Existe um conceito plantado na cabeça de uma parcela da população, de que o agro é um setor predador da natureza, isto acontece, porque como ocorre em outros setores, uma pequena parte de produtores rurais não cumpre as leis ambientais, manchando assim, o setor como um todo.
Entretanto, a maioria esmagadora do agro trabalha dentro da lei e tem se posicionado contra o desmatamento ilegal e assim como a sociedade, querem que quem desmata ilegalmente seja punido.
Os produtores em dia com a nossa lei ambiental, se revoltam quando existe aumento no desmatamento, defendem o cumprimento do Código Florestal e o desmatamento ilegal zero. Existe enorme desinformação sobre como o agro funciona e é tempo do setor parar de se defender e abrir o diálogo, trazendo a sociedade para perto, mostrando o agro de verdade, que preserva, enquanto produz.
Como funciona isso de preservar enquanto produz?
Pode parecer impossível conciliar preservação e produção, tanto que somente os produtores rurais brasileiros têm, dentro das propriedades, áreas de proteção ambiental juntamente com as áreas de produção. Produzir, vários países produzem, mas no Brasil, meio ambiente e produção caminham juntos.
Nossos produtores rurais têm que seguir a lei ambiental brasileira, chamada Código Florestal, que garante uma produção agropecuária entre as mais sustentáveis do mundo. O Código Florestal determina que todas as propriedades rurais do Brasil, sem exceção, preservem. Dependendo da região onde estão localizadas, a preservação chega a ser de 80% em imóvel situado em área de florestas, 35% em área de cerrado e 20% nas demais áreas.
Cada uma das milhares de propriedades rurais do Brasil tem uma reserva, que se chama Reserva Legal, RL. A reserva deve ser cercada, preservada, fiscalizada pelo produtor para a manter livre de caçadores, pescadores, ladrões de madeira, tudo às custas do produtor. Nesta área não se pode plantar ou criar animais.
Além da Reserva Legal, também existem as APPs, Áreas de Preservação Permanente, que são áreas protegidas com a função de conservar as matas ciliares dos rios, facilitando o fluxo dos animais, protegendo o solo ao redor dos rios contra a erosão, evitando assim o assoreamento dos mesmos.
A proteção ambiental, vem antes da produção no Brasil. Sem área de proteção ambiental, o produtor não tem acesso a crédito, tem enorme dificuldade de comercializar sua produção e não consegue registrar a escritura de sua propriedade, portanto, não consegue vender a sua propriedade. Ele precisa ter a RL, a APP e o Cadastro Ambiental Rural para provar isto. O Cadastro Ambiental Rural, CAR, é um registro público obrigatório que tem como finalidade juntar as informações ambientais da propriedade para fiscalização, planejamento ambiental e combate ao desmatamento.
Quando se fala em preservação, vem a pergunta, quanto o agro preserva?
De acordo com a Embrapa: “Em fevereiro de 2018, agricultores, pecuaristas, silvicultores e extrativistas destinavam à preservação da vegetação nativa mais de 218 milhões de hectares, o equivalente a um quarto do território nacional (25,6%)”. O centro de pesquisa estimou o valor do patrimônio fundiário imobilizado em preservação ambiental e chegou à cifra de R$ 3,1 trilhões. Portanto, R$ 3,1 trilhões de reais é o valor que os produtores rurais brasileiros tem imobilizado, investido em preservação. Não existe outro setor na economia brasileira com tamanho comprometimento financeiro em preservação do meio ambiente.
A desinformação tem raízes profundas, as crianças aprendem nas escolas sobre um agro de 50, 80 anos atrás ou mais, retratando trabalho escravo, grilagem de terra, uso inadequado de defensivos, queimadas predatórias e outras atividades criminosas, como se fossem usuais, quando na verdade, estas atividades são condenadas pela enorme maioria dos produtores rurais. Não se nega que existam problemas, os produtores querem se distanciar destas pessoas, grileiros, garimpeiros e madeireiros ilegais, que são criminosos, não produtores rurais.
Se até a década de 70 se obtinha aumento de produtividade somente através de pecuária extrativista e abertura de novas áreas, hoje o cenário é completamente diferente. O aumento da produtividade é obtido de maneira sustentável e legal, através da implementação de ferramentas de gestão nas propriedades, recuperação de pastagens degradadas, seleção de cultivares adequados, pressão de seleção genética, sistemas como Integração-Lavoura-Pecuária-Floresta e aumento maciço em tecnologia e pesquisa.
Desenvolvimento honesto e sustentável é uma questão de sobrevivência econômica no agro e quem não se adequar, está fora do mercado.
A imagem do agro no Brasil e exterior tem sido prejudicada pela associação ao desmatamento. É hora de nós, brasileiros, mostrarmos o agro de verdade, que preserva enquanto produz.
Helen Jacintho é engenheira de alimentos por formação e trabalha há mais de 15 anos na Fazenda Continental, na Fazenda Regalito e no setor de seleção genética na Brahmânia Continental. Fez Business for Entrepreneurs na Universidade do Colorado e é juíza de morfologia pela ABCZ. Também estudou marketing e carreira no agronegócio. E-mail: [email protected].
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