A flexibilização das medidas de isolamento social e a gradual tentativa de retomada da vida cotidiana em grandes cidades já assoladas pelo coronavírus – e onde ainda paira no ar o medo de contaminação e onde as pessoas incorporarão por vontade própria ou por força da lei uma distância maior entre elas – criaram uma nova urgência sobre a necessidade de repensar a mobilidade urbana.
Em algumas partes da Europa, onde as flexibilizações estão em fases mais avançadas, metrópoles já aderiram a mudanças importantes, como o fechamento para pedestres e bicicletas em algumas ruas, a proibição de carros em outras, o alargamento de calçadas e o incentivo para caminhar ou usar bicicletas onde esses meios serão permitidos.
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Paris fechou para automóveis a Rue de Rivoli, que, apesar de sempre bela, no passado recente era uma via extremamente congestionada – a decisão foi anunciada pela prefeita Anne Hidalgo em 30 de abril e imposta em 11 de maio. Ciclistas e pedestres comemoraram. A Itália, extremamente atingida pelo vírus, está oferecendo auxílio para a população comprar bicicletas convencionais ou elétricas. Em Londres, o objetivo é fazer dela uma das cidades com maior extensão livre de carros (na região central) do continente.
Se a questão da mobilidade nas grandes cidades já era discutida antes, a pandemia também despertou a atenção para a crise ambiental que estaria cada vez mais próxima. O sistema de transporte apoiado em carros e ônibus é poluente e tem como uma das externalidades a saúde da população, afirma Hannah Arcuschin, coordenadora de urbanismo e mobilidade da organização global de saúde pública Vital Strategies, quando questionada sobre o argumento de líderes europeus de uma sobrecarga no sistema de saúde caso as pessoas continuem com os mesmos hábitos de mobilidade de antes da Covid-19.
São Paulo
A tendência de mudança de hábitos é global, segundo Hannah. “As pessoas vão evitar aglomerações, e algumas cidades estão saindo na frente para conter esse problema. Olhando para o Brasil, e especialmente para São Paulo, temos um padrão de mobilidade muito pautado no ônibus. É o momento de aumentar as faixas exclusivas e a rede cicloviária. A cidade de São Paulo tem o objetivo de chegar a 173 quilômetros de rede cicloviária até o fim do ano”, comenta.
Londres
O Reino Unido, país severamente castigado pelo novo coronavírus, anunciou investimento de 2 bilhões de libras para o transporte ativo (meios de locomoção movidos com propulsão humana). O valor será parcialmente direcionado para a população por meio de “vouchers de reparo de bicicletas”. Na capital inglesa, a London Bridge pode ser cruzada por pedestres, táxis licenciados e ônibus. Carros particulares e motos foram barrados. Em maio, também foi anunciado um plano ambicioso para incluir Londres entre as cidades com maior região central livre de carros. As calçadas estão sendo alargadas para acomodar mais pessoas – e para tentar manter maior distanciamento entre elas. O prefeito Sadik Khan também desencorajou o uso de transporte público.
Milão
A Itália está oferecendo, até dezembro de 2020, subsídio de € 500 para a compra de bicicletas pelos moradores. Atualmente, Milão está com 35 quilômetros de ruas proibidos para a circulação de automóveis. O limite de velocidade de 30 km/h também está sendo imposto, além de reformas para a construção de ciclofaixas e de estruturas que priorizem a circulação de pedestres.
Paris
A cidade tem uma prefeita (Anne Hidalgo) que tem como bandeira torná-la mais atrativa a pedestres e ciclistas. O objetivo da primeira mulher a administrar a capital francesa é criar 650 quilômetros de ciclovias, além de implementar um plano estruturado ligando o centro da cidade aos subúrbios – permitindo que a população transite de bicicleta entre eles. Já foram direcionados € 300 mil para a transformação temporária de estradas em ciclofaixas.
Reportagem publicada na edição 78, lançada em junho de 2020
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