A pergunta é o que deverá ser feito quando a crise do coronavírus abrandar e a empolgação com as iniciativas de resgate de Washington acabar.
Para obter respostas, deveríamos – mas não vamos – prestar atenção a algumas das principais lições da depressão de 1920-1921. Após a Primeira Guerra Mundial, os EUA passaram por um forte surto inflacionário. Mas a bolha estourou, sobretudo porque o Fed elevou acentuadamente as taxas de juros. A economia entrou em colapso e o desemprego saltou para 20%.
Como o governo federal reagiu? Conforme relatado na história definitiva daquela contração, escrita por James Grant, The Forgotten Depression – 1921: The Crash that Cured Itself, Washington fez o oposto do que os economistas aconselhariam hoje. Os gastos foram reduzidos drasticamente em relação aos níveis da guerra; impostos foram cortados; regulamentos que tinham se acumulado durante o conflito foram revogados; e empresas estatizadas, principalmente ferrovias e companhias telefônicas, foram devolvidas a seus legítimos proprietários. O dólar não foi desvalorizado. A economia se recuperou rapidamente. Logo estávamos com pleno emprego, e se iniciava a frenética década de 1920. Os EUA viveram uma das eras mais inovadoras de sua história.
A reação de Washington à Grande Depressão, uma década depois, foi um total contraste: houve aumento acentuado dos gastos e dos impostos e diversas burocracias foram criadas; uma enxurrada de novas regras caiu sobre as empresas. As dificuldades continuaram, e a recuperação real só viria depois da Segunda Guerra.
De fato, toda a catástrofe foi provocada por erros de ativismo do governo. Em 1929, o novo presidente, Herbert Hoover, queria fazer algo pelos agricultores em dificuldade e achou que tarifas sobre as importações agrícolas dariam conta do recado. O Congresso, agindo como porcos em um frenesi alimentar, aumentou enormemente os impostos sobre milhares de itens importados. À medida que a legislação avançava no Congresso, o mercado de ações – que reage às perspectivas futuras – quebrou. Quando Hoover assinou a Lei Tarifária Smoot-Hawley, outros países revidaram, iniciando uma guerra comercial internacional. As economias, aqui e no exterior, começaram a encolher. Hoover reagiu com um ativismo governamental sem precedentes. Seu sucessor, Franklin Roosevelt, promoveu ainda mais intervenções. A crise persistiu.
Após a guerra, o medo de uma nova crise levou muitos a clamarem por mais políticas na linha de Hoover/Roosevelt. Em vez disso, fizemos o oposto: o orçamento foi impiedosamente reduzido, o imposto de renda dos casais foi cortado pela metade, os controles da época da guerra foram rapidamente eliminados, as leis trabalhistas anticomércio do New Deal foram modificadas e o dólar permaneceu vinculado ao ouro. Embora milhões de veteranos voltassem rapidamente ao mercado de trabalho, o desemprego continuou baixo.
“Adquira sabedoria, pois, com ela, terás o entendimento.”Devemos levar essas experiências a sério. Cortes de impostos grandes e gerais devem ser promulgados, e nosso sistema tributário progressivo deve ser substituído por um imposto de alíquota única. O valor do dólar deve ser estabilizado, vinculado ao ouro. Os dispositivos que geram crise no comércio contidos em todas as leis de resgate relacionadas à covid-19 devem expirar ou ser removidos. As iniciativas de desregulamentação devem ser renovadas.
É simples. Como Nathan Lewis demonstra em The Magic Formula, as economias que têm impostos baixos e moedas estáveis prosperam mais do que aquelas que não têm. Sempre.
Duas leituras incríveis para neutralizar (por um tempo)
The Boy from the Woods – de Harlan Coben. Você pode confiar em Coben para lhe contar uma história de mistério e suspense do tipo que, uma vez iniciada a leitura, é impossível parar. O autor apresenta um novo personagem que só mesmo ele seria capaz de criar: uma versão de Nova Jersey de Tarzan. O personagem, Wilde, foi descoberto 30 anos antes, levando uma vida selvagem na floresta (Nova Jersey é bastante arborizada). Wilde não tem lembranças de seu passado, e as autoridades não conseguiram determinar de onde ele veio ou por que foi abandonado. Os aprendizados de Wilde na juventude, junto com sua experiência subsequente no Exército e um período pós-exército como detetive particular, vêm bem a calhar, pois ele se vê imerso no desaparecimento de uma aluna de ensino médio vítima de bullying e de uma colega de classe popular desta última – bem como, por fim, em um assassinato muito anterior. Outro protagonista é conhecido da legião de fãs de Coben: Hester Crimstein, um advogado criminal sensato, sabichão e famoso que também apresenta um programa de TV.
À medida que a trama se desenrola, surgem dilemas morais. Os personagens de Coben não são unidimensionais, e ele é mestre em transformar ambientes cotidianos em panos de fundo para comportamentos perturbadores.
The Museum of Desire – de Jonathan Kellerman. Anos atrás, o renomado psicólogo infantil Kellerman abandonou a profissão para virar escritor em período integral. Dezenas de milhões de livros vendidos em todo o mundo confirmam a sabedoria dessa decisão. As percepções penetrantes de Kellerman sobre a natureza humana – seus criminosos podem ser pessoas bem perversas – dão a suas histórias de mistério uma grande contundência, mas ele nunca se rebaixa ao cinismo. Suas descrições dos personagens são vívidas e sua escrita é nítida e envolvente. Ele sabe como tecer uma história complexa de maneira a manter os leitores cativados, ao mesmo tempo que apresenta observações esclarecedoras sobre questões como a dos sem-teto, como ele faz neste livro, além de fatos da vida real relacionados a procedimentos policiais.
Com o tenente Milo Sturgis, da polícia de Los Angeles, e o psicólogo Alex Delaware, Kellerman criou a dupla de histórias de suspense mais cativante desde Sherlock Holmes e o Dr. Watson. Sturgis é particularmente memorável. Alto, corpulento, com sobrepeso (sempre a fim de comer junk food e sanduíches que não agradariam a nutricionistas exigentes) e rápido para disparar comentários ácidos, esse detetive extraordinariamente hábil – que, por acaso, também é gay – fechou um acordo, vários livros atrás, com seu chefe não muito correto, que permite que ele permaneça no departamento como tenente não vinculado a um trabalho de escritório e, portanto, apto a se concentrar no que faz melhor: solucionar assassinatos. Sturgis chama Delaware, o narrador desta série, quando pega um caso difícil que pode se beneficiar de análises psicológicas não convencionais.
Na situação em questão, é disso que Sturgis precisa. Quatro corpos são encontrados dentro de uma limusine branca estacionada em um castelo falso que é alugado eventualmente para festas. Pelo menos três foram colocados no carro depois da morte. As vítimas não têm absolutamente nenhuma relação entre si, mas foram colocadas em posições perversamente eróticas. Durante a investigação, muitas vezes frustrante, outro assassinato ocorre.
No trajeto até a resolução do caso, Kellerman lança uma luz incômoda sobre as pretensões que impregnam partes do mundo da arte – para não falar de seu lado sombrio.
Steve Forbes é Editor-chefe da Forbes
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