Conversar com Alexandra Forbes equivale a um bom brinde. Editora e crítica de gastronomia, bebidas e vinhos há 30 anos – com passagens pelo “Jornal da Tarde”, “Exame VIP”, “Folha de S.Paulo” e, atualmente, “GQ Brasil” e “O Globo” – ela discorre sobre sua expertise não apenas com conhecimento de causa, mas também fornecendo dados de pesquisas e estudos, citando exemplos práticos e muitas lembranças de entrevistas e encontros com profissionais estrelados da área. Tudo gente de sucesso, como ela.
Filha de pai brasileiro e mãe canadense, de Quebec, Alexandra hoje vive em Bordeaux, a célebre região vinícola francesa. Seu marido, Pierre Lurton, é presidente dos chateaux Cheval Blanc e d’Yquem – parte do conglomerado de luxo LVMH – além de produzir em seu próprio chateau. “Eu também já produzi um vinho, mas é algo particular, para consumo próprio e, principalmente, para tirar a teima de tudo que vi e aprendi durante esse tempo todo como jornalista da área. Cheguei a fazer um merlot maravilhoso, no método totalmente natural, inclusive pisando nas uvas. Minha filha e eu”, revela.
Por falar em tempo de trabalho, ela faz questão de dar crédito aos mentores que encontrou em sua trajetória, como o casal Lilian Pacce e Leão Serva, Marco Antonio de Resende e o icônico crítico gastronômico Saul Galvão, do não menos icônico “Jornal da Tarde”. “Tive o privilégio de, aos vinte e poucos anos, começar fazendo crítica ‘comme il faut’”, diz orgulhosa. E pensar que tudo começou porque ela, formada em literatura inglesa, queria apenas ser repórter em algum jornal de grande circulação.
Já a trajetória como conhecedora de vinhos começou em casa mesmo. “Meu pai, Geraldo Forbes, foi um dos primeiros colecionadores de vinhos franceses no Brasil. Ele foi a minha grande escola”, conta. Assim, desde muito jovem ela já participava de sessões de degustação: “Eu costumava ser a única mulher nesses encontros”, diz lembrando que, na época, a figura do crítico de vinhos ainda era a de um “senhor bigodudo e barrigudo”. Detalhe luxuoso: o pai de Alexandra costumava caçar codornas na Escócia, com lorde Forbes. De leve…
A seguir, Alexandra Forbes faz observações, conta novidades e dá dicas preciosas sobre vinhos.
In vino veritas
“Produzir vinhos é basicamente um ofício de fazendeiros.”
Da lata
“O mercado de vinhos em lata está bombando. E, assim como o vinho em garrafa, existem os muito ruins, os bons, os ótimos e os excelentes. Trata-se de uma questão de tecnologia e praticidade, assim como foram as garrafas de tampa rosqueada. Com a pandemia, muita gente está consumindo vinho sozinho em casa, então substitui-se todo o ritual da garrafa, do saca-rolha e da taça por algo que você pode abrir com uma mão enquanto tecla no Zoom com a outra. Durante meses pesquisei as latinhas e encontrei diversos níveis de categoria e qualidade. Existe um muito bom que é o americano Ramona, produzido pela sommelière Jordan Salcito, que trabalhava no restaurante Momofuko Ko, em Nova York. No Brasil, eu destaco o Mysterius, da vinícola Guatambu. Mas há também o Arya – a lata é muito chic – o Lovin’Wine e o produzido pela Miolo. A revista inglesa “Decanter”, a mais respeitada publicação do setor, fez uma grande matéria sobre os vinhos em lata, avaliando 12 marcas diferentes. Alguns chegaram a atingir 80 e 90 pontos na cotação da revista.”
