Em meio à crise entre o TikTok e o governo americano, chamou minha atenção a trajetória da ByteDance – empresa que desenvolveu esse aplicativo e se tornou uma das startups de tecnologia mais valiosas do mundo. A empresa foi fundada em 2012 em Pequim, longe, portanto, do Vale do Silício.
Por ser uma empresa chinesa, me deu uma certa gastura, principalmente após verificar alguns dados de Brasil e China. Em 1990, o PIB brasileiro foi de US$ 460 bilhões (para deixar em números redondos), e o da China, US$ 360 bi. Quase três décadas depois, em 2019, o PIB brasileiro balançou em US$ 1,7 tri, enquanto o chinês bateu na casa dos US$ 14 tri. Vendo o copo meio cheio, podemos dizer que o Brasil cresceu. Mas a China desequilibrou a partida ao se elevar de um país fundamentalmente rural para um exportador de tecnologia, a ponto de desafiar o resto do mundo (daí parte da rusga americana com o TikTok).
Além de lamentar nosso “pibinho” em relação ao chinês, destaca-se a habilidade do país asiático em privilegiar a produção, o empreendedorismo e a inovação, ainda que pesem sombras sobre o uso da coação de seus governantes para se perpetuarem no poder. Mas o fato é que de agrícola e copiadora de quinquilharias baratas para exportação em larga escala a China saltou para o topo de desenvolvimento e produção de produtos de qualidade e alta tecnologia nas mais diversas áreas.
Se não temos no Brasil, lamentavelmente, um plano A claramente definido para o crescimento e o futuro do país, cabe a nós olharmos para nossos empreendedores como um possível plano B, não menos importante, para se desenhar um caminho mais auspicioso para a nação (eis aí mais uma oportunidade para me picharem de ufanista). Mais do que exaltar as óbvias virtudes empreendedoras desses vencedores, porém, é invocá-los para que se tornem fontes inspiradoras. Entendo que essa seja uma de suas grandes responsabilidades: motivar e liderar a emersão de novos pares.
"A maioria das pessoas acredita apenas no que vê, mas empreendedores e líderes de verdade primeiro acreditam e depois veem. Nós acreditamos no futuro daí iremos ao futuro."
Há tempos venho modestamente espalhando essa fagulha na advocacia, quando falo aos futuros advogados que, além de pensar no diploma, é preciso desenvolver um comportamento jurídico empreendedor, como já destacou lá atrás o psicólogo americano David C. McClelland, que dedicou sua vida ao estudo do comportamento empreendedor.
Empreender gera empregos, faz crescer a economia, alavanca o PIB, distribui renda e torna as pessoas mais felizes.
Além dos meios, é preciso difundir o conhecimento e a cultura empreendedora. Isso já se sabe e se fala há décadas, mas não desenvolvemos plenamente esses quesitos tão fundamentais quanto o ar que respiramos, se nós não abandonarmos definitivamente a velha ideia de que se nasce empreendedor.
As características empreendedoras podem ser desenvolvidas. Obviamente, distante da glamorização do termo, sabe-se que há fortes amarras que precisam ser desfeitas no país – de financiamento, regulação, infraestrutura, capacitação, entre outras carências inadmissíveis nesta era digital. Todos esses aspectos, porém, podem ser ultrapassados diante da pressão em desburocratizar, desfazer sistemas jurídicos complexos e caros e em reinventar processos que facilitem o empreendedorismo. Aqui vale uma referência à recente Lei da Liberdade Econômica, um grande passo para diminuir a intervenção estatal nas atividades econômicas brasileiras.
No fim de setembro, durante um evento sobre empreendedorismo tecnológico, Jorge Paulo Lemann disse que, se fosse jovem, se dedicaria totalmente a criar startups. “O país está cheio de oportunidades e de empreendedores querendo encontrá-las”, disse Lemann.
Palavras do segundo homem mais rico do país. Fica a dica.
Nelson Wilians é CEO da Nelson Wilians & Advogados Associados
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