Você provavelmente conhece estes artistas notáveis: Robin Williams, Walmor Chagas, Kurt Cobain, Ernest Hemingway, Silvia Platt, Van Gogh, Virginia Wolf. Todos eles tiraram a própria vida.
O fato que impressiona, para além de essas pessoas terem sido extremamente bem-sucedidas em seus campos de atuação e ainda assim terem recorrido à autoeliminação é que, ao terminar de ler esta pequena introdução, uma pessoa no mundo terá feito o mesmo. Estimativas da Organização Mundial da Saúde dão conta de que, anualmente, perto de 800 mil pessoas cometem suicídio no mundo. É uma pessoa a cada 40 segundos.
Por quê? Esta é a pergunta número 1 quando o tema é suicídio. Por que algumas pessoas conseguem lidar melhor com questões pessoais, ainda que dificílimas, e sobrepujar desafios muitas vezes imensos e outras não? São dragadas por seus problemas e se veem presas em um vórtice de dor e de angústia que parece interminável ao ponto de elas desejarem não mais viver.
Há várias interpretações para o suicídio – culturais, sociológicas etc. Mas para a medicina, a pessoa que pensa na autoeliminação está doente, tem uma doença mental. E essa doença deve ser tratada.
As motivações que levam algumas pessoas a se matarem são muito diferentes, assim como são muito diferentes entre si os que cometem suicídio. São pessoas com as mais variadas profissões, idades (crianças, infelizmente, também morrem devido ao suicídio), gêneros, classes socioeconômicas.
Uma razão que parece ser comum a um número significativo de pessoas que tiraram a própria vida é a depressão severa. Os casos graves levam muitos a não verem outro caminho para aliviar a sensação de desesperança que não se matar.
Você provavelmente deve estar se perguntando: há alguma maneira de identificar se um ente querido ou um conhecido tem pensamentos suicidas? Sim, há. É muito comum que esse grupo de pessoas inicie um movimento de despedida. Explico: elas passam a se desfazer de coisas que são caras para elas, fazem testamentos antes da hora, falam do que seria a vida se elas não mais estivessem ali, falam sobre morte ou que não têm mais um motivo para viver e muitas vezes chegam a expressar verbalmente uma despedida.
Se eventualmente você observou alguém que ama ou tem um conhecido que está se comportando dessa forma, leve-o ou leve-a imediatamente a um psiquiatra. Os psiquiatras foram treinados para identificar, abordar e prescrever uma conduta para a pessoa que está sofrendo, muitas vezes até indicando uma internação psiquiátrica contra a vontade do doente.
Mas há sinais menos óbvios, que são fáceis de ignorar: mudanças de comportamento, nos padrões de sono, indiferença ou distância emocional. Mesmo as pessoas próximas podem não perceber o quão profundamente desesperado o potencial suicida se sente.
A ideia de tirar a própria vida é algo que pode ser tratado. Mas, infelizmente, preciso admitir que nem sempre somos bem-sucedidos. Quando perdemos um paciente para o suicídio, nós, psiquiatras, sentimos uma impotência gigante e uma vergonha diante dos familiares e dos colegas médicos. Também temos dúvidas: “será que eu fiz algo errado”?
Os pensamentos de autoeliminação são considerados a maior urgência do campo da psiquiatria. Por isso, no mês de setembro, são feitas ações no mundo todo que buscam a prevenção do suicídio. Infelizmente, como sociedade, ainda falamos pouco sobre esse tema. Precisamos discuti-lo mais abertamente. Isso iria ajudar a alertar as pessoas para esse problema.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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