Em Paris a moda procura retomar a rotina. Ateliês de grandes maisons, como Chanel e Dior, foram reabertos e, seguindo os protocolos de segurança das autoridades sanitárias, deram os toques finais nas coleções de alta-costura apresentadas esta semana, durante três dias. Outras marcas que participam são Giambattista Valli e Schiaparelli, enquanto os italianos Dolce & Gabbana apresentaram sua coleção de Alta Moda.
Mas nesta temporada verão 2020, em vez dos grandes shows que reuniam a imprensa, influencers, compradores e celebridades – um público que chegava a lotar locais imensos como o Grand Palais – dessa vez tudo aconteceu online, com a plateia vendo tudo à distância em formato de filmes ou performances pré-gravadas. A primeira semana de moda desse tipo na história.
O convite para os desfiles é uma boa conexão wi-fi
Nos meus trinta anos como consultora de moda e estilo, as semanas de lançamentos – em Nova York, Londres, Milão e Paris – marcavam a minha rotina anual de trabalho, em torno da qual orbitavam todas as outras atividades. Algo como o circuito da Fórmula 1 para o automobilismo, a cerimônia do Oscar e os festivais de filmes para a turma do cinema.
A alta-costura em Paris – duas vezes por ano, em janeiro e julho – é o ponto alto da temporada, formado por um seleto grupo de maisons e grifes certificadas pela Chambre Syndicale de la Haute Couture. Tudo que aparece nas passarelas é feito a mão – costuras, bordados, aplicações, acessórios etc. A expressão máxima do artesanato imaginado pelos criadores e produzidos pelas “petites mains” durante meses de dedicação e trabalho duro.
Nos desfiles, o burburinho começava na entrada, com a multidão de curiosos observando os convidados, principalmente as celebridades fazendo disparar os cliques dos paparazzi – estrelas de Hollywood e do cinema francês, popstars, rockstars, rappers, clientes bilionárias e, claro, as Kardashians.
No interior das salas de desfiles havia eletricidade no ar, todo mundo se encontrando, acenando e procurando seu lugar na plateia de cadeiras douradas, os fotógrafos a postos no pit, até as luzes se apagarem e o show começar. Vi desfiles memoráveis como as últimas coleções de Yves Saint Laurent; Valentino, em Roma; Louis Vuitton, no Japão; e no ano passado, a Alta Moda Dolce & Gabbana em Agrigento, na Sicília.
O atual formato digital mantém os line-ups, os horários e os convites para os desfiles como nas semanas de moda presenciais. Porém, qualquer pessoa com um smartphone, iPad ou notebook, e uma boa conexão wi-fi, tem acesso em tempo real aos desfiles.
É a nova revolução?
Enquanto escrevo, já vi a Alta Moda de Dolce & Gabbana, inspirada pela dolce vita na Riviera italiana dos anos 50/60 e pelos ícones da época, a estrela Sophia Loren e o magnata Gianni Agnelli. A marca criou um site especial para os clientes da Alta Moda – é preciso uma senha de acesso – onde é possível ver as roupas em detalhes e até consultar os preços. Também vi o curta-metragem da Dior – dirigido pelo cineasta italiano Matteo Garrone – com imagens oníricas de ninfas e faunos. “Estou interessada em mistério e magia, que também são uma maneira de exorcizar a incerteza sobre o futuro”, disse a diretora criativa da marca, Maria Grazia Chiuri, sobre a coleção inspirada em artistas mulheres do século XX, como a fotógrafa Lee Miller e Dora Maar, mulher e musa de Picasso.
É bom lembrar que a moda era totalmente dominada pelas regras e decretos da alta-costura até a metade do século passado, quando foi superada pelo prêt-à-porter – as roupas prontas para vestir, fabricadas em larga escala. “A maior revolução que aconteceu na moda”, declarou certa vez Karl Lagerfeld. Até agora. A Semana da Moda Masculina em Paris e a Semana de Moda em Milão, que acontecem na sequência no calendário de lançamentos 2020, também vêm em formato digital.
Donata Meirelles é consultora de estilo e atua há 30 anos no mundo da moda e do lifestyle
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