Somente quem está dentro da porteira ganha com o excelente momento que o agro está vivendo? Questões como esta surgem a todo momento, porém com um olhar mais atento às notícias, observamos manchetes como: agricultura 4.0, agtechs, ferrovias, portos amazônicos e por aí vai. Isto nos mostra que o agro tem construído em torno de si uma rede complexa de serviços, visando atender as demandas do setor. Tudo está interconectado, são milhões de empregos e imenso potencial de crescimento de serviços, logística e indústria, na esteira do agro.
O agronegócio tem garantido uma posição de destaque como setor de maior vigor e competitividade na economia brasileira e como consequência, tem sido uma alavanca para o surgimento de uma rede de serviços para suprir os gargalos ainda existentes no setor.
Devido a busca pelo aumento de produtividade sem abertura de novas áreas, o que geraria impacto no meio ambiente, existe uma busca incansável por parte dos produtores, pesquisadores e indústrias por novas tecnologias. Com a modernização da agropecuária, os serviços vão desde equipamentos conectados nas lavouras e biotecnologia a serviços mecânicos, de manutenção, de internet, informática, armazenamento, consultoria, vários tipos de modais de transporte de cargas, entre outros.
Aquela ideia de que o agro gera riquezas somente para quem está dentro da porteira não poderia ser mais desatualizada; historicamente, o produtor é o que menos ganha, porém a sociedade ganha muito com a roda do agro girando e alavancando novos negócios.
A primeira área que avança graças ao progresso do agro é a conectividade. A agropecuária tem adotado alta tecnologia que eleva a eficiência dos sistemas produtivos, mas a conectividade, que poderia ser um acelerador dos processos, ainda é um grande gargalo.
O agro acelera o processo de conectividade, que é essencial para que o Brasil dê o próximo salto em produtividade, pois as máquinas agrícolas atuais são equipadas com computadores e sensores que captam informações em tempo real e necessitam de internet para que estes dados sejam enviados e lidos para que assim decisões possam ser tomadas em tempo real. Existe necessidade de tráfego de dados no campo e os produtores bem capitalizados estão dispostos a fazer investimentos.
Dados do Censo Agropecuário do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2017 mostram que somente 41% das propriedades rurais brasileiras têm acesso à internet.
Mas isto está a caminho de mudar. Em recente reunião com representantes das operadoras de telecomunicação, o ministro das comunicações, Fábio Faria, destacou: “O agrobusiness é o nosso principal vetor de crescimento e tem segurado o nosso PIB. Essa é a principal atividade que necessita de conexão e com o 5G no agro, vamos ter uma melhora de crescimento do setor. Nós estamos muito focados nisso, vimos que as empresas estão olhando muito para o agro”.
Devido a demanda do agro, há previsão de elevar a conectividade rural no país, beneficiando milhões de pessoas.
A segunda área alavancada pela agropecuária é o setor de tecnologia voltada para o agro, conhecido como Agricultura 4.0. Existe um potencial imenso de desenvolvimento e aplicação de tecnologia desde o plantio, manejo, colheita e pós-colheita, abrangendo todas as etapas do processo produtivo, como sensores para análise do solo, estações agrometeorológicas automatizadas, imagens de satélites de alta resolução para monitoramento agrícola e florestal, sistemas e aplicativos voltados à estimativa de produtividade, rastreabilidade e certificação dos produtos agrícolas e etc, explica o engenheiro agrônomo Guilherme Belardo.
Caminhando junto, alavancadas também pela roda do agro, estão as Agtechs, startups focadas em soluções digitais para o agronegócio. De acordo com a Abstartups (Associação Brasileira de Startups), nosso país possui 354 Agtechs. Existem empreendedores produzindo equipamentos e sistemas que vão desde suporte à agricultura de precisão, com monitoramento das lavouras, acompanhamento de temperatura e de umidade, presença de pragas, radiação solar, passando por gestão, maquinário acessível, transporte e comercialização, aumentando assim a eficiência e reduzindo os custos.
Devido a expansão do setor e aumento na produtividade, o agro pressiona também a expansão da infraestrutura. A expectativa é que se dobre a participação das ferrovias no transporte da safra. No ano passado, foi leiloada a ferrovia Norte/Sul com 1.537 quilômetros indo de Porto Nacional (TO) a Estrela d’Oeste (SP). Outra ferrovia, a Fico (Ferrovia de Integração do Centro-Oeste), ligará o município de Campinorte (GO) até Lucas do Rio Verde (MT), com mais de 518 quilômetros. A Ferrogrão será licitada este ano e ligará Sinop (MT) a Miritituba (PA), com 933 quilômetros de extensão. Sua implementação consolida o corredor ferroviário de exportação do Brasil pelo Arco Norte, ligando o Norte de Mato Grosso até o porto paraense, pontuou o portal Agrolink.
Já os portos Portos Amazônicos, do chamado “Arco Norte”, localizados nas cidades de Barcarena (PA) e Porto Velho (RO), hoje já são responsáveis por 50% do escoamento da produção de soja e milho. Para se ter uma ideia da economia, o embarque da soja vinda do MT nos portos amazônicos fica quase metade do preço e da distância quando comparado ao porto de Santos.
Respondendo a pergunta, fica claro que a riqueza gerada dentro da porteira é multiplicada muitas vezes fora da porteira, gerando milhões de empregos para brasileiros e alavancando novos negócios por todos os cantos do Brasil.
Helen Jacintho é engenheira de alimentos por formação e trabalha há mais de 15 anos na Fazenda Continental, na Fazenda Regalito e no setor de seleção genética na Brahmânia Continental. Fez Business for Entrepreneurs na Universidade do Colorado e é juíza de morfologia pela ABCZ. Também estudou marketing e carreira no agronegócio. E-mail: [email protected].
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