A família é um agrupamento de pessoas formado por duas ou mais pessoas com ligações biológicas, ancestrais, legais ou afetivas.
A empresa é construída por meio de um trabalho coletivo de um grupo de pessoas dedicadas a uma atividade econômica organizada com a finalidade de fazer circular ou produzir bens ou serviços.
A governança familiar é o sistema pelo qual a família empresária, aquele agrupamento de pessoas mencionado acima, se relaciona com seus negócios e seu legado.
É sobre pessoas, sempre sobre pessoas.
Quando uma família empresária começa a implementar regras e conceitos de governança, irá se deparar com essas pessoas, suas expectativas, sua visão sobre a família, sobre o negócio e sobre seu papel dentro desse sistema.
É fundamental entender que nem todo mundo estará pronto para esse processo. Algumas pessoas vão ouvir os conceitos, as informações a respeito da implementação da governança e terão total concordância com a abordagem. Elas vão se engajar nos comitês, vão almejar ocupar papéis no Conselho de Família e vão entender claramente o ganho desse processo para o legado familiar.
Mas, da mesma forma, talvez em um mesmo núcleo familiar, um outro irmão vai achar tudo que está sendo proposto um esforço desnecessário, um engessamento das relações, vai apontar que estão burocratizando a família, que estão sendo legalistas ou ditatoriais quando uma norma é imposta.
Existem também as pessoas da família que não vão nem emitir nenhuma opinião: vão apenas não se engajar ou se comprometer com o processo.
Seria muito fácil dizer: trabalhe com quem está em convergência com o processo. Mas isso não é governança.
A governança familiar exige abertura consistente para o diálogo, disponibilidade de explicar com paciência, a cada membro, as razões de cada decisão, constância nessa abertura para que, a qualquer momento que um novo familiar tenha interesse e motivação de buscar uma aproximação, às pessoas envolvidas possam estar abertas para acolher esse movimento.
A família está sempre em movimento, está sempre em evolução e transformação. As crianças crescem, transformam-se em adultos, casamentos acontecem, novos núcleos família se iniciam, novos bebês nascem, pessoas envelhecem, perdas acontecem e, nesse ciclo da vida, os conceitos que suportam o sistema vivo devem também ser dinâmicos.
Durante estes últimos dez anos que atuei com famílias empresárias, pude notar, na prática, que as famílias são um manancial de talentos, diversidade, possibilidades: múltiplas lideranças e potencialidades em constante movimento. Vi a aproximação de jovens se tornando adultos, querendo entender melhor do legado de sua família, pude ver familiares optarem por se afastar da governança por não enxergar sentido nas decisões tomadas, e pude ver novas lideranças brotarem de onde menos se esperava, assumindo posições, demonstrando talentos não percebidos anteriormente.
E é muito comum que quem está na linha de frente da governança, se dedicando, quase sempre de maneira voluntária, para a construção dessa celebração de acordos, da definição de regras, de papéis norteadores para a perenidade dos negócios tenha dificuldades de lidar com os desgarrados.
Sempre digo: nunca desista de nenhum familiar, continue convidando, continue se envolvendo, continue explicando: informação e conhecimento compartilhados multiplicam-se. É a mentalidade de abundância de que quanto mais se dá, mais se tem.
Afinal, quem pode dizer quais sementes plantadas irão germinar? E quando?
Flávia Camanho Camparini Consultora em governança familiar e estratégia de desenvolvimento humano, fundadora do Flux Institute e partner facilitator dos programas do Cambridge Family Enterprise Group e do IBGC
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