Menos de 10% das pessoas infectadas pela Covid-19 foram assintomáticas, e a maioria daqueles que tiveram casos confirmados da doença provocada pelo novo coronavírus tiveram sintomas leves, apontou um inquérito epidemiológico com quase 90 mil pessoas de todas as regiões do país, cujos resultados foram divulgados ontem (2).
De acordo com a pesquisa realizada pela Universidade Federal de Pelotas (RS), que foi financiada pelo Ministério da Saúde, os cinco principais sintomas relatados pelas pessoas com resultado positivo nos chamados testes rápidos para Covid-19 foram febre, tosse, alteração de olfato/paladar, dor no corpo e dor de cabeça.
Em um total de 89.397 pessoas testadas em três fases do inquérito, que foi realizado de 14 de maio a 24 de junho, 2.064 tiveram resultado positivo para anticorpos, o que representa um percentual de 2,3%. Segundo o levantamento, 91% dessas pessoas tiveram sintomas da doença.
“A literatura se acostumou a dizer que a maioria dos pacientes são assintomáticos, o nosso estudo sugere que a maioria dos pacientes tem sintomas leves, mas não são assintomáticos”, disse Pedro Hallal, professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e coordenador da pesquisa, em entrevista coletiva no Palácio do Planalto para apresentação do estudo.
“Se formos usar o termo assintomáticos, o contingente é só de 9%. Claro que esse número tem que ser considerado com o devido cuidado, nós não estamos querendo dizer que 91% das pessoas com Covid vão precisar de atendimento hospitalar, muito longe disso, mas estamos dizendo que os sintomas da Covid aparecem, e isso é uma boa notícia para tentar identificar as pessoas e impedir a disseminação da doença”, acrescentou.
A pesquisa mostrou uma desaceleração na velocidade de transmissão do vírus entre as três fases. Depois de crescer 53% do final de maio para o início de junho, a transmissão subiu 23% do início de junho para o fim do mesmo mês.
O levantamento também confirmou o que especialistas afirmam sobre a real dimensão bem maior da pandemia no Brasil do que revelam os números oficiais. Segundo o inquérito, a diferença entre os casos notificados oficialmente pelo Ministério da Saúde nos locais pesquisados e o percentual da população com anticorpos é de 6 vezes.
O professor alertou, no entanto, que não se pode dizer que a epidemia é 6 vezes maior do que os quase 1,5 milhão de casos confirmados oficialmente no Brasil, até o momento, uma vez que o estudo se restringiu a 133 municípios.
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“É normal ter mais pessoas com anticorpos do que os casos confirmados, mas se é exatamente 8 ou 6 ou 10 vezes depende da dinâmica das outras 5 mil cidades que não foram incluídas na pesquisa”, afirmou.
O levantamento mostrou também que 39% das pessoas que moravam na mesma casa de alguém com resultado positivo também tiveram a doença confirmada, apontando para um alto índice de transmissão familiar, e confirmou a tendência levantada em outros estudos de que os mais pobres representam a maior parcela das pessoas contaminadas.
“Em relação ao nível socioeconômico, nas três fases da pesquisa, houve uma tendência linear de maior proporção da população com anticorpos conforme diminui o nível socioeconômico. Além disso, a diferença entre os 20% mais pobres e os 20% mais ricos aumentou de 1,1 ponto percentual na primeira fase, para 2,0 pontos percentuais na segunda fase e 2,3 pontos percentuais na terceira fase”, disseram os pesquisadores em comunicado sobre o estudo.
A pesquisa também apontou para uma letalidade de 1,15% da Covid-19, que fica bem abaixo dos 4,1% dos registros oficiais. Segundo especialistas, a letalidade dos números oficiais é mais alta do que a real uma vez que assintomáticos e pessoas com sintomas leves sequer são submetidas a testes. (Com Reuters)
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