Há muita retórica sobre as práticas ambientais, sociais e de governança, sintetizadas na sigla ESG. O discurso é importante para sensibilizar o universo empresarial, sim, mas é preciso ir além das palavras. É por isso que, em vez de abordar o tema conceitualmente, permito-me contribuir para o debate citando iniciativas da Riachuelo, cujo Conselho de Administração presido. As medidas traduzem, na prática, minha percepção sobre essa agenda.
A sustentabilidade é fundamental para todos – para o ambiente, para a sociedade, para as empresas. A compra responsável de matéria-prima, por exemplo, é, além de iniciativa louvável, um bom negócio. Nossa estratégia se estende à cadeia de fornecedores, obrigados por contrato a cumprir um código de ética, com ênfase na observação da legislação trabalhista e na gestão do risco socioambiental. A cada ano, todos eles passam por auditorias sociais, de forma a garantir que os princípios estão sendo observados.
No ano passado, a Riachuelo lançou um selo para identificar seus produtos mais sustentáveis e se tornou signatária da Better Cotton Initiative, comprometendo-se a dobrar, neste ano, a utilização de algodão mais sustentável. Em março, pela primeira vez, todo o algodão adquirido tinha certificação da BCI. O grupo também intensificou o uso de corantes naturais nos tingimentos e integrou seu sistema de gestão de resíduos nacionalmente, reciclando mais da metade (53%) dos materiais gerados em suas operações, incluídos os resíduos têxteis.
A preocupação com o ambiente está expressa ainda na aplicação da ideia de economia circular, que tem o objetivo de estender o tempo de vida útil das roupas. Para tanto, a Riachuelo disponibiliza coletores de peças usadas. No ano passado, 96 lojas contavam com coletores, e a meta é chegar a todas as unidades neste ano. Dos itens depositados – blusas, casacos, vestidos e sapatos, entre outros –, quase 60% foram vendidos nos bazares da Liga Solidária, organização parceira da iniciativa, e um terço foi doado a populações em situação de vulnerabilidade. O restante foi destinado à reciclagem.
Adequar as empresas aos preceitos da ESG é uma tendência incontornável da administração contemporânea. Na Riachuelo, a orientação não vem de hoje. A ESG está no DNA da empresa. Em 2014, fui um entusiasta da implantação do projeto Pró-Sertão, uma espécie de ESG “avant la lettre”. Trata-se de uma parceria da Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte e do Sebrae com o governo do estado, que criou 5 mil empregos e beneficiou outras 50 mil pessoas na área do Seridó, na região semiárida.
Lá, em 50 pequenos municípios, foram implementadas nesses sete anos cerca de 70 fábricas para atender a várias marcas, inclusive a Riachuelo. De uma hora para outra, pessoas sem renda passaram a ter, pela primeira vez na vida, carteiras de trabalho assinadas. O programa capacita pequenos empreendedores em gestão – de finanças, pessoas e processos –, fortalecendo esse elo da cadeia têxtil, que cresce de forma sustentável e de acordo com os sólidos pilares de compliance.
A vida no Seridó não é mais a mesma. O silêncio do transporte com tração de jegue cedeu lugar ao ronco das motocicletas – e ninguém reclama do barulho, porque é apenas o sinal mais evidente da melhora da qualidade de vida. Cidades antes dependentes da água – que não vinha em quantidade suficiente para viabilizar a pecuária leiteira e produção de cerâmica – passaram a prosperar, independentemente do clima. Na Riachuelo, ESG vai muito além da moda.
Flávio Rocha é Presidente do Conselho de Administração do Grupo Guararapes
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