Se há uma palavra que representa o que vivemos desde o início da pandemia é resiliência. O conceito não é novo. Ao contrário, ele vem da física. O que é novidade relativamente recente é a aplicação dele no campo da saúde mental.
Resiliência, na física, é a propriedade que alguns corpos têm e que os fazem ser capazes de retornar à forma original após terem sido submetidos a uma deformação. Aplicada à saúde mental, poderíamos dizer que resiliência é a capacidade que alguns de nós têm – ou constroem – de nos tornarmos maleáveis ao ponto de não nos deixarmos quebrar. Nada mais pertinente para estes tempos bicudos, que parecem testar diariamente a nossa capacidade de adaptação e de enfrentamento as adversidades.
O modo como navegamos em tempos de crise depende grandemente de quão resilientes somos. Podemos escolher deixar o barco ser pego pela tempestade e sair dela com o corpo quebrado e a cabeça girando ou podemos lançar o nosso barco na água com as velas erguidas e a mão firme no leme, de modo a não deixar a tempestade jogar o navio para lá e para cá ao seu bel prazer.
Pesquisadores vêm estudando a resiliência humana há um bom tempo. A ciência tem proposto que ela é ditada por uma combinação de história pessoal, ambiente e contexto. Eu diria que resiliência é decorrente de duas competências que cultivamos ao longo de nossa história pessoal: flexibilidade e rapidez.
Por flexível, eu me refiro ao fato de aceitar que somos limitados, que não sabemos tudo e que vivemos num mundo caótico. O professor de um antigo professor meu dizia uma frase que representa grandemente essa aceitação de nossa limitação: “confie na fraca força do seu braço forte”.
Mesmo tendo um braço dominante e mais forte, ele não é capaz de dar conta de tudo. Ele tem a sua fraqueza também. Admitir a nossa própria é um dos mecanismos para ganhar flexibilidade psíquica e emocional. Aceitar a nossa vulnerabilidade faz parte do pacote.
Quanto mais rígidos formos em relação a nós mesmos e ao embate contra situações adversas, menos vamos ter a capacidade de vergar e retornar ao normal. Possivelmente racharemos.
Rapidez é outra competência fundamental. O mundo necessita de respostas rápidas; temos de estar preparados para dá-las.
Podemos fazer uso de algumas ferramentas para ganhar mais resiliência, como, por exemplo, procurarmos não entrar no “modo lamentação”, que tende a nos paralisar. Espiritualidade e otimismo – otimismo realista – são outras das ferramentas à nossa disposição.
Há uma frase de uma música do cantor Belchior – “Sujeito de Sorte” – , recentemente regravada pelo músico Emicida, que, para mim, é uma metáfora do que significa resiliência: “ano passado eu morri, mas este ano não morro”.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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