A emenda constitucional que autoriza prisão após condenação em segunda instância foi aprovada na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados. Quase ao mesmo tempo, o presidente dessa mesma Câmara, Rodrigo Maia, diz que topa um encontro com Lula – e explica que não deixaria de se encontrar com “um ex-presidente” (coincidentemente o protagonista da questão criminal acima).
Vamos atualizar as configurações para Maia, que tem uma agenda muito corrida como plantonista de telejornais e deve ter perdido essa parte da história: o “ex-presidente” está mais embaixo no prontuário de Lula; a patente atual é “ex-presidiário” – condenado a mais de 20 anos de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Só está solto por uma
manobra esperta do Supremo Tribunal Federal, desfazendo sua própria decisão de apenas três anos antes para aliviar o padrinho.
É justamente essa malandragem do STF que a Câmara começou a desfazer, apesar da diplomacia de porta de cadeia do seu presidente. Pelo enunciado acima, adivinha como Rodrigo Maia vai atuar na matéria?
Ele mesmo, Maia, como uma espécie de ventríloquo visionário de Gilmar Mendes, já tinha colocado a Câmara dos Deputados de quatro – dizendo que legislar sobre prisão em segunda instância seria afrontar o STF. Veja a noção republicana que o presidente da Câmara tem sobre as funções do Poder Legislativo – que segundo ele não pode legislar para não atrapalhar os outros. De fato, há um tipo de democracia em que a função primordial do Legislativo não é legislar, mas conspirar.
Pois Gilmar não se comoveu com a vassalagem e declarou assim mesmo que o Congresso tinha que se recolher à sua insignificância e não ousar contrariar o arroubo do Supremo (numa linguagem mais barroca, claro). Aí Rodrigo Maia, que já tinha posicionado estrategicamente a instituição que representa de quatro, calou a boca – porque nessa posição não há mesmo muito que dizer.
Maia não vê problema em se encontrar com Lula, o bom ladrão. E também não vê problema em declarar que Sergio Moro “acua as instituições democráticas”. Nova coincidência: Sergio Moro foi quem prendeu Lula.
Rodrigo Maia e Gilmar Mendes são dois dos ídolos da delinquência de boa aparência que sonha com a destruição de Sergio Moro e da agenda positiva que está tirando o Brasil da mão dessa federação de cartórios. O problema (para eles) é que o povo dessa vez entendeu o jogo e já mostrou que sabe o que quer.
Guilherme Fiuza é jornalista e escritor com mais de 200 mil livros vendidos, autor dos best-sellers “Meu nome não é Johnny” (maior bilheteria do cinema nacional em 2008), “3.000 dias no bunker” (história do Plano Real, também adaptado para o cinema), “Bussunda – A vida do casseta”, entre outros. Escreveu o romance “O Império do Oprimido” e é coautor da minissérie “O Brado Retumbante” (TV Globo), indicada ao Emmy Internacional.
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