Quando tudo isso passar, a quarentena será lembrada, entre outras coisas, como o período em que tivemos de observar atentamente o lugar onde vivemos. O #FicaEmCasa, que nos encastelou para evitar o vírus, fez muita gente descobrir novas relações com seu próprio espaço, a importância dos móveis e objetos que os cercam, a praticidade e a produtividade de um home office.
Na terceira parte da série sobre wellness em tempos de pandemia, ouvi as considerações e dicas de Katia Gonzalez, consultora de feng shui – antiga técnica chinesa para organizar espaços e harmonizar a energia entre os seres e o ambiente. Além dos conselhos de duas autoridades em “ambience”, o arquiteto Sig Bergamin e o decorador e florista André Pedrotti. Visões complementares de como tornar sua casa um verdadeiro sucesso.
KATIA GONZALEZ, FENG SHUI E A FELICIDADE QUE MORA NOS DETALHES (DO QUARTO À MESA DE TRABALHO)
Mais do que uma crise planetária, a mineira Katia Gonzalez enxerga a pandemia de Covid-19 como uma oportunidade existencial: “Para podermos recomeçar fazendo tudo diferente, de mãos dadas e ouvindo o coração”, diz com fé no futuro. Segundo ela, quando governantes e autoridades de saúde optaram pelo distanciamento social com todo mundo ficando em casa, muita gente abriu gavetas, reviu suas histórias e até encontrou coisas e lembranças há muito perdidas. “Por isso, a ideia agora é ter só energia boa dentro de casa”, reforça. A consultora explica que, em chinês, “feng” é vento e “shui”, água.
Portanto “nada segura e nada detém”, o que circula entre as pessoas deve fluir e fazer a diferença. “Por isso é importante observar sua casa, seu quarto, seu ambiente de trabalho como se não fossem seus. Examinar atentamente tudo o que você possui. O que é bom deve permanecer, o que não é, tchau! Essa pandemia veio nos ensinar a respirar novamente e nos inspirar. O uso da máscara é providencial, devemos falar menos e ouvir mais”, avisa.
Feng Shui em dicas rápidas para uma faxina energética
Quarto:
– Evite cortinas blackout, deixe a luz entrar, é energia. Nem todo mundo é produtivo em um mesmo horário. Tem gente que produz melhor de dia, outros à noite e até de madrugada. Por isso é necessário ver a luz do dia e da noite.
– Alecrim na roupa de cama e nos travesseiros para relaxar e dormir bem. Excelente para quartos de crianças.
– Retire imagens de santos ou outro objetos religiosos do quarto. Escolha outro lugar na casa e faça um oratório com todos os objetos e símbolos da devoção.
– Observe o que está em seu campo de visão quando você se deita. A primeira coisa que se vê é o que se vai vibrar pelo resto do dia. O mesmo vale para a hora de dormir.
Home office:
– Uma mesa entupida de coisas não é sinal de produtividade. Quanto mais enxuta a arrumação, melhor.
– Sente-se em posição de domínio da entrada do espaço.
– Não sente-se de costa para a janela e nenhuma luz deve refletir na tela do computador.
– Um relógio na parede estabelece a ideia de comprometimento. Mesmo tendo-se o horário na tela do computador e no celular.
– Sobre a mesa de trabalho, mantenha as contas a pagar do lado direito e as contas pagas, do lado esquerdo – o lado do coração.
– Tenha uma lousa na parede para anotar ideias, mesmo as mais loucas. Invista no desconhecido.
– Tire diplomas e medalhas da gaveta para ver o que já conquistou e agora fazer diferente.
– Tenha um mapa-múndi na parede ou um globo sobre a mesa.
Plantas e flores:
– Nada de plantas com pontas ou espinhos. Se ganhar rosas, remova os espinhos.
– Dê preferências para plantas de formatos redondos, como as suculentas.
– Nada de cactus. Eles provocam desavenças e seu pólen causa alergia.
– É o momento do bambu em casa. Ele tem raízes profundas e verga sem se quebrar. Para dar força e jogo de cintura.
Regra geral:
– Menos é mais. Espaços livres deixam a energia fluir e facilitam a entrada da prosperidade, dos relacionamentos, da família, dos amigos e do sucesso.
Para Katia, passar 90 dias (ou mais) dentro de casa é tempo suficiente para se entender que chegou a hora de ouvir o coração e, sabiamente, tirar apenas o melhor de uma situação de crise. “Daí a minha hashtag, #efacilserfeliz”, conclui.
