Sempre vai ter uma delícia à nossa espera na virada de ano. Pode ser um simples alimento ou o mais borbulhante dos champanhes, mas algo enaltece nosso paladar e o desejo de novos tempos.
A data da virada é fruto de um decreto do líder romano Júlio César, em 46 a.C. Foi fixado o 1º de janeiro como “dia do ano novo”. E janeiro é janeiro em homenagem ao deus dos portões, Janos. Já Réveillon vem do verbo francês réveiller, que significa reanimar. Era uma refeição leve noturna que impedia que as pessoas dormissem, em especial para a ceia da véspera de Natal. A partir do século 17, passou a ser utilizada pela nobreza francesa para festas que duravam a noite toda, como a do Ano Novo. E a moda pegou em outras cortes, como tudo o que a francesa inventava.
Hoje, comemorar o Réveillon é buscar as grandes queimas de fogos nos cenários mais belos do planeta, o que favorece uma experiência gastronômica cosmopolita com sabor de bons fluidos. O de Edimburgo é bem concorrido. A festa começa já no dia 30, com uma iluminada procissão e queima de fogos todas as noites. Os escoceses ficaram séculos sem comemorar o Natal, o que foi liberado só em 1954. Então, o Réveillon vale por dois. Vizinhos se visitam levando bolo, biscoitos e uísque.
As tradições vikings e pagãs são à base de grandes fogueiras e barraquinhas vendendo vinho quente, salsichão, waffles e sanduíches de salmão. Londres tem uma queima bem empolgante: o melhor programa é o jantar especial em um dos barcos que navegam pelo Tâmisa. Também espelhado na água, o Réveillon em Sydney é um dos espetáculos mais bonitos do mundo – o primeiro a anunciar o ano que chega.
No Oriente, as tradições e paladares têm diversidade até nas datas. Na China, o ano novo começa no dia 8 de fevereiro – a festa dura uma quinzena. No último jantar do ano, a família reunida degusta bolinhos de peixe em forma de lingotes de ouro, tangerinas (que são chamadas de laranjas da sorte), além de arroz moti e o talharim que simboliza a vida longa. Quando vira o ano, hora de carne de porco e guiozas. Em Singapura, as ceias se dividem. A chinesa tem bak kut (costeleta de porco), arroz de pato, sopas de peixe ou tartaruga, torradas de kaya (pão com doce de coco). A hindu traz muito curry.
Em Tóquio, tudo se adianta. A celebração começa no dia 29 de dezembro e termina em 4 de janeiro. À meia-noite do 31 de janeiro, os sinos tocam 108 vezes em todos os templos do país para dar boas-vindas ao novo ano. Para comer, uma sopa noodle de trigo sarraceno afirmando a vida longa.
Além das superstições da virada no relógio (como as 12 uvas engolidas pelos espanhóis e os prateados bolinhos de arenque dos escandinavos), existem alimentos que são apenas, digamos, acessórios para a boa sorte. Romãs, segundo os turcos, não são para comer, mas sim arremessadas da porta de casa – quanto mais longe, melhor. Em El Salvador, ovos crus são quebrados em uma tigela – no dia 1º, observa-se como será o ano na imagem das gemas. Os japoneses fazem uma decoração com dois mochis, o famoso bolinho de arroz, simbolizando a continuidade da família ao longo dos anos. Em Berlim, uma divertida corrida de 15 km, no bairro de Grunewald: vence quem fizer o percurso virando uma panqueca no ar, sem deixar ela cair.
Começar um novo ciclo com sorrisos e bom humor é algo simples, mas delicioso. Mais um desafio que o imperador César nos impôs. Ave, César!
Carla Bolla – Restauratrice do La Tambouille, em São Paulo
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