Resumo:
- Os sistemas operacionais da empresa, Ark ou HogMeng, registrados na Europa como Harmony, serão usados em dispositivos conectados à internet (IoT);
- A presença da Huawei na lista negra dos Estados Unidos, que está em guerra comercial com a China, criou problemas na escolha do sistema operacional dos smartphones da companhia;
- A dependência do Google e do Android são vitais para os negócios da empresa em mercados fora da China.
Há meses, especula-se se a Huawei revelará um novo sistema operacional para substituir o Android em seus smartphones. Quando todos se preparavam para atualizações do Ark/HongMeng (sistemas próprios da Huawei) baseadas no Android, surgiram mais fofocas de que talvez a base fosse ser o russo Aurora OS. No início de julho, porém, veio a revelação de sistemas operacionais da Huawei, na verdade, foram projetados para equipamentos de comunicação conectados à rede (Internet das Coisas – IoT) da marca, não para telefones. Agora, na semana do dia 15, mais uma reviravolta: os sistemas operacionais próprios para celular podem ainda estar em progresso, mas, pelo menos na Europa, não serão chamados de Ark ou HongMeng. No velho continente, o nome será “Harmony”.
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“Essa série de declarações não faz sentido”, queixou-se a Huawei Central no último final de semana – e isso foi antes da revelação do Harmony. “Temos de esperar até que surjam desenvolvimentos mais sólidos nesta história.”
Realmente, precisamos esperar.
Os detalhes de um sistema operacional móvel da Huawei surgiram em maio, quando Richard Yu, CEO da divisão de consumidores, disse a um público chinês que um novo sistema operacional para smartphones “estaria disponível no outono deste ano e no máximo na próxima primavera [do hemisfério norte]”. Isso seria “compatível com todos os aplicativos da web e do Android, além de melhorar o desempenho de execução em mais de 60%”.
Bem interessante. E essas melhorias acabaram gerando várias manchetes. Tudo bem, menos as letras miúdas. Em entrevistas diferentes, tanto o CEO como o presidente da Huawei minimizaram a possibilidade de qualquer sistema operacional móvel ser lançado pela empresa para seus smartphones. “Ainda não decidimos se HongMeng será desenvolvido como um sistema operacional para smartphones no futuro”, disse Liang Hua, presidente da empresa, a repórteres em Shenzhen na sexta-feira (12), sugerindo que apenas um corte nas relações com o Android levaria a empresa a explorar tal movimento.
Isso foi logo depois de o CEO da Huawei, Ren Zhengfei, dizer ao “Le Point”, da França, que “o sistema operacional HongMeng não é projetado para telefones como todos pensam. Não o desenvolvemos para substituir o Google – e se o Google retirar seu sistema operacional da Huawei, precisaremos começar a construir um ecossistema, porque ainda não temos um plano claro”. Quando o veículo perguntou se o tal sistema rodaria mais rápido que o Android, o CEO reconheceu que sua empresa “ainda não fez uma comparação”, embora tenha acrescentado que seja “provável que sim”.
Tudo tinha começado a se encaixar. Mas, então, o site holandês “Let’s Go Digital” informou nesta semana que a Huawei registrou o nome Harmony no Escritório de Propriedade Intelectual da União Europeia (Euipo). “O aplicativo é tido como Classe 9, nas categorias: ‘Sistemas operacionais móveis; sistemas operacionais de computador; programas de sistema operacional baixáveis”.
De acordo com o site, a Forresters (empresa de patentes e marcas registradas) foi responsável por registrar a Harmony em um escritório na Alemanha, a mesma empresa que registrou marcas para “HongMeng e a recém-lançada Huawei P Smart Z”. O site atualizou sua publicação, afirmando que a marca também tinha sido registrada no Escritório de Propriedade Intelectual do Reino Unido.
A liderança da Huawei admitiu que a empresa não possui o ecossistema para competir com o sistema operacional Android nos mercados em que está disponível – ou seja, fora da China. A jogada, que agora parece ter valido a pena, é que os EUA afrouxariam as sanções e permitiriam que fornecedores como o Google voltassem aos negócios normalmente. Um relatório da Reuters na segunda-feira (15) sugeriu que as empresas norte-americanas estavam acelerando os pedidos de licenciamento do Departamento de Comércio para abastecer a gigante chinesa mais uma vez.
Também na segunda-feira, o comitê de ciência e tecnologia do Parlamento do Reino Unido informou ao governo que “não há motivos técnicos para excluir a Huawei totalmente das redes de telecomunicações 5G ou outras do Reino Unido”, embora o presidente da comissão tenha acrescentado que “pode haver considerações geopolíticas ou éticas que o governo precisa levar em conta ao decidir se deve usar o equipamento da Huawei”. Em “considerações geopolíticas”, leia-se a relação com Washington (capital norte-americana), e “éticas”, entenda Xinjiang e as questões envolvendo o estado de vigilância da China.
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No entanto, a matemática básica continua a mesma: a Huawei precisa da Google e do Android para permanecer competitiva no mercado global de smartphones. O medo é que mais uma sanção norte-americana dificultaria a vida ao extremo, dado o lugar aonde os planos chegaram. Segundo a Reuters, “Eric Hirschhorn, ex-subsecretário de Comércio dos EUA, disse que o problema para os funcionários do governo revisarem as licenças [para vender para a Huawei] é que eles não sabem para onde a administração está indo – a política muda a cada dois minutos”.
Há também um claro nível de confusão e reatividade, que talvez forneça mais insights sobre o funcionamento interno da Huawei. Qualquer que seja o lado do debate sobre a queda da empresa chinesa, é difícil argumentar que o marketing e as relações públicas em torno da lista negra e das várias propostas do Plano B estiveram no caminho certo. Juntar à tomada de decisões sobre relações públicas e comunicações, desenvolvimento de tecnologia, planejamento de vendas, gerenciamento de produtos e liderança corporativa provou ser um truque difícil de acertar.
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