O DÉCOR BEM TEMPERADO DE SIG BERGAMIN PARA ENCONTRAR A HARMONIA DOS ESPAÇOS
Renomado arquiteto com extensa folha corrida de sucessos no Brasil e no exterior, meu amigo Sig Bergamin segue uma fórmula simples e natural: “É preciso respeitar o básico. A harmonia entre luz, natureza e arquitetura”, ensina. Ou seja, aquilo que fica sensacional em uma townhouse em Manhattan, pode soar totalmente fora de conceito e artificial em um apartamento brasileiro à beira-mar. E vice-versa. Sig também é conhecido pela desenvoltura com que promove o encontro e o mix entre estilos, cores e épocas em um mesmo ambiente. Segundo ele, o princípio é o mesmo: “Respeito e conhecimento de causa”. Atarefado com vários projetos – a quarentena não diminuiu seu ritmo de trabalho – Sig falou rapidamente sobre ordem e bom senso na hora de organizar e decorar espaços em casa.
Pense no interior como continuação do exterior:
– A disposição dos móveis é muito importante e deve se acompanhar linhas de circulação. Não coloque nada atravessado, torto ou fechando passagens.
– Nada de sofá colocado de costas para a porta.
– Para um mix de cor, estabeleça uma tonalidade base. Por exemplo, gosto muito de tons pastel: misture brancos com crus, como celadon e barbante.
– Paredes vermelhas caem muito bem em um apartamento em Paris, mas não combina com Brasil.
– Vai fazer uma casa na praia? Traga para dentro todos os brancos e e azuis do lado de fora, na natureza.
– Na casa de campo, aproveite os verdes e azuis do entorno. Não acredito em barreiras, prefiro a continuidade entre interior e exterior.
– Flores: dê preferência às orquídeas em vasos que são bem brasileiros, existem em grande variedade. Flores de corte duram pouco.
– Plantas: o verde é sempre bem-vindo, mas tem que ser muito bem tratado. Caso contrário, deixe do lado de fora, na natureza.
– Muita luz natural. Vivemos em um país ensolarado, aproveite.
O PODER DAS FLORES E O DESABROCHAR DE NOVOS NEGÓCIOS PARA ANDRÉ PEDROTTI
“As pessoas não tinham muito tempo para olhar para a própria casa antes do distanciamento social”, diz o decorador e florista André Pedrotti, responsável pela decoração de cerca de 400 festas, recepções e eventos a cada ano – mais de um por dia! – até a chegada da pandemia. “Estava com duas festas de casamento – fora de São Paulo – prontas, com as flores dentro do caminhão para seguir viagem quando foi tudo fechado e cancelado”, conta o decorador. Havia duas soluções possíveis, jogar tudo fora ou doar. André optou pela segunda, distribuindo suas flores festivas por estações de metrô e hospitais em São Paulo.
Era o início da ação #VamosFlorir que acabou viralizando e reunindo tanto decoradores como produtores dando outro destino a uma produção que poderia estar perdida. Mas André foi além: “Comecei a comprar flores de vários produtores por preços mais baixos e a revendê-las a preço de custo ao consumidor que queria flores em casa durante a quarentena”, explica. A procura superou as expectativas e ele se viu diante de um novo negócio: “Virei a chave, mudei o foco da empresa, passando a atender clientes individuais. Com isso, não precisei demitir ninguém e mantive o movimento girando”, diz orgulhoso. Diante do novo desafio, André dá seus conselhos para florir ambientes com sucesso.
Pequenos orgasmos e boas energias
– Lidar com flores é uma excelente troca de energias.
– Todo mundo fica feliz ao comprar flores em pequenos botões – como peônias – e vê-las desabrochando aos poucos.
– Flores são o auge da planta. Uma espécie de pequenos orgasmos.
– Use muitas orquídeas – em vaso ou de corte – porque são abundantes e lindas.
– Compre flores como se compram frutas, legumes e verduras, respeitando as estações de cada espécie. No momento, a época é de tulipas.
– Nos quartos e home offices, prefira as flores sem perfume.
– Ficus lirata – conhecido como figo de folhas de violino – é a planta da moda na decoração. Ou alguma planta de folhas grandes, como a costela de adão.
Profissional do setor há 27 anos, André Pedrotti faz questão de lembrar que o mercado de flores no Brasil gera cerca de 1 milhão de empregos. Portanto, #VamosFlorir.
Donata Meirelles é consultora de estilo e atua há 30 anos no mundo da moda e do lifestyle
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