Nos anos 1940 e 1950, o Brasil tinha um refrão: ou acabamos com a saúva ou ela acabará com o Brasil. Nossa agricultura se livrou da terrível formiga e se tornou a mais produtiva do universo em várias áreas.
Hoje o medo coletivo está na expansão física do coronavírus e seus efeitos na população brasileira. Segundo arautos da tragédia, essa expansão descontrolada, além de reduzir 2% na soma do PIB para 2020, vai causar um número de mortes e deslocamento social de grande porte, com impacto terrível sobre a população brasileira.
Sou partidário de uma análise comedida das causas e efeitos desta pandemia, aqui no país e no exterior. Ainda não há dados confiáveis (escrevo esta coluna no dia 18 de março) por falta de testes, nem mesmo dos números corretos de pessoas infectadas e de seu potencial de transmissão, bem como dos progressos já mostrados pelo controle na China. Volta-se a trabalhar normalmente em Taiwan, no Japão e na Coreia e, surpreendentemente, na Rússia, vizinho da China, país de origem de mais esta peste.
Creio que in medio virtus. O equilíbrio voltará a se instalar nas populações, e os governos agirão coordenados e de maneira transparente, inspirando confiança em seus representados. Ao citar que a virtude encontra-se no meio-termo, fui buscar alguns depoimentos que, provindos de fontes incontrastáveis como Harvard e outras universidades, inclusive do Brasil, nos autorizam a pensar que, sem pânico e com a cabeça fria, possamos vencer mais esta invasão alienígena.
Aliás, os últimos sete cavaleiros do apocalipse, coincidentemente, vieram do Oriente: peste bubônica, peste suína, gripe aviária, Sars, a H1N1, Mers e coronavírus. Serão mesmo coincidências históricas, descuidos biogenéticos ou, como diria Bill Gates, o limiar de guerras biogenéticas?
Diz o professor John P.A. Ioannidis, da Universidade de Stanford: “Nós não temos testado tantas pessoas quantas nos permitam dimensionar o nível exato da atividade epidêmica”. Outra observação: “E também não conhecemos, e não podemos antever, por quanto tempo o distanciamento social, o fechamento de escolas e de serviços públicos ou de serviços essenciais podem ser mantidos, com consequências maiores para a economia e para a saúde mental da população”.
Ele cita o caso do navio de cruzeiro Diamond Princess e faz interessante análise crítica. “Se 1% da população americana de 330 milhões for infectada, isso se traduziria, pela média americana de mortes de 0,125%, em 412.500 mortes.” Números iguais às mortes pela influenza ou doenças similares. Estudos como esse devem ser analisados, em especial no contexto brasileiro, para não tomarmos medidas sem conhecer dados confiáveis e evitar um fiasco econômico e social de proporções muito mais amplas do que os males oriundos propriamente do vírus.
Estamos numa encruzilhada na qual o bom senso clama por equilíbrio das autoridades e por um trabalho conjunto de governos em três níveis, das associações de classe e dos três poderes em harmonia – em primeiro lugar para evitar o pânico, em segundo lugar para dimensionar corretamente o problema e, finalmente, para agir coordenada e responsavelmente.
China ao subjugá-la, Rússia ao dominá-la, Taiwan e Coreia ao vencê-la (ao menos, temporariamente) mostram que esta crise é passageira, e que a nova saúva não acabará com o Brasil.
Mario Garnero é chairman do Grupo Garnero e presidente do Fórum das Américas
Siga FORBES Brasil nas redes sociais:
Facebook
Twitter
Instagram
YouTube
LinkedIn
Baixe o app da Forbes Brasil na Play Store e na App Store.
Tenha também a Forbes no Google Notícias.