Fundei a Gerando Falcões na periferia, mas prometi pra mim mesmo, que nunca permitiria que ela estivesse na periferia dos acontecimentos. Mas no centro. Pautando. Caso contrário, nos tornaríamos irrelevantes e ultrapassados, quando a favela pede inovação e liderança para se transformar.
Sempre tive a sensação que as ONGS são vistas como um time da segunda divisão da gestão, da tecnologia, da inovação e uso de dados e isso sempre me incomodou. Mas eu sou movido por desafios.
Tem 7 anos que sou CEO da Gerando Falcões e tem 7 anos que estamos mudando todos os dias nas periferias e favelas. Quem não muda, não muda nada. Não tínhamos gestão e iniciamos um processo, na favela, de implementar um sofisticado sistema de gestão para resultados.
Hoje por aqui todo mundo tem 5 metas anuais, plano de carreira, gestão da rotina, OBZ, auditoria da KPMG, Conselhos, visão de longo prazo, uso de tecnologia em escala e uma agenda de inovação consistente, estruturada através de Squads, que tem alimentado a nossa capacidade de reimaginar o futuro das favelas.
E mais recentemente, criamos uma área de Dados. Passei quase três meses fazendo visitas de boas práticas de Amazon, Grupo Ânima, Itaú, à XP. Tive conversas com especialistas e mentorias com empreendedores como Daniel Castanho, Silvio Genesini e Guilherme Benchimol sobre como usam dados no dia a dia.
Com a liderança de dois talentos absurdamente incríveis, que decidiram atravessar a ponte do centro pra favela e nos ajudar a melhorar o nosso jogo, Júlia Machado, ex-Falconi e ex-Raízen, e Cristian Amaia, ex-OLX, estamos hoje tomando decisões guiadas por nossa cultura, paixão e também por dados. Abrir o Power BI da Microsoft e discutir em cima de dados virou parte da rotina.
Temos quatro frentes de atuação. Dados para aumentar o impacto social na ponta. Dados para recrutar, reter e desenvolver nossos talentos. E dados para geração de novos negócios sociais e aumentar nossa arrecadação nas plataformas digitais.
Não é à toa que durante a pandemia da Covid-19, construímos um dos maiores crowdfunding da história do país. Mobilizamos mais de R$ 20 milhões que nos possibilitou alimentar mais de 350 mil pessoas, em três meses, em mais de 400 favelas brasileiras. Mas o sonho da Gerando Falcões e nossos desafios nas favelas são maiores que 20M. Por isso, os dados nos ajudam tanto a construir novos caminhos.
Eu tenho dito muito, até para fortalecer a autoestima e nosso lugar como empreendedores sociais no país, que não preciso me chamar Jeff Bezos ou Elon Musk pra fazer coisas relevantes, nem ser norte-americano ou inglês.
Eu posso ter nascido pobre, preto, na favela, filho de um ex-bandido e mãe diarista e, mesmo assim, ter um time incrível e junto com eles ir atrás de fazer coisas que pareciam impossíveis.
Lutamos contra um inimigo poderoso: a desigualdade social. São quase 14 milhões de pessoas que vivem em favelas no Brasil. Pra vencermos esta batalha no longo prazo, vamos ter que dominar a arte e as ciências, tomar decisões responsáveis, baseada em dados e ter um time capaz de executar o impossível e quando tudo der errado, encontrar motivação nas derrotas e começar tudo de novo.
A favela não pode ser vista como um lugar apenas de carência. Tem muita potência, inovação e gestão. Tanto que um dos maiores pensadores da gestão Peter Drucker disse que as empresas iriam começar a recrutar talentos vindos do terceiro setor. Segundo ele, os empreendedores sociais sabem fazer muito com pouco. Frugalidade.
Lucas Lima, morador do Complexo do Alemão, criou uma impressora 3D com sucatas encontradas em ferro velho e lançou a sua própria startup.
Eu adoro montar times e pra dar conta desta digitalização criamos um ecossistema de parceiros estratégicos como Oracle, Microsoft, Salesforce, Accenture, Zeta, Peppery e Adobe. A nossa agenda na favela tem feito o mercado compreender que a pegada é competir nos negócios, mas colaborar no social pra fazer uma favela inovadora emergir do caos.
Se dados são o novo petróleo, na favela, nosso carro não vai ficar sem combustível.
Edu Lyra é fundador e CEO da Gerando Falcões. Foi selecionado pelo Fórum Econômico Mundial como um dos jovens brasileiros que podem mudar o mundo, como parte do Global Shapers. Saiu na lista Under 30 da FORBES como um dos destaques do Brasil com menos de 30 anos.
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