O presidente Jair Bolsonaro acaba de chegar de sua visita à Índia, onde foram assinados 15 acordos em áreas que incluem ciência e tecnologia. Os memorandos de entendimento nessa área englobam temas como cooperação em segurança cibernética e trocas na pesquisa e desenvolvimento de tecnologia de produção e desenvolvimento sustentável.
A oportunidade de cooperação entre os países no quesito inovação é grande, porém mal aproveitada – e o governo, bem como outros atores do setor, deveria se movimentar com consistência para que os acordos se tornem negócios de fato.
“O Brasil não tem explorado os diversos acordos que já foram assinados com a Índia, mesmo que os países tenham sinalizado que querem cooperar em Big Data, inteligência artificial e tecnologia de ponta na última cúpula do BRICS“, aponta Umesh Mukhi, professor do curso de administração da Fundação Getulio Vargas (FGV), referindo-se à última reunião diplomática entre Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, em novembro do ano passado.
Em um cenário onde o Brasil sofre com a falta de talento para trabalhar em funções que demandam expertise técnica como inteligência artificial, o acadêmico indiano acredita que há potencial para uma cooperação mais estratégica com o gigante asiático, aproveitando o alto nível de educação tecnológica daquele país para gerar talentos aqui.
“A comunidade indiana tem um papel crucial no desenvolvimento da tecnologia e inovação global: os CEOs globais de empresas como Microsoft, Google e Adobe são todos indianos e não é por acaso”, aponta.
“A reserva de expertise tecnológica gerado pelas universidades indianas é enorme e não tem sido utilizada pelo Brasil até agora”, ressalta Mukhi, acrescentando que indianos preferem se mudar para países europeus ou para os Estados Unidos. Isso se deve a barreiras como o idioma, já que só 5% dos brasileiros falam inglês, segundo o British Council.
A dificuldade no movimento entre países também não facilita: o esperado acordo de isenção de vistos para turistas indianos não foi anunciado nesta última visita presidencial. Mukhi se diz cético quanto aos acordos assinados nesta semana, mas acha que é possível reverter o atual cenário.
“Muitos dos objetivos descritos nestes acordos normalmente se perdem, pois a abordagem é fragmentada”, aponta Mukhi, referindo-se ao interesse do governo brasileiro em nichos específicos como agtech, ao invés de criar parcerias mais amplas.
“Não há um guarda-chuva de iniciativas relacionadas à tecnologia que possibilitaria a criação de uma plataforma para interação e troca de expertise”, acrescenta.
CRIANDO PONTES COM STARTUPS
O universo indiano de startups de base tecnológica cresce exponencialmente – as novas empresas de lá levantaram US$ 14,5 bilhões em 2019, segundo pesquisa da Tracxn – e representa outra oportunidade para o Brasil.
Um case de sucesso é a OYO, investida do SoftBank ativa no segmento de hotéis, que tem expandido suas operações por aqui. “Startups indianas têm visto o Brasil como um mercado promissor, o que aumenta a possibilidade de esses laços se estreitarem entre os dois ecossistemas”, afirma.
Mukhi tem incentivado essa ponte, mostrando cases de empresas locais que tem planos de expandir na Ásia, como a imobiliária digital QuintoAndar, para seus alunos na FGV. O acadêmico também tem tido conversas com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) em alguns estados, que demonstraram interesse nesta aproximação.
“Empreendedores na Índia e no Brasil compartilham muitos dos mesmos desafios e as diferentes abordagens à resolução destes desafios, bem como as experiências locais, resultariam em uma troca muito rica para ambas as partes”, ressalta.
Outras referências indianas em tecnologia e inovação são a gigante de serviços de TI Tata Consultancy Services (TCS) e suas concorrentes Wipro e Cognizant, que atuam no Brasil há anos e empregam milhares de funcionários.
“Existem muitas empresas indianas no Brasil e na América Latina que não param de crescer, mas muitos brasileiros não as conhecem. Uma das razões para isso pode ser cultural”, avalia. Outra razão, segundo o professor da FGV, pode ser a preferência das empresas indianas por operar em modo “stealth”, ou seja, sem fazer muito alarde.
