O caso Greta é a apoteose da letargia mundial. A atenção súbita conquistada pela menina sueca que defende o meio ambiente já suscitaria sérias dúvidas sobre o juízo do senso comum na atualidade. Passados os primeiros 15 minutos de efervescência em torno das falsas polêmicas protagonizadas pela adolescente, o caso tenderia a submergir por sua própria inconsistência. Mas parece estar se dando o contrário: não só Greta Thunberg permanece em evidência com suas provocações pueris, como estão querendo transformá-la em símbolo revolucionário. A humanidade resolveu mesmo brincar de virtude.
Quando este signatário atuou como repórter de meio ambiente nos anos 80 e 90, o que as pessoas sérias dessa área mais abominavam era o discurso vago e espetaculoso. Quem quer resolver não romantiza – era o lema visível no trabalho de colaboradores de entidades como o WorldWatch Institute, que buscavam soluções tecnológicas e cooperativas em vez de tentar criar vilões do capitalismo malvado. Lamentavelmente nesses 30 anos houve uma tendência geral à romantização – pelo simples fato de que o mercado valorizou as ações do alarmismo. Gritar com Greta é bom negócio.
De certa forma, a menina está na dela. Aos 16 anos, o idealismo nascente costuma criar uma espécie de razão romântica – e a emoção dominante aí será importante na busca de convicções maduras mais tarde. O erro é o mundo adulto resolver voltar à adolescência.
Qualquer ambientalista sério dos anos 80 deploraria essa campanha ignorante sobre a Amazônia – em torno de Greta, Macron, Bachelet e outros aventureiros – que chegou a disseminar o velho e equivocado clichê da floresta tropical úmida como “pulmão do mundo”. O presidente da França chegou a divulgar fotos antigas de queimadas amazônicas para propagar a mentira de que a floresta sofreu este ano uma destruição sem precedentes – tentando emplacar a narrativa de que o fascismo tomou conta do Brasil e saiu devastando tudo. Panfletagem colegial.
Esse discurso foi adotado por Greta – que até seria a única da turma com direito a ser colegial. Mas quando o mundo dos adultos – incluindo o Incrível Hulk, o mais crescido de todos – resolve panfletar alegremente como se tivesse 16 anos de idade, e como se a busca pela virtude humana fosse passatempo para uma tarde tediosa de férias, a humanidade parece estar pedindo umas palmadas no bumbum (ressalva necessária em tempos de fetiche fascista: com carinho, ok? Sem dodói).
Guilherme Fiuza é jornalista e escritor com mais de 200 mil livros vendidos, autor dos best-sellers “Meu nome não é Johnny” (maior bilheteria do cinema nacional em 2008), “3.000 dias no bunker” (história do Plano Real, também adaptado para o cinema), “Bussunda – A vida do casseta”, entre outros. Escreveu o romance “O Império do Oprimido” e é coautor da minissérie “O Brado Retumbante” (TV Globo), indicada ao Emmy Internacional.
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