A fintech brasileira Nubank é uma das dez empresas que mais geram valor para investidores que apostam alto em startups de base tecnológica, segundo a última edição da Midas List Europe.
Produzida anualmente pela Forbes em parceria com a TrueBridge Capital Partners, a Midas List Europe mostra as empresas que puxaram o crescimento de portfólios de venture capitalists em 2019. A força de startups europeias é evidente na lista, uma virada em relação à situação de alguns anos atrás, em que a cena de tecnologia no velho continente vivia a reboque dos Estados Unidos e China.
A Midas List Europe ilustra essa nova configuração, com metade das 10 empresas citadas com base na Europa, como a sueca Spotify, a britânica Farfetch e a alemã Delivery Hero. Porém, a verdadeira “outsider” deste ano e detentora de um dos maiores valuations da lista é a latina Nubank, que aparece pela primeira vez na lista.
“Estamos muito felizes em representar a América Latina na Midas List Europe de 2019. As melhores oportunidades de negócio estão sempre onde os consumidores mais sofrem”, diz David Vélez, fundador e CEO do Nubank.
“Os investidores enxergaram potencial nas mudanças que o Nubank está realizando no mercado. Fomos o primeiro investimento no Brasil de alguns dos principais fundos de investimento do mundo”, ressalta.
A avaliação de mercado do maior banco digital do mundo (a empresa já ultrapassou a marca dos 15 milhões de clientes) chegou aos US$ 10 bilhões depois de uma rodada de US$ 400 milhões em julho deste ano, posicionando a empresa como uma das startups mais valiosas da América Latina e chamando a atenção de investidores globais.
“Ajudamos a mostrar as imensas possibilidades que temos aqui na América Latina e, desde então, temos visto muitas outras empresas se beneficiarem destes investimentos. Temos um enorme orgulho de saber que estamos contribuindo para abrir caminho na região”, aponta Vélez.
Tendo captado US$ 820 milhões até o momento, o Nubank continuará acelerando seu crescimento no Brasil, México e Argentina e expandindo a estratégia de internacionalização em outros países ainda não divulgados. Embora planos para uma abertura de capital não tenham sido anunciados, o Nubank certamente tem caixa para executar sua estratégia.
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Corredor na vida pessoal e nos negócios, Vélez acredita que a construção do Nubank é uma maratona e não um sprint. A internacionalização sempre esteve nos planos do colombiano, que buscou manter o foco e aumentar o escopo do negócio gradualmente.
Em uma entrevista anterior com a Forbes, em setembro deste ano, o fundador da startup paulistana falou sobre equilibrar os objetivos de expansão global com a capacidade de execução do negócio, bem como os maiores desafios atuais, não mais relacionados com acesso a capital.
“Expandir tem um custo, mas não é o maior gargalo. A maior limitação é o acesso a talento, e converter dinheiro em pessoas não acontece magicamente – tenho dinheiro para contratar centenas de engenheiros mas não os encontro”, aponta.
Ainda sobre capital, o fundador reflete sobre o atual momento do ecossistema de inovação brasileiro e conclui que a sensação de abundância pode ser outro fator limitante para empresas de alto crescimento.
“A inovação é um produto direto de uma mentalidade de escassez. Essa urgência, essa luta para sobreviver só vem de uma noção de que faltam recursos”, argumenta.
“Esse é o grande pulo do gato: o dinheiro não necessariamente cria o ambiente ideal para inovar e executar, pelo contrário: muitas vezes, atrapalha.”
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Com o mundo a ser conquistado, o maratonista Vélez tem passado uma grande parte de seu tempo fora do Brasil, nos países em que o Nubank já fincou sua bandeira ou pretende entrar com sua “revolução roxa.”
Para dar conta da rotina, o fundador não abre mão de seus treinos diários de corrida e musculação, bem como de dormir no mínimo 8 horas por noite: “Como meu trabalho é gerir equipes e tomar muitas decisões, não dormir bem afeta diretamente a qualidade do meu trabalho.”
Além da preocupação em manter a saúde para tocar a maior startup do Brasil, Vélez admite uma ansiedade que permanece como pano de fundo, relacionada a ter uma vida com propósito: “Meu maior medo é ter uma vida sem sentido. Sentir que essa vida é a única que eu tenho e que não aproveitei todas as oportunidades que tive, ou ver a vida passar sem fazer muito com ela”, ressalta.
No entanto, o empreendedor segue capitaneando a nau de forma a combater esses receios, movido pela intenção de gerar impacto na vida de seus clientes: “Escolhi uma indústria que consegue impactar significativamente a vida das pessoas: existem mais de 600 milhões de pessoas só na América Latina, que vão se beneficiar muito da eficiência que podemos trazer”, aponta. “As mudanças positivas que criamos na sociedade são enormes, e cada vez mais visíveis.”
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Ambev evolui aceleração de startups de impacto social
A Cervejaria Ambev fechou uma nova parceria para seu programa Aceleradora 100+, focado em startups de impacto social. Revelada com exclusividade para a Forbes, a nova colaboração com a gigante holandesa de saúde e nutrição DSM tem o objetivo de desenvolver projetos de inovação em áreas como economia circular, desperdício de água e redução de emissões de carbono. No total, 587 startups se inscreveram.
A nova edição da iniciativa Aceleradora 100+, cujo foco já era este tipo de projeto, conta com a ajuda da DSM na seleção das startups que serão aceleradas. A empresa estatal holandesa esteve presente durante o Pitch Day da Ambev, quando aconteceu a apresentação final dos projetos socioambientais desenvolvidos durante a aceleração.
Os executivos da DSM compuseram uma banca de avaliadores que selecionou as startups que participarão do programa, na semana passada. Segundo a empresa, os projetos escolhidos estão alinhados com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável definidos pela Organização das Nações Unidas.
As empresas estão deliberando internamente sobre quais startups devem compor o grupo de 15 empresas a serem aceleradas. A decisão final sai ainda neste ano, e o programa começa em 2020.
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Rebel recebe novo aporte e atrai ex-XP e AB Inbev
A startup de crédito Rebel recebeu um novo aporte de US$ 10 milhões, que incluiu a participação da Monashees e o fundo de venture capital novaiorquino FinTech Collective. A rodada acontece um ano depois de a fintech ter levantado US$ 4 milhões com a XP e outros investidores.
Com a nova rodada, novos apoiadores incluem Julio Capua, ex-executivo da XP; e Bruno Licht, ex-diretor do Banco Garantia e que por quase dez anos foi membro do Conselho da Bovespa. Outros novos investidores são João Guerra e Fued Sadala, cofundadores do Dreampact, sociedade criada por ex-executivos da AB Inbev.
A startup de André Bastos, Paulo Nunes e Rafael Pereira diz ter recebido R$ 5 bilhões em pedidos de empréstimos desde sua fundação, em 2017. Segundo Pereira, o brasileiro criou uma “relação distorcida” com o crédito, por conta de “um sistema bancário que não faz sentido.”
“As instituições alegam que no Brasil o crédito é caro por conta da inadimplência, que, por sua vez, é alta devido às maiores taxas de juros do mundo”, afirma. “É um ciclo perverso e vicioso, difícil de ser rompido. Vamos colocar um ponto final nessa dinâmica e iniciar um ciclo virtuoso no Brasil.”
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Angelica Mari é jornalista especializada em inovação há 18 anos, com uma década de experiência em redações no Reino Unido e Estados Unidos. Colabora em inglês e português para publicações incluindo a FORBES (Estados Unidos e Brasil), BBC, The Guardian e outros.
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