As grandes empresas indianas já presentes no Brasil e multinacionais de tecnologia como Google e Microsoft têm um papel a cumprir nessa aproximação, segundo o acadêmico, bem como escolas de negócios como a própria FGV, que contratou Mukhi, seu primeiro professor indiano, há pouco mais de um ano.
“O interesse normalmente se volta ao Vale do Silício, mas o Brasil está começando a se abrir a outras possibilidades, embora tudo ainda seja muito novo”, afirma. “Um esforço multilateral é necessário para que esse novo ímpeto de relações entre os dois países seja mantido e tomadores de decisão possam se informar sobre as oportunidades que existem, ou que ainda podem ser geradas.”
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Ariel Lambrecht aposta em aluguel de motos
Depois de ter criado o primeiro unicórnio brasileiro, a 99, Ariel Lambrecht (foto) tem estado ocupado: desde então, o empreendedor já fundou um punhado de empresas, que incluem a startup de micro-mobilidade Yellow (hoje parte da Grow Mobility) e a startup de consórcio Bro.
Lambrecht agora acelera a construção de seu novo negócio: a Mottu, startup de aluguel de motos, que acabou de levantar uma rodada de capital semente. Com o lema de “servir os que não são servidos”, a nova empresa tem como público-alvo entregadores de aplicativo, que podem alugar motos por R$ 35 por dia, mesmo com o nome sujo.
Eduardo Luizão, que trabalhou em três empresas cofundadas por Lambrecht (99, Yellow e, posteriormente, Grow) é um dos cofundadores da Mottu, além do empreendedor Rubens Zanelatto. A empresa agora busca um gerente que vai cuidar da operação 24/7 da startup, com tarefas que incluem o preparo das motos a serem alugadas e estacionamento das mesmas, até a manutenção e envolvimento na recuperação das mesmas em caso de roubo.
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Omidyar Network cria Imaginable Futures
A Omidyar Network, organização de filantropia do fundador da eBay, Pierre Omidyar (foto), fez o spin out de seu braço de educação e criou a Imaginable Futures (IF). A nova estrutura é híbrida e a IF já nasce parte fundação filantrópica e parte investidor em projetos de impacto. Na América Latina, a organização é liderada de São Paulo por Fabio Tran, que já trabalhavam como diretor de investimentos para educação na empresa-mãe desde 2017.
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Sapore compra três startups
A empresa de restaurantes corporativos Sapore comprou a startup de supermercados self-service Zaitt e o aplicativo de entregas Shipp. Além disso, também comprou a Lucco Fit, de comidas saudáveis.
A aquisição das startups faz parte da estratégia de expansão de serviços da Sapore. A Lucco Fit possibilita a entrada no segmento de alimentos saudáveis. A Zaitt, que tem três unidades de supermercados autônomos em Vitória e São Paulo, traz expertise em inteligência operacional, supply chain e abastecimento.
A Shipp, por sua vez, contribui com novas oportunidades para concessão de benefícios e crescimento dos restaurantes parceiros, já que cerca de 80% de sua receita provém do setor de alimentação.
O CEO da Zaitt e da Shipp, Rodrigo Miranda, bem como os cofundadores Tomás Scopel, Renato Antunes Jr. e Mario Miranda permanecem como diretores e ambas as empresas continuam com gestões independentes.
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Happy Code realiza evento com palestrante mirim
A rede de escolas de robótica Happy Code realiza o evento Games: Como Virar este Jogo na Educação das Novas Gerações. A programação inclui um mini-hackathon e uma palestra com o escritor e palestrante mirim Ryan Maia. O encontro acontece em no Aurora Shopping, em Londrina (PR) no dia 1º de fevereiro, às 13h30, e a entrada é gratuita.
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Angelica Mari é jornalista especializada em inovação há 18 anos, com uma década de experiência em redações no Reino Unido e Estados Unidos. Colabora em inglês e português para publicações incluindo a FORBES (Estados Unidos e Brasil), BBC, The Guardian e outros.
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