O que realmente acontece às 23h59 do dia 31 de dezembro, quando os últimos segundos do ano terminam? Absolutamente nada. São segundos como outros quaisquer. Não há mágica, nem milagres e tampouco algo novo de fato começa. Só mais um dia como os outros 364. Mas então por que as pessoas gostam tanto de um Réveillon? Por que elas celebram esse momento mundo afora? Por que vivenciam aqueles segundos de transição com tanto entusiasmo e emoção?
Voltando para o passado, tudo começou no ano 46 a.C., por meio de um decreto do líder romano Júlio César, que estabeleceu o 1º de janeiro como o “dia do Ano-Novo”. Os romanos – notadamente politeístas – dedicavam esse dia a Jano, o deus dos portões. O mês de janeiro deriva de Jano, uma entidade que tinha duas faces – uma voltada para a frente, visualizando o futuro, e a outra para trás, vendo o passado.
Recentemente, 1º de janeiro voltou a ser o primeiro dia do ano na cultura ocidental. Até 1 751, na Inglaterra e no País de Gales e em todos os domínios britânicos, o ano novo começava em 25 de março. Desde então, o 1º de janeiro tornou-se o primeiro dia do ano.
Ao longo da expansão da cultura ocidental, para muitos outros lugares do mundo, durante séculos recentes, o calendário gregoriano foi adotado por outros países como o calendário oficial, e a data de 1º de janeiro tornou-se o marco global de um novo ciclo, mesmo em países com suas próprias celebrações em outros dias como Israel, China e Irã.
Logo, o primeiro dia de janeiro como data oficial de nascimento de um novo ano, para simplificar, é resultado de uma canetada do imperador romano, hoje adotado por quase todos os países do mundo e adaptado a suas tradições e culturas. Pois é, mesmo sabendo que essa data icônica foi resultado do gesto autocrático de um burocrata ditador, e mesmo ciente de que nada de mágico acontece nos últimos segundos da “virada”, eu continuo amando o Réveillon. E me atrevo a filosofar: a magia desse momento tem a ver com a inundação de esperança que ele provoca em nossos corações e mentes. Mais do que nunca, precisamos de esperança. Precisamos acreditar que dias melhores estão chegando.
Gosto de definir esperança como um sentimento de convicção tão forte sobre o que se espera no futuro que ele é capaz de alterar o modo como vivemos no presente – e até como nos sentimos em relação ao nosso passado. Na linguagem financeira, é trazer motivação do futuro descontado para valor presente. É se apropriar agora de algo que você enxerga como muito possível de acontecer mais adiante. Não por acaso, a frase popular “a esperança é a última que morre” faz alusão à ideia de já estarmos “mortos” se não tivermos sequer um fio de esperança a nos conduzir adiante. A esperança é profilática, ajuda em nossa saúde emocional, alegra o nosso dia e arranca até dos mais chatos e rabugentos sorrisos e suspiros.
Não importa se a origem desse momento único não é lá muito romântica. Sempre gostei de fazer a contagem regressiva e, apesar das restrições de um ano tão atípico, com muitos abraços e beijos nas pessoas que amo e que estão comigo todos os dias (minha mulher e meus três filhos) – nas demais pessoas queridas, mas não tão próximas, abraços e beijos virtuais. Apesar de toda essa loucura que nos cercou em 2020, sempre vou fazer planos e acreditar que agora será diferente, que vou ser uma pessoa melhor, que não vou cometer os mesmos erros e que serei alguém mais próximo dessas pessoas tão importantes. E torcer para que o mundo volte a ser um lugar onde possamos respirar sem medo. A esperança precisa renascer em todos nós. Que ela seja sempre bem-vinda. Feliz 2021!
Flávio Augusto da Silva Presidente da Wiser Educação e dono do time de futebol Orlando City
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