Com frequência, analistas perguntam quais são as causas do sucesso da agropecuária brasileira quando comparada com os demais setores da economia.
Foram quatro fatores internos e um externo.
Os internos: tecnologia tropical sustentável criada em nossos institutos de pesquisa públicos e privados, área para crescer horizontalmente, gente capaz em todos os elos das cadeias produtivas e algumas políticas públicas.
Sobre tecnologia: nos últimos 30 anos, por exemplo, a área plantada com grãos cresceu 74% enquanto o volume produzido aumentou 346%. E o mais expressivo: hoje cultivamos 66 milhões de hectare/ano com grãos; se tivéssemos a mesma produtividade de 30 anos atrás, seriam necessários mais 103 milhões de hectares para conseguir a colheita recorde de grãos (mais uma!) de 2020. Em outras palavras, 103 milhões de hectares de cerrados, matas e outros biomas foram preservados: isso é sustentabilidade de fato!
Quanto à terra disponível, segundo a Embrapa, ainda temos mais de 65% do nosso território coberto por vegetação nativa, e apenas 9% dele é ocupado com todas as plantas cultivadas, de alface a eucalipto. Mais 21% são pastagens. E o avanço tecnológico da pecuária brasileira está liberando terras para agricultura de alimentos, desobrigando-nos de desmatamentos na Amazônia e em outros biomas.
Sobre gente: enquanto na Europa e na Ásia os agricultores não encontram sucessores, no Brasil há uma nova geração de jovens bem preparados no campo, inclusive para a gestão inovadora da agricultura 4.0 determinada pela digitalização e conectividade.
No que diz respeito a políticas públicas, destacam-se o Moderfrota, que permitiu a renovação do parque de máquinas agrícolas sucateado no final dos anos 90, e a queda das taxas de juros reais.
A tragédia da Covid-19 trouxe duas gigantescas questões para um futuro imediato: segurança alimentar e sustentabilidade. Ambas passam pela agropecuária, e o Brasil saiu na frente: foi um dos poucos países a aumentar exportações de alimentos em plena pandemia. Exportamos mais soja, carnes e açúcar, mostrando competitividade e driblando a problemática logística e a burocracia.
Houve também o importante fator externo: a crescente demanda de países consumidores, especialmente asiáticos (com ênfase para a China), que estimulam a expectativa do papel protagonístico do agro brasileiro no combate à fome nos próximos anos.
Estudos da OCDE e do USDA coincidem em que, para acabar com a fome no mundo em dez anos, a oferta de alimentos precisa crescer 20%. Para isso acontecer, e pelas mesmas razões acima descritas, o Brasil precisa aumentar suas exportações de alimentos em 40% no período.
Será possível isso, transformando o Brasil no campeão mundial da segurança alimentar e, por conseguinte, da paz, visto que esta não acontecerá enquanto houver fome?
Sim, desde que resolvamos velhos problemas de infraestrutura e logística, desde que tenhamos uma diplomacia capaz de organizar acordos bi ou multilaterais com países ou grupos deles (como o sonhado entre UE e Mercosul), e desde que resolvamos certos temas que mascaram nossa competitividade, como desmatamentos ilegais, incêndios criminosos, invasão de terras, descumprimento de contratos. São ilegalidades cometidas por aventureiros, mas servem a interesses de concorrentes para nos tirar mercados. E temos ainda que implementar o Código Florestal e legalizar a estrutura fundiária na Amazônia. Isso feito, mostraremos o que realmente somos: uma potência agrícola e uma potência ambiental.
Roberto Rodrigues é coordenador do Centro de Agronegócios da Fundação Getulio Vargas
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