CEO de espírito público, John Catsimatidis – e, claro, Mutual of America e Washington Examiner.
NÃO TRIBUTE OURO NEM PRATA
Quando troca uma nota de US$ 20 por duas notas de US$ 10, você não paga imposto de venda referente à transação, embora, teoricamente, esteja “comprando” as notas de US$ 10. Seria uma ideia completamente absurda. No entanto, se você comprar uma moeda de ouro que foi criada pela Casa da Moeda dos EUA e é utilizável legalmente em transações comerciais, terá de pagar imposto sobre a venda dessa moeda em alguns estados. Também de acordo com o Tio Sam, quem compra e vende essas moedas está sujeito a impostos sobre ganhos de capital. É claro que você nunca compraria um dólar de ouro da Casa da Moeda por, digamos, US$ 35 e depois o usaria para pagar uma barra de chocolate de US$ 1, mas o fato é que essas moedas são dinheiro de curso legal.
É por isso que a Casa Branca deveria seguir a recomendação do American Principles Project, uma organização que, entre outras coisas, defende o dinheiro sólido: “O presidente Trump deveria instruir o Departamento do Tesouro a publicar uma regra que acabe com a taxação das moedas de ouro cunhadas pelos EUA”. Já que estamos tratando disso, vamos incluir também as de prata.
É só uma questão de tempo para Washington baixar novamente o valor do dólar, e as pessoas deveriam poder se proteger dessa desvalorização. E algum dia, em breve, o Congresso deveria permitir o uso, pelos norte-americanos, de moedas alternativas para transações comerciais domésticas, caso queiram fazê-lo.
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