O dólar subiu pela décima sessão consecutiva ante o real hoje (3), fechando acima de R$ 4,50 pela primeira vez e batendo o nono recorde nominal seguido, num dia de grande volatilidade nos mercados globais após um corte surpresa de juros nos Estados Unidos gerar temores de que o impacto do coronavírus nas economias norte-americana e global pode ser maior que o temido.
O dólar à vista fechou em alta de 0,54%, a R$ 4,5109 na venda, deixando para trás com folga a máxima recorde de R$ 4,4868 alcançada ontem (2). Pelo menos desde março de 2002 o dólar não sobe por dez sessões consecutivas. Na série atual, a moeda acumula ganho de 4,88%.
Durante os negócios desta terça, a cotação bateu R$ 4,5190 na venda, novo pico recorde intradiário. Na mínima do dia, atingida depois de o Fed cortar os juros, desceu a R$ 4,4531 (-0,75%).
Na B3, o dólar futuro de maior liquidez tinha valorização de 0,75%, a R$ 4,5160, após bater R$ 4,5260 na máxima.
A volatilidade deu a tônica da sessão. A moeda começou o dia em queda, mas passou a subir gradualmente. Às 12h, a cotação ganhava 0,4%, a R$ 4,5048, mas abruptamente virou para queda de 0,75%, a R$ 4,4531 depois de o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) anunciar um corte surpresa nos juros.
Em tese, juros mais baixos nos EUA melhoram as condições de liquidez e estimulam migração de capital para mercados emergentes, como o Brasil, o que tende a aumentar a oferta de dólar e baixar o preço da moeda.
Porém, cerca de uma hora depois do corte de juros, a moeda começou a retomar fôlego, acompanhando o aumento da aversão a risco nas praças externas conforme investidores interpretaram o alívio monetário não programado como sinal de que as economias norte-americana e global podem estar mais vulneráveis e ser mais impactadas pelo coronavírus do que o imaginado inicialmente.
Para Ilan Arbetman, da Ativa Investimentos, há duas formas de se ver o corte de juros nos EUA: “positivamente”, com expectativa de que a medida contenha os efeitos do vírus, e de forma mais cautelosa.
“O corte [de juros] pode significar que há algo maior na matriz de riscos e que, mesmo com o movimento, é possível observar maiores movimentos de desaceleração global, procura por mecanismos de hedge e efeito-contágio nos preços dos ativos globais, o que promoveria suas quedas”, disse Arbetman em nota.
“O Fomc [comitê de política monetária do Fed] acendeu a luz vermelha, passando muito abruptamente pela amarela e, novamente, tal gap na comunicação pode acabar sendo mais prejudicial que positivo ao mercado”, completou.
Tal pano de fundo reforça temores de que o Brasil – já afetado por várias revisões de baixa para a economia – cresça ainda menos que o esperado neste ano, o que potencialmente levaria a juros mais baixos e prejudicaria mais o apelo do real.
O Goldman Sachs se juntou a outras instituições financeiras e diminuiu nesta terça o prognóstico de expansão para o PIB brasileiro a 1,5% neste ano, de 2,2% da previsão anterior. Com isso, o banco reduziu para 3,75% a Selic esperada para o fim deste ano, ante taxa atual de 4,25%.
Pesquisa Reuters feita antes do corte de juros nos EUA já havia mostrado uma queda de 2,4% na mediana das estimativas para a taxa de câmbio brasileira contra o dólar dentro de um ano, justamente por frustrações do lado da economia e pelos temores adicionais gerados pelo coronavírus.
O aumento das preocupações sobre o crescimento brasileiro se deu na véspera de o IBGE reportar os números oficiais do PIB do quarto trimestre de 2019.
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No acumulado de 2020, o dólar salta 12,41% em termos nominais ante o real, que tem o pior desempenho no período entre 33 rivais da moeda norte-americana.
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