A economia brasileira superou todas as expectativas e, no primeiro trimestre, zerou as perdas registradas durante a pandemia. O Produto Interno Bruto no período cresceu 1,2% em relação aos últimos três meses do ano passado, de acordo com o IBGE. É um desempenho que obrigou muitos analistas a rever suas contas – na média, eles achavam que o país fosse ter expansão de apenas 0,8%. Para usar uma imagem popularizada por economistas, a recuperação acabou se revelando uma curva em V, e não em U.
A boa notícia não para por aí. Os indicadores financeiros também são positivos: os juros, apesar da expectativa de que tenham alguma elevação nos próximos meses, ainda continuam em patamares historicamente baixos. A taxa básica, a Selic, subiu ligeiramente, para 3,50% ao ano, mas ainda está muito longe dos dois dígitos que, durante muito tempo, sufocaram a economia.
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Quanto ao câmbio, reflete as condições econômicas: depois de ameaçar uma disparada em direção aos R$ 6, o dólar encosta nos R$ 5. O comércio exterior, puxado pela alta demanda das commodities, também vai bem. Em maio tivemos superávit de US$ 9,2 bilhões – um recorde para o mês.
Não é à toa que a Bolsa de Valores emerge como um dos investimentos mais promissores: o Ibovespa ganhou terreno, se estabeleceu na região dos 130 mil pontos e os analistas mais conservadores estimam que o ano fecha em não menos do que 145 mil pontos.
Reconhecer que o Brasil se saiu melhor do que se esperava, no entanto, não é o mesmo que afirmar que nossos problemas foram superados. Nada mais perigoso do que trabalhar com falsas premissas. Há obstáculos pela frente, sim, e é preciso identificá-los com realismo, se os quisermos evitar. Em primeiro lugar, o desemprego, que atinge quase 15% da força de trabalho, ainda não respondeu à melhora da economia. Em segundo, a inflação, acima dos 6% ao ano, se encontra acima da meta.
Os dois índices mostram que a população economicamente mais vulnerável ficou à margem da recuperação. Muitos estão sem renda. E os que obtêm algum rendimento percebem, na prática, a erosão do seu poder aquisitivo, sobretudo devido à alta dos preços de alimentos essenciais. É importante, por isso, que o governo estenda o programa de auxílio emergencial, e o faça dentro dos parâmetros da responsabilidade fiscal, pois a deterioração das contas públicas prejudicaria a sociedade como um todo.
Do ponto de vista estrutural, a solidez do processo de recuperação depende da realização das reformas que, por um ou outro motivo, continuam empacadas. Sem elas, o Brasil cresce muito aquém de suas possibilidades. A reforma tributária, para citar a mais urgente delas, poderia destravar os investimentos com a implantação de um regime moderno e descomplicado. A receita é conhecida – basta vontade política para torná-la realidade.
Do ponto de vista conjuntural, há a incógnita da pandemia. Novas cepas se espalharão? Serão mais letais? As vacinas disponíveis darão conta dessas variantes? São perguntas para as quais só o tempo dará a resposta. O que se sabe é que, no Brasil, a vacinação avança, e deve ganhar velocidade no segundo semestre, desenhando um cenário de cobertura total talvez até o final deste ano.
Com a pandemia sob controle e a economia crescendo – as projeções para o PIB deste ano subiram para até 5% – aumentam as chances de o Brasil manter as esquerdas longe do poder central em 2022. Não é por outro motivo que políticos jurássicos torcem pela execrável fórmula do “quanto pior, melhor”. Mas os ventos sopram na direção oposta. No bicentenário da Independência, o país fará jus à efeméride.
Flávio Rocha é presidente do Conselho de Administração do Grupo Guararapes
Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.
Coluna publicada na edição 88, lançada em junho de 2021
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