Bar sóbrio
“O problema em tirar o álcool do vinho é que junto também vão os elementos olfativos e gustativos. Fica sem sabor, sem aroma, sem graça. Mas, como eu disse, é tudo uma questão de tecnologia. O vinho ainda não chegou no estágio que chegaram, por exemplo, as cervejas sem álcool. Existem algumas maravilhosas no mercado. Sei disso porque fiz uma ampla pesquisa e cheguei a montar um bar sóbrio aqui em casa, só com bebidas sem álcool e degustei tudo. Acredito que os vinhos ainda vão chegar lá. É algo que o consumidor está pedindo.”
Jogando verde
“Sobre vinhos orgânicos, o que existe é muito greenwashing (marketing e relações públicas para a apropriação de virtudes ambientalistas). Vários produtores se dizem ‘verdes’, mas quando a gente vai na vinícola, não tem cachorro, nem ovelha e nem uma macieira sequer. É só monocultura e processo industrial. A moda do momento é a biodinamia, que seria o orgânico ++. Aquele tipo que você vai fazer a degustação, prova o vinho, diz que não está bom e o produtor se defende: “Ah, mas isso é porque você provou em um dia ‘não fruta’”.
Terroir verde e amarelo
“Os vinhos brasileiros evoluíram absurdamente, mas ainda enfrentam um problema que é tentar emular o produto europeu. Mas isso faz parte do processo de evolução, até se chegar a desenvolver um estilo. Porém, existem vários produtores apresentando um vinho de qualidade, personalidade e brasilidade. Para mim, o futuro do vinho brasileiro de qualidade no Brasil não está na Serra Gaúcha, porque chuva em excesso e vinho de qualidade não podem coexistir. Já a Campanha Gaúcha, na fronteira com o Uruguai, é muito boa. Mas a ideal é a região entre São Paulo e Minas Gerais. A Serra Gaúcha ganhou fama porque os imigrantes que foram para lá, italianos e alemães, trouxeram o costume de fazer o próprio vinho, assim como plantavam, criavam porcos e galinhas. Era parte da cultura deles.”
Vinho da casa
“No Brasil, a vinícola Guaspari é um exemplo seguido por muitos e produz o bom Vale da Pedra. No quesito evolução, marketing e conquista de mercado, destaco o trabalho da Miolo, que chegou a um patamar internacional que nenhum outro produtor brasileiro chegou. E o melhor espumante tipo champenoise produzido no Brasil, sem dúvida, é da Cave Geisse.”
Chile X Argentina
“Há muitos bons vinhos argentinos, mas fico com os chilenos, principalmente os produzidos no sul do país. Quanto mais perto da Patagônia melhor. Essa região apresenta uma grande amplitude térmica – a variação de temperatura entre o meio-dia e a noite – o que é fundamental para a produção de um bom vinho.”
Negócio da China
“A maior novidade são os vinhos da China. Na região próxima ao Nepal, onde existem montanhas e um clima propício, estão fazendo coisas muito respeitáveis. O mundo ainda não se ligou.”
Abaixo, uma seleção de sucesso da expert a tempo de um brinde no Dia dos Namorados:
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Divulgação Espumante Cave Geisse
Encontrado entre R$ 108,90 e R$ 158,90
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Divulgação Espumante Ponto Nero Cult SO2 Free
Encontrado entre R$ 55 e R$ 83
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Divulgação Vinho em lata da vinícola Guatambu, em duas versões:
O Mysterius Veraz é um vinho tinto seco (com 14% de graduação alcoólica) e “surpreendente”, um corte de Cabernet Sauvignon, Tempranillo e Tannat.
O Mysterius Intuição é um sedutor espumante (com 11,5% de graduação alcoólica), “com aromas, borbulhas e todo o frescor”
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Divulgação Vinho tinto Vale da Pedra, da vinícola Guatambu
Encontrado entre R$ 112 e R$ 119
Espumante Cave Geisse
Encontrado entre R$ 108,90 e R$ 158,90
Donata Meirelles é consultora de estilo e atua há 30 anos no mundo da moda e do lifestyle.
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