Hoje, com um clique, o dinheiro gira pelo mundo. Faz alguns ricos e outros poucos mais ricos ainda. Porém, para evocar o escritor americano Mark Twain, “a história nunca se repete, mas rima”. Twain acreditava que nenhuma ocorrência histórica era solitária, mas uma eterna repetição de algo que já aconteceu antes. De fato, mesmo que se repitam em outro contexto, alguns eventos nunca acontecerão da mesma maneira, por inúmeras razões.
“Algumas pessoas nunca cometem os mesmos erros duas vezes, descobrem sempre novos erros para cometer.” - Mark TwainNo século passado, alguns empreendedores se tornaram milionários antes dos 30. Hoje isso também acontece. A diferença está no número, bem maior, e na rapidez com que se tornam ricos e conhecidos. Todo ano são publicadas listas das pessoas mais ricas ou empreendedoras. Na Forbes isso é recorrente. Aqui estão os maiores bilionários, as mulheres “self-made” mais poderosas, os empresários mais bem-sucedidos, os grandes empreendedores… e muitos nem completaram três décadas de vida!
Boa parte desses “trintários” – os trintões milionários ou empreendedores – está ligada à área de tecnologia: jovens que criaram ou implantaram alguma solução tecnológica que fez tilintar suas contas bancárias. Essa talvez seja a diferença. Para evocar novamente Twain, o enredo rima com outros períodos de enriquecimento, mas a história e o tempo são diferentes.
Ser trintário não é tarefa fácil. É preciso muito comprometimento, dedicação e força de vontade para alcançar essa meta em tão pouco tempo de vida e carreira. Mérito posto, esses jovens são de uma geração que entende que dinheiro não tem lugar fixo, mas um porto seguro e, se possível, rentável.
Sobre isso, estive pensando na pilha de questões jurídicas que estão em grande evidência no país nos últimos meses. Entre elas, a prisão em segunda instância, que caiu com uma martelada do STF (não vale para todos os crimes, obviamente). O tema fez ferver as mesas jurídicas e as rivalidades políticas. O país parou. Mesmo com o entendimento da maioria dos ministros da suprema corte, que evocaram as letras frias da Constituição para decidir (dentro do Estado Democrático de Direito, insta salientar), a opinião pública, porém, clama por outra solução, que agora repousa nas mãos do Congresso.
Fica a sensação de ambivalência, de pontas soltas que expõem um descompasso entre as instituições sagradas da democracia, deixando no ar um cheiro de insegurança jurídica soprado, principalmente, pelas redes sociais. Se fosse radical, poderia adotar Platão, que considerava os poetas uma afronta à cidade justa e que deveriam ser expulsos. Mal comparando, os poetas de hoje seriam os influenciadores digitais, que poderiam ser banidos até que a fervura desse caldeirão baixasse.
Sou a favor do total direito de expressão e ainda da prisão em segunda instância. Mas decisões, e principalmente da corte suprema, precisam e devem ser respeitadas, goste-se delas ou não. E é para isto que quero chamar atenção: para os efeitos dessa dualidade e suas consequências econômicas.
O investidor é liso. Ao pressentir qualquer indício de insegurança, escorrega para outro lugar. Nem sempre para lugares mais rentáveis, mas sólidos jurídica e economicamente. Como disse acima, basta um clique e o dinheiro escorrega para outro lugar. Não tem compromisso com estados e governos. Cá entre nós, um país que vive uma nova crise a cada dia, seja de que natureza for (ambiental, previdenciária, penal ou econômica, além de outros motivos), não pode ser considerado um lugar seguro.
Ficará o Brasil preso na “punição do Mito de Sísifo”? Seria esse o destino de nosso país, descobrir e cometer novos erros ad aeternum? Esperamos que não. Que o presente e o futuro sejam auspiciosos. Nós acreditamos no Brasil, e vamos sair dessa armadilha.
Nelson Wilians é CEO da Nelson Wilians & Advogados Associados
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